Apresentado no Festival IndieLisboa 2023, “Primeira Obra” é uma ficção semi-autobiográfica escrita por Sabrina D. Marques, a partir de uma ideia de Rui Simões, onde a realidade e a ficção se cruzam.
Produzido pela Real Ficção, o filme segue a história de Michel, um jovem estudante luso-descendente que investiga o cinema português da Revolução que ficou por cumprir, partindo do documentário “Bom Povo Português”, um dos primeiros filmes de Rui Simões, para traçar paralelismos com a contemporaneidade. “Em conversa com Simão, histórico cineasta, Michel procura respostas para o seu filme. Ao conhecer Susy, activista do ambiente, percebe que o amor é o caminho. Como sempre, a vida e o cinema misturam-se”, lê-se na sinopse oficial.
Gravado durante a pandemia, na zona do Ribatejo, esta é uma história de amor e amizade que coloca em paralelo a realidade do filme que vemos e a do PREC. “O que é que seria fazer hoje o Bom Povo Português?”, pergunta a personagem Michel ao realizador (interpretado aqui por António Fonseca).
Trailer PRIMEIRA OBRA from Real Ficção on Vimeo.
O elenco é composto por Zé Bernardino, Ulé Baldé, António Fonseca, Joana Brandão, Maty Galey, Beatriz Gaspar, Jean-Marie Galey e Alice Barros Simões. O filme conta ainda com a participação especial de Dalila Carmo, Manuel João Vieira, Miguel Seabra, Manuel Mozos, Adriana Queiroz, Isabel Ruth, Olga Roriz e Filipa Mayer.
Rui Simões contava à Lusa em 2020 que teve dificuldade em conseguir financiamento para este filme de ficção: “Não me posso queixar, gosto muito de fazer documentários, mas tenho pena de nunca ter feito ficção. Tenho pena de não ter conhecido os atores portugueses, não ter conhecido esse lado criativo que me foi impedido. Foi triste estar no cinema e não poder trabalhar com os criativos, com os atores. Esse lado no documentário não existe”.
O realizador completa 80 anos de idade no próximo dia 20 de março, dia em que fará a sessão de ante-estreia de “Primeira Obra”, na Cinemateca Portuguesa, às 19h, na sala M. Félix Ribeiro. A longa-metragem estreia comercialmente a 25 de abril nas salas de cinema nacionais.
Rui Simões é uma referência no documentário português, conhecido pelas obras políticas e sociais como "Deus, Pátria, Autoridade" (1975), "Bom povo português" (1980), “Ilha da Cova da Moura” (2010), “Guerra ou Paz” (2014) ou “Alto Bairro” (2014).
"Bom Povo Português”, que ilustra a situação social e política de Portugal durante o PREC, é provavelmente o seu filme mais conhecido e estudado. Através de imagens de arquivo e num registo poético somos guiados por uma voz, a de José Mário Branco, que nos narra em off um texto de Teresa Sá.
"O filme mexe com toda a gente, é muito crítico em relação à história do 25 de Abril [de 1974], a todos os partidos políticos e forças policiais. Embora seja o retrato da revolução e hoje considerado o grande filme da revolução, na altura foi muito mal interpretado pelos senhores do poder, fossem eles de esquerda ou de direita. Acabo por ser penalizado e durante aqueles 20 anos acabei por não conseguir apoio nenhum para nenhum tipo de filme, nem documentário nem ficção. Foi um castigo violento, muito forte", lembrou o realizador.