Rotatividade dos profissionais de Saúde provoca alarme a pais de crianças com cancro

15 de fevereiro 2024 - 12:31

Todos os anos são diagnosticados em Portugal cerca 400 novos casos de cancros pediátricos que, apesar da taxa de sobrevivência ser de cerca de 80%, continuam a ser a primeira causa de morte por doença entre crianças e adolescentes.

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Foto de stevanovicigor (EnvatoElements)

Na véspera do Dia Internacional da Criança com Cancro, a celebrar-se na quinta-feira, dia 15 de fevereiro, a diretora-geral da Associação Acreditar, Margarida Cruz, apela para a existência de mais centros de referência de oncologia pediátrica para sobreviventes de cancro pediátrico.

"Uma das iniquidades mais gritantes no caso dos sobreviventes de cancro pediátrico é não terem uma consulta de sobrevivência estruturada”, em todos os centros de referência (Hospital Pediátrico de Coimbra, IPO Porto e Hospital de São João) como acontece no Instituto Português de Oncologia de Lisboa, afirma Margarida Cruz.

O Instituto Português de Oncologia de Lisboa Francisco Gentil mostra ser, atualmente, o único centro regional de assistência a pacientes oncológicos a dar resposta terapêutica a sobreviventes de cancro pediátrico que terminaram o tratamento há mais de cinco anos, levando à crescente preocupação dos pais de pacientes oncológicos com a saída de profissionais de saúde e a degradação de um sistema de cuidados oncológicos do Serviço Nacional de Saúde que possa colocar em causa o tratamento dos filhos.

Margarida Cruz salienta que “até agora a qualidade do tratamento não está a ser colocada em causa”, mas reconhece que “esta rotatividade e esta dificuldade grande de repor as pessoas que entretanto saem são ameaçadoras do ponto de vista de ser uma preocupação para as famílias”.

A diretora-geral da Associação de Pais e Amigos das Crianças com Cancro, sublinha a importância da exequibilidade da Estratégia Nacional de Luta Contra o Cancro, Horizonte 2030, que entrou em vigor este ano, e que tem como um dos objetivos aumentar a equidade no acesso a cuidados de saúde, insistindo que a estratégia deve integrar as recomendações do Plano Europeu de Luta Contra o Cancro, que insta os Estados Membros a dar primazia ao cancro pediátrico, e espelhar as necessidades e especificidades desta área.

Para a Acreditar, a estratégia também devia garantir o acompanhamento dos filhos por parte dos dois pais, sobretudo em fases agudas da doença, e assegurar que os pais possam manter o rendimento que tinham antes do diagnóstico.

Com representatividade nacional, a Associação Acreditar – que existe desde 1994 – presta acompanhamento em todos os momentos da doença: diagnóstico, tratamento e pós-tratamento, tendo em 2023 acompanhado 711 famílias, através da atribuição de 1735 apoios, sobretudo económicos face à dificuldade das famílias em fazer faze ao aumnento das despesas.

“Muitas pessoas perdem o emprego”, mas sobretudo muitas veem diminuído o seu rendimento e acrescidas as despesas porque têm que se deslocar para tratamentos com os filhos durante bastante tempo e às vezes têm de manter duas casas, relata a Acreditar.

Para o ano de 2024, Margarida Cruz avança com um aumento de 30% para os apoios sociais, demonstrando, contudo, a sua preocupação que este não seja suficiente caso a situação nacional se mantenha.