Rendimento real em queda, mais de 250 mil portugueses têm de ter dois empregos

09 de fevereiro 2024 - 15:07

De 2022 para 2023, aumentou o desemprego, a precariedade e o número de pessoas que têm de acumular empregos. A desigualdade de oportunidade em Portugal está acima da média da União Europeia e é a profissão dos pais o fator que mais influencia as oportunidades dos filhos.

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Foto de Paulete Matos.
Foto de Paulete Matos.

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico divulgou esta quinta-feira os dados respeitantes ao rendimento real per capita revelando que, em Portugal, este caiu 0,28% no último trimestre de 2023. A queda neste indicador supera a da média da OCDE que se ficou pelos 0,2%.

O número reflete o poder de compra das populações e diz respeito ao rendimento disponível das famílias depois de serem retirados impostos e contribuições sociais pagos e calibrando-o à inflação.

Em 21 países da OCDE com dados disponíveis sobre esta matéria, dez sofreram quedas. A Espanha liderou as descidas com 2,1%, seguida da Áustria (-1,31%) e a Irlanda (-0,95%). Outros onze subiram, sendo os maiores aumentos na Hungria (5,5%), Polónia (2,91%) e Itália (1,45%).

No que diz respeito ao PIB per capita, a tendência em Portugal é igualmente de queda com menos 0,26% nos mesmos períodos do que o anterior indicador. O país fica neste indicador abaixo da média da OCDE que teve um crescimento de 0,3%.

Já nas grandes economias do espaço euro, Alemanha assistiu a uma queda do rendimento real das famílias per capita de 0,6% e do PIB per capita de 0,1% e a França teve uma descida de 0,1% nos dois itens.

251.100 pessoas com dois empregos

Esta sexta-feira, outro dado estatístico revelador da situação económica do país foi conhecido. Dados do Instituto Nacional de Estatística indicam que o número de trabalhadores que acumulam mais do que um emprego para conseguir pagar as contas chegou o ano passado a 251.100. Trata-se do número mais alto da atual série estatística que se iniciou em 2011.

Isto quer dizer que num ano, mais 16.200 passaram a acumular empregos, representando um aumento de 7%. A necessidade de ter dois empregos aumentou mais entre as pessoas que têm menos qualificações.

O mesmo conjunto de dados mostra que, pela primeira vez desde 2019, a precariedade subiu. Uma subida de 0,9%, cifrando-se o total de contratos a termo ou de prestações de serviços em 17,4% no ano passado segundo o INE.

Na quarta-feira, a mesma instituição tinha divulgado os dados do desemprego anual. Também aqui houve um aumento. Neste caso de 0,4%. Ficando a taxa total em 6,5%.

A média anual de população desempregada foi de 346,6 mil pessoas, uma aumento de 8,6% (27,5 mil) em relação a 2022.

Profissão dos pais principal fator de desigualdade de oportunidades

O Jornal de Negócios recorda esta sexta-feira ainda outros números importantes, estes sobre a desigualdade de oportunidades em Portugal que está acima da média da União Europeia.

Cita-se um estudo da Comissão Europeia publicado no início do ano que prova que é a profissão dos pais que mais influencia as oportunidades dos filhos. Esta circunstância tem um peso estimado 28%, superando outros fatores que também intervêm neste desigualdade como o local de nascimento, a idade, o género, a composição do núcleo familiar ou as limitações físicas. O peso da profissão dos pais na desigualdade só é maior na Roménia.

A partir de inquéritos feitos em 2005, 2011 e 2019, analisa-se as circunstâncias de partida de cada pessoa e os níveis de rendimentos.

De acordo com a Comissão Europeia: “por um lado, o impacto da educação dos pais tem-se reduzido, principalmente em resultado da expansão duradoura das políticas de educação, que pode ter limitado o impacto negativo da crise” mas, por outro, “a crise parece ter agravado o impacto da profissão dos pais, que principalmente determina a quantidade de recursos monetários (e não-monetários) que podem ser dedicados aos seus filhos para lhes garantirem um futuro melhor ou perspetivas de resultados melhores”.

No índice estabelecido pelos peritos de Bruxelas, Portugal tem uma desigualdade relativa de oportunidades de 14,29% (em 2011 era de 16%) que é a sexta mais elevada do espaço comunitário e fica acima da média deste que se cifra nos 12,64%. Na maior parte dos países o valor está em queda, sendo exceção a República Checa, Alemanha, França, Lituânia, Países Baixos, Roménia, Suécia e Eslováquia onde a desigualdade de oportunidades aumentou.

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