O balanço do primeiro dia dos protestos populares contra os violentos aumentos de preços dos produtos essenciais em Moçambique aponta para a morte de dez pessoas – entre elas duas crianças – e ferimentos em mais de 50. A polícia usou balas reais para dispersar os populares e há um registo vídeo de um homem a disparar uma carabina da janela de uma sede da Frelimo, contra a população na rua. Pelo menos 142 pessoas foram presas. Os protestos concentraram-se em Maputo, mas, segundo fontes ouvidas pela TSF, chegaram também à cidade da Beira.
A revolta popular foi provocada pelos violentos aumentos de preços: o pão subiu de 7 para 10 meticais, sendo que um salário baixo, em Moçambique, não ultrapassa os 2.500 meticais por mês. O aumento dos combustíveis foi o terceiro consecutivo – o litro de gasolina está quase a um dólar. Houve também aumentos das tarifas da água potável e da electricidade.
Os protestos nasceram de convocações por mensagens de SMS, a chamar para o dia 1 uma greve de protesto pelos aumentos. Barricadas foram montadas em Maputo, as estradas de acesso à capital foram bloqueadas e o sistema de transportes parado. A maioria das lojas permaneceu fechada, e houve assaltos de manifestantes a armazéns.
O presidente Armando Guebuza foi à televisão dizer que os “compatriotas que são usados nesta agitação estão exactamente a contribuir para trazer luto e dor no seio da família moçambicana”. Guebuza lamentou que “em vez de uma manifestação pacífica e ordeira assistimos a manifestações que se saldaram em óbitos e em feridos graves e que também resvalaram para cenas de vandalismo”. O chefe de Estado responsabilizou pela situação “factores externos que incluem a crise financeira, de alimentos e a subida dos preços dos combustíveis” no mercado internacional.
A Renamo, de oposição, condenou a utilização de balas reais contra os manifestantes e exigiu a demissão do ministro do Interior pelo Presidente da República. “Na Constituição da República não está prevista a pena de morte, se um cidadão cometeu alguma infracção o normal é ser julgado e condenado, mas não à pena de morte”, disse à Lusa Fernando Mazanga, porta-voz do partido.