Greenwashing

Os maiores bancos do mundo estão a ajudar a destruir a Amazónia

11 de junho 2024 - 16:24

Citibank, JPMorgan Chase, Itaú Unibanco, Santander e Bank of America concentram metade do financiamento direto a operações de exploração de petróleo e gás na região amazónica de países como o Brasil, Peru, Colômbia e o Equador. Ao mesmo tempo, fazem falsa propaganda sobre os seus compromissos ambientais, defende um estudo da rede indígena COICA.

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Parque Nacional de Anavilhanas, no Amazonas, Brasil.
Parque Nacional de Anavilhanas, no Amazonas, Brasil. Foto de Jason Auch/Wikimedia Commons.

Um relatório da Coordinadora de la Organizaciones Indígenas de la Cuenca Amazónica (COICA), rede que junta organizações dos nove países amazónicos e representa 511 povos indígenas locais, intitulado “Greenwashing the Amazon: como os bancos estão a destruir a floresta tropical enquanto fingem ser verdes” analisa como as políticas de gestão de riscos ambientais e sociais dos principais bancos que financiam a extração de petróleo e gás na Amazónia não têm em conta os impactos adversos dos seus financiamentos sobre as pessoas e a natureza.

De acordo com o documento, nos últimos 20 anos, seis bancos, Citibank, JPMorgan Chase, Itaú Unibanco, Santander, Bank of America e HSBC, concentraram quase metade (46%) de todo o financiamento direto a operações de exploração de petróleo e gás na região amazónica de países como o Brasil, Peru, Colômbia e o Equador.

Ao mesmo tempo que continuam a fazê-lo, com exceção do HSBC que parou desde dezembro de 2022, estes bancos afirmam que são defensores dos direitos humanos. Nas suas páginas de Internet, podem-se encontrar relatórios e diversos tipos de materiais publicitários, uma das formas das suas táticas de greenwashing “para mascarar a sua contribuição para os impactos adversos na Amazónia”, defendem estes especialistas.

Aqueles cinco bancos excluem 71% da Amazónia das suas políticas de gestão de risco no que diz respeito às alterações climáticas, à biodiversidade, à cobertura florestal e aos direitos dos povos indígenas.

A conclusão é que “com exceção do HSBC, as políticas de gestão de risco de nenhum dos bancos protegem de maneira suficiente os principais valores ambientais e sociais na Amazónia contra o risco de impactos adversos causados pelo setor de petróleo e gás”.

Para além disso, descobriu-se que “muitas transações financeiras são estruturadas de modo a minimizar a identificação, a categorização e a priorização dos valores ambientais e sociais nas políticas de gestão de riscos dos bancos”. Numa análise feita a mais de 560 transações envolvendo atividades de petróleo e gás na Amazónia conclui-se que 72% de todas as transações de financiamento de combustíveis fósseis ligadas ao setor de petróleo e ao gás “são estruturadas de forma a não permitir um processo de devida diligência detalhado”.

O estudo exemplifica ainda impactos nocivos das operações de petróleo e gás na Amazónia. Por exemplo, em 2021, a rutura de dois oleodutos deixou escapar quase dois milhões de litros de petróleo nos rios Napo e Coca, no Equador, tendo causado “graves impactos à saúde e ao meio ambiente, que devastaram as comunidades Kichwa”. No Peru, “mais de 250 derramamentos de petróleo no oleoduto Norperuano ameaçam a saúde e o bem-estar dos povos indígenas”. Ao mesmo tempo, os grandes bancos financiam a expansão de uma grande refinaria.

“Nenhuma gota de petróleo da Amazónia foi extraída com o consentimento dos povos indígenas”

A COICA insta os bancos a comprometerem-se a não realizar novos financiamentos e investimentos em petróleo e gás, a acabar com os atuais financiamentos e investimentos no setor, acabar todo o financiamento para as empresas comercializadoras e “ajustar as carteiras de financiamento levando em conta o cenário do ponto de não retorno iminente na Amazónia e promover a proteção de 80% da Amazónia até 2025”.

O estudo foi coordenado por Angeline Robertson, da Universidade da Colúmbia Britânica e da Stand.earth, especialista na área da biodiversidade e investigação climática e da análise de cadeias de abastecimento e fluxos financeiros. Diz que a posição recentemente adotada pelo HSBC “mostra que isto pode ser feito”. Está em curso uma campanha internacional chamada Exit Amazon Oil and Gas que já levou vários bancos como o BNP Paribas, o Natixis, ING e o Credit Suisse a prometer acabar com o financiamento do comércio de petróleo a partir de portos no Equador e Peru, por onde passa grande parte do negócio dos combustíveis fósseis da Amazónia. A HSBC e o Barclays também aplicaram políticas de exclusão geográficas amplas.

A cientista destaca que o estudo mostra como o greenwashing funciona na prática, “permitindo que os bancos continuem a financiar bilhões de dólares para empresas de petróleo e gás na região, atrasando a ação climática real”. E os “alçapões” concretos que permitem que os compromissos alardeados não sejam cumpridos.

Fany Kuiru, coordenadora-geral da COICA, acrescenta que “os bancos tentam lavar as mãos da culpa através de políticas ineficientes, mas devem ser responsabilizados pelos danos que o seu dinheiro está a causar aos povos indígenas da Amazónia e à biodiversidade da floresta tropical. Nenhuma gota de petróleo da Amazónia foi extraída com o consentimento dos povos indígenas. Exigimos que Citibank, JPMorgan Chase, Itaú Unibanco, Santander e Bank of America ponham fim ao financiamento de petróleo e gás.”