Os dez maiores erros de cálculo da ciência e da engenharia

14 de junho 2014 - 11:10

A descoberta pela SNCF (a empresa pública de caminhos de ferro de França) de que os seus novos comboios eram largos demais para a maioria das estações foi embaraçosa. Mas não é a primeira vez que um pequeno erro de cálculo teve repercussões sérias.

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Para SNCF, a culpa pelo fiasco foi da operadora nacional das ferrovias, a RFF. O ministro dos Transportes considerou absurdo que uma empresa opere as vias e outra os comboios, e disse que essa estrutura tinha levado ao problema – Foto retirada do site Inovação Tecnológica

Segundo a SNCF, a culpa pelo fiasco foi da operadora nacional das ferrovias, a RFF.

O ministro dos Transportes, Frederic Cuvillier, disse ser absurdo que uma empresa opere as vias e outra os comboios, e considerou que essa estrutura tinha levado ao problema.

Porém, nem sempre há alguém com quem repartir a culpa.

 

Aqui estão outros 9 exemplos em que um pequeno erro saiu muito caro - e até mesmo chegou a ser fatal.

 

Sonda para monitorizar o clima em Marte

[caption]Imagem: NASA[/caption]

Feita para orbitar Marte como o primeiro satélite meteorológico interplanetário, a sonda Mars Climate Orbiter desapareceu em 1999 porque a equipa da NASA usou o sistema anglo-saxão de unidades (que utiliza medidas como polegadas, milhas e galões), enquanto uma das empresas contratadas usou o sistema decimal (baseado no metro, no grama e no litro).

Fazendo as contas em quilómetros, mas aproximando-se em milhas, a sonda de 125 milhões de dólares chegou perto demais de Marte quando tentava manobrar para entrar na órbita do planeta, e acredita-se que ela tenha sido destruída ao entrar em contacto com a atmosfera.

Uma investigação determinou que a causa do desaparecimento foi um "erro de conversão das unidades inglesas para as métricas" numa parte do sistema de computação que operava a sonda a partir da Terra.

O navio Vesa

[caption]Imagem: Wikipedia/JavierKohen[/caption]

Em 1628, uma multidão na Suécia presenciou horrorizada o novo navio de guerra Vesa naufragar na sua viagem inaugural, a menos de dois quilómetros da costa. Na ocasião, 30 tripulantes morreram.

Armado com 64 canhões de bronze, o Vesa era considerado o navio mais poderoso do mundo.

Os arqueólogos que o estudaram depois dele ter içado içado do fundo do mar, em 1961, dizem que ele era assimétrico: mais espesso a bombordo do que a estibordo.

Uma razão para isso pode ser o facto de que os operários usaram sistemas de medidas diferentes. Os arqueólogos encontraram quatro réguas usadas na construção: duas estavam calibradas em pés suecos, que têm 12 polegadas, enquanto as outras usavam pés de Amesterdão, com 11 polegadas.

O planador de Gimli

Em 1983, um voo da companhia Air Canada ficou sem combustível quando voava sobre a localidade Gimli, na província canadiana Manitoba. O Canadá havia adotado o sistema métrico decimal em 1970, e o avião tinha sido o primeiro da empresa a usar as medidas métricas.

O indicador de combustível a bordo do avião não estava a funcionar, por isso a tripulação usou um tubo para medir quanto combustível estavam a colocar durante o reabastecimento.

O procedimento deu errado quando as medidas de volume foram convertidas em medidas de peso e houve uma confusão entre libras e quilos. O avião acabou por descolar com metade da quantidade de combustível que deveria ter.

Por sorte, o piloto foi capaz de aterrar na pista de Gimli.

O telescópio Hubble

[caption]Imagem: NASA[/caption]

O Hubble é famoso pelas suas belas imagens do espaço e por ser considerado um grande êxito da Nasa. Mesmo assim, ele teve um início de operação difícil.

As primeiras imagens enviadas pelo telescópio estavam borradas porque o seu espelho principal era muito plano.

Não muito - só 2,2 micrómetros, 50 vezes menos do que a espessura de um fio de cabelo humano - mas o suficiente para colocar em perigo todo o projeto.

Uma teoria é que uma pequena mancha de tinta num aparelho usado para testar o espelho tenha provocado a distorção nas medidas.

Uma missão do vaivém espacial consertou o problema em 1993.

Big Ben

[caption]Imagem: Wikipedia[/caption]

O sino do Big Ben no Parlamento de Londres quebrou-se em 1857 e foi refundido para ser moldado novamente. Mas o novo sino, cuja colocação levou três dias em 1859, também se quebrou rapidamente.

Aí começaram as disputas sobre quem era o culpado, o que deu início até mesmo a um caso de difamação.

Uma teoria diz que o seu pêndulo era pesado demais, com cerca de 330 quilos, ao menos para a liga de metal usada para fazê-lo (de sete partes de estanho e 22 de cobre), algo que já havia sido alertado pelos responsáveis pela sua fundição.

O segundo sino não foi substituído (ainda está quebrado), apenas a sua posição foi mudada. Na dúvida, o pêndulo foi trocado por um mais leve.

A ponte de Laufenburg

[caption]Imagem: BBC[/caption]

Qual é o nível do mar? Ele varia de um lugar para o outro, e os países usam diferentes pontos de referência.

"A Grã-Bretanha mede a altura, por exemplo, em relação ao nível do mar em Cornwall, enquanto a França o faz em relação ao nível do mar em Marselha", explica Philip Woodworth, do Centro Oceanográfico Nacional, em Liverpool, na Inglaterra.

Já a Alemanha mede a altura em relação ao Mar do Norte, enquanto a Suíça, assim como a França, opta pelo Mediterrâneo.

Isso gerou um problema em Laufenburg, uma localidade que está na fronteira entre a Alemanha e a Suíça.

Conforme as duas metades de uma ponte se aproximavam uma da outra durante a construção, em 2003, ficou evidente que, em vez de estarem "à mesma altura do nível do mar", um lado estava 54 centímetros acima do outro.

Os construtores sabiam que havia uma diferença de 27 centímetros entre as duas versões do nível do mar, mas por alguma razão essa diferença foi duplicada em vez de ser compensada.

O lado alemão teve que ser rebaixado para que a ponte pudesse ser completada.

A dieta do explorador Scott

[caption]Imagem: Herbert Ponting[/caption]

O explorador Robert Falcon cometeu um erro fatal ao calcular a quantidade de comida que os seus homens necessitariam durante sua expedição ao Pólo Sul, realizada entre 1910 e 1912.

Eles recebiam uma ração de 4.500 calorias por dia, o que era insuficiente quando se tem que arrastar trenós, ainda mais a uma grande altitude.

Segundo Mike Stroud, médico especialista em expedições polares e em nutrição, os expedicionários de Scott estavam a recebendo 3 mil calorias a menos do que os seus corpos necessitavam, e perderam 25 quilos antes de alcançar o seu destino e começar o retorno.

Acredita-se que todos morreram de fome na viagem.

A pista de biatlo de Sochi

[caption]Imagem: Sochi2014[/caption]

Na véspera do início das Olimpíadas de Sochi, na Rússia, foi descoberto que a pista de biatlo - que deveria ser um circuito de 2,5 quilómetros - era 40 metros mais curta.

Com isso, os competidores da prova de 7,5 quilómetros percorreriam menos de 7,4 quilómetros ao completar a prova, enquanto os da prova de 12,5 quilómetros percorreriam 12,3 quilómetros.

O erro foi consertado a tempo da primeira prova, três dias depois.

A Ponte do Milénio de Londres

[caption]Imagem: Wikipedia[/caption]

Para marcar o início do novo milénio, Londres construiu uma ponte pedestre em junho de 2000 que une o famoso museu Tate Modern, localizado na margem sul do rio Tamisa, com a margem norte próxima da Catedral de Saint Paul.

Mas logo se percebeu que a estrutura de 350 metros de comprimento tremia de forma preocupante quando se caminhava sobre ela.

Um dos problemas de design de uma ponte pedestre é o efeito da "pisada sincronizada": à medida que a ponte balança, as pessoas ajustam o seu passo conforme o ritmo da ponte, aumentando ainda mais a sua oscilação.

Neste caso, os projetistas levaram em conta os passos sincronizados de cima para baixo, mas não o efeito para os lados.

No ano seguinte, começaram a ser instalados amortecedores para reduzir o seu balanço, e ela foi reaberta ao público em 2002.

Artigo publicado pelo site Inovação Tecnológica, com informações da BBC. Adaptação a português de Portugal por esquerda.net