As “megabacias” são grandes reservatórios de água para ser usada na agro-indústria. Estão a ser lançadas por grupos de grandes agricultores, com o pano de fundo da seca, e com subvenção estatal a 70%. Estarão previstas quase uma centena nos próximos três anos, em todo o país, na região do Marais Poitevin serão pelo menos 16 a avançar e criarão crateras plastificadas de entre cinco a 16 hectares para manter uma irrigação intensiva.
Contra elas, ambientalistas, sindicalistas e grupos de esquerda juntaram-se no movimento Bassines Non Merci. Dizem tratar-se de uma apropriação ilegítima da água que está nos lençóis freáticos e será bombeada para os campos da agro-indústria, nomeadamente as grandes explorações de cereais. Ao invés, defendem uma partilha deste bem comum essencial e a promoção da agroecologia. Já em novembro passado, mais de duzentas pessoas, entre responsáveis políticos, associativos, sindicais, do movimento de camponeses, cientistas e artistas, entre outros, tinham assinado no Le Monde uma tribuna coletiva em que consideravam estes projetos “aberrantes”, “símbolo de um modelo nefasto”, e apelavam ao seu término.
Este sábado em Sainte-Soline (Deux-Sèvres), apesar da proibição da prefeitura local e das estradas bloqueadas pelas autoridades, vários milhares de pessoas juntaram-se numa manifestação para tentar impedir o avanço de uma delas, seguindo a convocatória de 150 organizações. A intervenção policial causou cinquenta feridos entre os manifestantes, o Ministério do Interior francês fez saber que cerca de 60 polícias ficaram feridos. E o ministro do Interior, Gérald Darmanin, optou pela estigmatização do movimento, chamando aos manifestantes “ecoterroristas” ligados à “ultra-esquerda e classificando a sua ação como “extremamente violenta”.
Mas os manifestantes não desmobilizaram face às barreiras policiais e a todo o arsenal contra eles lançado que incluiu ataques com gás lacrimogéneo, bombas sonoras, as chamadas “granadas de desencarceramento” e os tiros das armas “LBD”. E conseguiram mesmo entrar no local em que se estava a construir a obra de 16 hectares, ou seja a dimensão de 22 campos de futebol, a maior estrutura deste género na região. Perto, montaram uma base num terreno oferecido por um agricultor que se opõe aos mega-reservatórios, um acampamento com centenas de tendas onde têm havido concertos, debates e assembleias. E dizem que estão para ficar.
Várias ações no terreno continuam entre manifestações e ação direta. No domingo, foi desmantelada uma parte da canalização destinada a bombear 720.000 metros cúbicos de água, o correspondente a cerca de 260 piscinas olímpicas, dos lençóis freáticos da região. E foi construída uma torre de vigia para observar o andamento dos trabalhos.
Os ambientalistas sublinham que a megabacia de Sainte-Soline beneficiará apenas doze grandes explorações agrícolas. E Nicolas Girod, porta-voz da Confédération paysanne, Nicolas Girod, explica que as megabacias “são instrumentos da agro-indústria” que fazem “desaparecer” os pequenos agricultores. Para além disso, “bombear uma água que conseguiu infiltrar-se no solo não faz sentido do ponto de vista ecológico. O que é preciso é sair das práticas de monocultura intensiva e encontrar solo que não sejam estéreis”, diz ao Mediapart.
Do lado político, a deputada dos verdes, Lisa Belluco também marcou presença para denunciar “uma agricultura destruidora da fauna e da flora” e um “sistema que não pode funcionar num contexto de alterações climáticas”. Manon Meunier, da França Insubmissa, diz que estamos num momento em que “é preciso investir na transição agro-ecológica, numa agricultura que seja intensiva em empregos”. NPA, e sindicalistas da CGT et Solidaires marcaram também presença, frisa aquele órgão de comunicação social. Isto não quer dizer que a questão seja consensual à esquerda. Um dos defensores dos grandes reservatórios continua a ser o socialista Alain Rousset, presidente do conselho regional da Nouvelle-Aquitaine.