Mais 6.650.000.000 para a banca, 665 euros por cada pessoa que vive em Portugal

06 de junho 2012 - 1:23

O Governo vai emprestar 6.650 milhões de euros para injetar no BCP, no BPI, na CGD e pelos quais o país pagará juros brutais. Os empréstimos ao BCP e ao BPI equivalem a mais de quatro vezes o que os dois bancos valem atualmente em bolsa. O montante do dinheiro para a banca significa que cada pessoa que vive em Portugal contribuirá com cerca de 665 euros, em média.

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O BCP valia na segunda feira 692 milhões de euros na bolsa e vai receber de empréstimo, assumido pelo Estado português, cinco vezes mais: 3.500 milhões de euros - Foto de Paulete Matos

O BCP anunciou que pediu um empréstimo ao Estado no montante de 3.500 milhões de euros, o BPI de 1.500 milhões e a Caixa Geral de Depósitos (CGD) de 1.650 milhões de euros. O montante global é de 6.650 milhões de euros.

Além destes empréstimos, o BANIF deverá ainda pedir 350 milhões de euros, segundo o seu presidente executivo, o que elevará o montante emprestado pelo Governo para 7.000 milhões de euros. Este pedido do BANIF só será negociado com o Governo no próximo trimestre. O presidente executivo do BANIF é Jorge Tomé e o presidente do conselho de administração é Luís Amado, antigo dirigente do PS e ex-ministro dos Negócios Estrangeiros no governo de José Sócrates.

Lembre-se que no memorando assinado com a troika está previsto um montante de 12.000 milhões de euros para a recapitalização da banca. Os empréstimos destinam-se a que as instituições financeiras cumpram os rácios de solvabilidade 'core tier 1' de 9% até ao final deste mês, exigidos pela autoridade bancária europeia (EBA em inglês).

Segundo o jornal “Correio da Manhã” desta terça-feira, o BCP valia na segunda feira 692 milhões de euros na bolsa e vai receber do empréstimo, assumido pelo Estado português, cinco vezes mais: 3.500 milhões de euros. A notícia deste empréstimo provocou nova queda das suas ações na bolsa, que atingiram o mínimo histórico de 9 cêntimos. Segundo o “Jornal de Negócios”, os analistas duvidam da capacidade do BCP pagar o empréstimo em 5 anos, como está previsto.

O BPI valia nesta segunda feira 319 milhões de euros no mercado de capitais e irá receber um empréstimo de 1.500 milhões de euros - 4,7 vezes o seu valor atual na bolsa.

Estes empréstimos a estes bancos privados significam que os seus acionistas não estão a querer capitalizarem estes bancos, nem pretendem vendê-los. Lembre-se que BCP, BPI e BANIF são bancos privados e que, por exemplo, Isabel dos Santos – filha do presidente angolano José Eduardo dos Santos – detém 19% do BPI e a petrolífera angolana Sonangol detém mais de 11% do BCP.

Quanto à CGD, o banco público, muito provavelmente não teria de recorrer a este empréstimo se não tivesse tido que enterrar elevado montante no BPN.

O ministro das Finanças, Vítor Gaspar mostrou um grande contentamento com estes empréstimos à banca, declarando que , após estas operações, "cada um dos bancos irá ultrapassar os requisitos de capital exigidos pelo EBA", acrescentando que as instituições financeiras participantes "irão estar entre os bancos mais bem capitalizados da Europa".

Para o Bloco de Esquerda, a apreciação é oposta, tendo o deputado Pedro Filipe Soares declarado que a "única matéria" em que o Governo provou ser "bom aluno" perante a troika foi em "despejar dinheiro" nos cofres dos bancos, sem garantia de que isso tenha impacto na "criação de emprego".

Francisco Louçã declarou que este empréstimo irá, na realidade, servir para “pagar juros extorsionários” e “não para apoiar a economia”. O dirigente do Bloco lembrou que “os bancos tiveram acesso a empréstimos a 3 anos desde dezembro do ano passado a um por cento, ou seja gratuitamente, e não apoiaram a economia, não aumentaram o crédito”.