Madeira resultante de desflorestação ilegal da Amazónia continua a chegar à Europa

04 de abril 2025 - 10:17

Um relatório da Agência de Investigação Ambiental dos EUA descobriu que 15 empresas europeias terão importado madeira exótica brasileira de proveniência de zonas protegidas. Há duas empresas portuguesas nesta lista.

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Desmatamento da Amazónia. Foto: Bruno Kelly/Amazônia Real
Desmatamento da Amazónia. Foto: Bruno Kelly/Amazônia Real

O relatório “Tricks, Traders and Trees” da Agência de Investigação Ambiental, uma organização não governamental dos EUA, revela que 15 empresas europeias terão importado madeira exótica vinda do Brasil e resultante de desflorestação ilegal da Amazónia. Entre estas estão duas empresas portuguesas, a Playmade e a Lumber Unipessoal.

De acordo com a investigação, feita em conjunto com o Centro de Análise de Crimes Climáticos, a madeira, utilizada sobretudo em pavimentos exteriores de luxo, chega à Europa, aos Estados Unidos, Canadá ou África do Sul com referências falsas de modo a disfarçar a sua proveniência real: zonas de floresta tropical em que a extração não é permitida.

O centro desta análise foi o Estado do Pará e procedeu-se ao cruzamento de dados públicos, imagens de satélite e fontes do setor no terreno, tendo-se descoberto cinco operações de exploração ilegal de madeira. As imagens de satélite serviram ainda para concluir que a madeira não poderia ter vindo das zonas licenciadas em que foi registada.

A investigação descobriu ainda situações de suborno de fiscais como objetivo de acelerar a obtenção de certificados e adulterar inspeções.

Do lado europeu, critica-se que as empresas importadoras de madeira não estejam a fazer o suficiente para garantir que a madeira que importam não é resultante de desmatamento ilegal. Isto porque a maioria das serrações e empresas exportadoras do Brasil que são denunciadas no caso já estavam cadastradas por irregularidades anteriores. E a informação sobre tudo isto é pública, disponibilizada na página do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente,.

À Lusa, Christopher Moye, um dos autores do estudo, vinca que as importadores “não fizeram a diligência suficiente para eliminar o risco da origem ilegal dessa madeira que eles importaram para cumprir a legislação da União Europeia, que proíbe a importação de madeira ilegal”, destacando ainda que “todo o mundo sabe que o Pará é de alto risco em termos de extração e exportação de madeira ilegal”.

O resultado terá sido que, entre 2021 e 2024, terão sido transacionados mais de 53 mil metros cúbicos de madeira no esquema que envolvia ao todo 19 serrações, 16 exportadores e 30 importadores norte-americanos e europeus.

Empresa portuguesa diz que há controlo do Instituto das Florestas e Conservação da Natureza

A agência noticiosa nacional contactou as empresas portuguesas apontadas no relatório. A Playmade declarou que comentaria depois de analisar o relatório em questão. Gabriel Torres da Costa, gerente da Lumber, assegurou que na empresa “os processos são escrutinados pelos órgãos nacionais (ICNF) que cada vez mais tem sido ativos no seu papel de controlo às importações de madeiras” e que esta tem “uma política de compra de madeiras bem definida e um guião de ética claro”, tendo reduzido o número de fornecedores, a área de intervenção e excluído portos de embarque de forma a tentar prevenir a possibilidade de comprar madeira proveniente de zonas proibidas.

Moye contrapõe que, apesar dos documentos não serem fiáveis, há verificações que deveriam ser feitas pelas empresas e que apenas demoram alguns minutos a fazer, entre elas a seleção de fornecedores, verificação de documentos e uso de imagens de satélite.

A organização que supervisionou o estudo adianta que vai apresentar protestos às entidades europeias que supervisionam o setor “para fazerem uma investigação às companhias [importadoras] e ver que tipo de devida diligência fizeram em relação aos fornecedores envolvidos”.

As suas exigências também se alargam ao Brasil, onde se exige mais supervisão do setor madeireiro e reforço de medidas para evitar branqueamento, fraude e corrupção.

De acordo com o último relatório do Sistema de Monitoramento da Exploração Madeireira, publicado em outubro, a área da Amazónia em que há extração ilegal de madeira aumentou 19% num ano, passando de 106 mil hectares entre agosto de 2021 e julho de 2022 para 126 mil hectares entre agosto de 2022 e julho de 2023.

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