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Lisboa manifesta-se pelo direito a boicotar Israel

As críticas do músico Roger Waters ao apartheid israelita não são novas, mas a ofensiva do governo de Telavive contra o movimento Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS), procurando difamar e intimidar as vozes críticas, culminou no cancelamento de um concerto do músico agendado para maio em Frankfurt. Em resposta, a petição que condena esse cancelamento foi subscrita por milhares de pessoas, entre elas Brian Eno, Peter Gabriel, Eric Clapton, Cornel West, Ilan Pappé, Noura Erakat, Noam Chomsky, John Pilger, Susan Sarandon e muitos outros.
O concerto de Roger Waters em Lisboa esta sexta-feira será palco de uma concentração de solidariedade com o movimento BDS e pelo direito a boicotar Israel, marcada para as 20h em frente ao Altice Arena. A organização pede que os participantes se façam acompanhar de bandeiras da Palestina e tornem assim visível a solidariedade com o povo vítima da ocupação e do regime de apartheid israelita, como tal denunciado por organizações internacionais de defesa dos direitos humanos como a Amnistia Internacional, Human Rights Watch, a israelita B'Tselem, agências das Nações Unidas e pelo governo sul-africano.
Em comunicado divulgado esta semana, o Comité de Solidariedade com a Palestina (CSP) contestou a "tentativa de associar o movimento BDS a movimentos antissemitas", na sequência de declarações por parte da Comunidade Judaica do Porto e da Comunidade Israelita de Lisboa a apelar ao cancelamento do concerto de Roger Waters agendado para este fim de semana no Altice Arena.
"Embora encaremos de forma salutar a expressão e o debate público de opiniões, não podemos deixar de considerar que o mesmo se deve alicerçar na factualidade das premissas e na honestidade intelectual perante os interlocutores", diz o CSP, explicando que "a linha de ação do movimento BDS é orientada, entre outros, pelo antirracismo, não consentindo que nenhum grupo afiliado propague ou tolere qualquer forma de expressão de ódio, intolerância ou discriminação, nas quais se inclui naturalmente o antissemitismo".
O Comité recorda que desde a fundação do movimento BDS, que apela ao fim da cumplicidade dos estados, instituições, empresas e indivíduos com a violenta opressão israelita ao povo palestiniano, ele foi considerado uma "ameaça estratégica" por parte do governo de Israel, "que desde então mobiliza recursos consideráveis para o combater e deslegitimar."
"As acusações a Roger Waters, quando concretizadas, redundam invariavelmente no seu apoio ativo ao movimento BDS e na falaciosa qualificação deste último como movimento antissemita", refere o movimento, apontando a "crescente utilização abusiva por parte de Israel do termo 'antissemitismo', instrumentalizado como forma de intimidação e silenciamento", numa tentativa de o confundir com o termo de "antisionismo", que remete para "o discurso crítico e legítimo a uma ideologia colonial anacrónica e ao estado que a materializa".
"A utilização grosseira, ligeira e ad nauseam de acusações espúrias de antissemitismo contra quem, legitimamente, critique as violações de direitos humanos e do direito internacional perpetradas pelo Estado de Israel é para nós preocupante, por banalizar um assunto cuja gravidade nos deveria impor alguma seriedade, e é especialmente criticável num momento em que o atual governo de extrema-direita fascista Israelita intensifica a sua perseguição racista ao povo Palestiniano", conclui o comunicado do CSP.
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