Palestina

Ligaram a familiares em Gaza, a Microsoft bloqueou-lhes as contas

17 de julho 2024 - 14:54

Como as chamadas internacionais são caras e a Internet tem muitos cortes, palestinianos que vivem fora da Faixa de Gaza tentam contactar com familiares através do Skype. Sem justificar, a Microsoft anulou-lhes as contas de e-mail, fazendo-os perder anos de trabalho e memórias.

PARTILHAR
Logotipo da Microsoft num edifício.
Logotipo da Microsoft num edifício. Foto de anandirc/Flickr.

Palestinianos que vivem fora do território estão a denunciar que a Microsoft encerrou as suas contas de e-mail sem qualquer aviso prévio depois de terem ligado pelo Skype para Gaza.

A BBC contactou diretamente com 20 pessoas afetadas mas poderão ser muitas mais. A sua história é semelhante: pessoas que contactam familiares ou amigos na Faixa de Gaza e cujas contas acabam anulada, fazendo-as perder e-mails, contactos, documentos, memórias.

Do lado da Microsoft, a mensagem é que foram violados os “termos de serviço”, não se especificando de que forma, e que a decisão tomada é irreversível. A resposta, queixam-se os palestinianos em causa, é sempre genérica. À estação de televisão britânica o gigante tecnológico não adianta muito mais explicações, afirmando que as chamadas para a região ou dela para outros locais não estão bloqueadas ou proibidas mas “o bloqueio no Skype pode ocorrer em resposta a suspeitas de atividades fraudulentas”. Mais uma vez não justificando mais nada do que está a fazer.

Quem perdeu a sua conta assegura que não tem qualquer ligação ao Hamas nem envolvimento na política interna da Faixa de Gaza. O Skype é utilizado porque as chamadas internacionais são muito caras e os cortes na Internet são muitos. Com uma assinatura paga desta aplicação é possível ligar para telemóveis.

Com esta expulsão, são dezenas de anos confiados à Microsoft que ficam indisponíveis. Uma destas pessoas, Salah Elsadi, vive nos Estados Unidos e usava o Skype para ligar para os telemóveis da mulher, filhos e dos seus pais em Gaza. Em abril, foi subitamente cortado de todos os serviços do Hotmail que usava há 15 anos. Para além de perder ofertas de emprego, deixou de poder aceder às suas contas bancárias associadas ao Hotmail. Diz que preencheu “cerca de 50 formulários” e ligou “muitas vezes” à empresa. Sem sucesso.

No caso de Eiad Hametto são 20 anos de conta à qual estava ligada “todo o trabalho”. O palestiniano a viver na Arábia Saudita conta o mesmo que os outros: “somos civis sem vinculação política que só queriam entrar em contacto com as nossas famílias”. Resultado: “mataram a minha vida online”.