José Casimiro Ribeiro (1940-2023)

24 de agosto 2023 - 19:36

A sua vida foi da resistência ao fascismo e à guerra, ao maio de 68 no exílio em Paris, e de volta ao país à prisão em Caxias e à intensiva vida em Guimarães onde criou e dinamizou grupos, cooperativas e associações populares.

PARTILHAR
José Casimiro Ribeiro. Foto do Facebook.
José Casimiro Ribeiro. Foto do Facebook.

Faleceu esta terça-feira, aos 83 anos, José Casimiro Ribeiro, antifascista, ex-preso político e dirigente associativo, tendo fundado, nomeadamente, a cooperativa O Povo de Guimarães e o Centro Infantil e de Cultura Popular.

José Casimiro Ribeiro nasceu em 1940, em Gondar, Guimarães, sendo o mais novo de sete irmãos. O pai tinha uma pequena carpintaria e o irmão mais velho, Eduardo Ribeiro, participava no grupo antifascista Democratas de Braga. Por essa via, José vai também cedo juntar-se movimento antifascista.

Contra a participação na guerra colonial, aos 22 anos deserta do exército e vai para Paris. Aí se torna trabalhador-estudante, tendo estudado Línguas e Civilização Francesa, na Sorbonne, e desenho de construção civil, na École des Travaux Publics, e frequentado ainda o curso de Sociologia. Torna-se membro da Comissão Franco-Portuguesa de Apoio aos Emigrantes e Desertores Portugueses e, em 1972-1973, será assistente em filmes realizados para a televisão francesa sobre a emigração portuguesa.

Casimiro Ribeiro vive em Paris as mobilizações do maio de 1968 sobre as quais dirá mais tarde: “para um jovem, vindo de um país oprimido e fortemente policiado, participar no Maio de 68 foi realizar o irrealizável. O impossível tornou-se possível. Já não se tratava só de exigir alterações no ensino mas na sociedade. Já não era só uma questão estudantil mas de civilização. Não se discutia já o poder da Universidade mas as relações de poder na sociedade. Lutava-se agora contra uma certa forma de civilização. Estava em causa a mudança na relação de poder do Estado com os cidadãos”.

A experiência fá-lo entregar-se “totalmente à luta contra a ditadura e pela liberdade e democracia em Portugal” que “exigia, naquela altura, uma disponibilidade total e um empenhamento intenso”, acrescentando: “Maio de 68 empurrou-me para o combate de que Portugal precisava para ser Livre”.

Daí aderir, ainda na capital francesa, à Liga de Unidade e Ação Revolucionária, o que considera “uma reviravolta” na sua vida. Operacional desta organização, participa da luta armada contra o fascismo “sempre com o princípio de não matar”. Nesse âmbito, acaba por ser preso em Lisboa em novembro de 1973. É enviado para Caxias e é vítima de tortura.

Depois da libertação, com o 25 de Abril, a LUAR dissolve-se porque, afirmou, “com o tempo e com o prosseguimento do processo de normalização democrática entendemos que a LUAR já não fazia grande sentido”.

Volta em 1977 para Guimarães. Onde tem uma atividade intensa, desde a criação da rádio local, Rádio Guimarães, à de uma “Galeria Bar”, chamada Finalmente, à direção da Associação Cultural e Recreativa Convívio, à fundação do Centro Infantil e Cultural Popular, a que chamou algumas vezes “Escola Primária de Democracia Interativa”.

Para obter fundos para o infantário desta última associação é um dos dinamizadores do Circultura, um evento considerado histórico na cultura em Guimarães, que contou, numa tenda montada junto à Central de Camionagem da cidade durante dois meses, com a presença de Zeca Afonso, José Mário Branco e Carlos do Carmo, e onde, para além da música, havia cinema, teatro, debates e exposições.

Na década de 80, trabalhou no Theatro Circo, em Braga. Em 1992 fez parte da Comissão Organizadora do primeiro Guimarães Jazz, em 1992.

Foi ainda fundador da cooperativa O Povo de Guimarães que criou um semanário no qual escreveu, co-fundador da CERCIGUI, dirigente do Cineclube de Guimarães e membro da MURALHA – Associação Para a Defesa do Património.

O seu testemunho é um dos que compõem o livro “Guimarães daqui houve resistência”, organizado por César Machado e publicado em 2014, que conta a história da resistência ao fascismo nesta zona do país e do qual alguns trechos aqui foram reproduzidos.