Simbolicamente à mesma hora em que Trump tinha lançado o ataque contra o general Qassem Soleimani, começaram a ser disparados cerca de duas dezenas de mísseis terra-terra contra as bases Ain Assad e Arbil, ambas com presença militar norte-americana.
O Departamento de Defesa dos EUA comunicou que está ainda a decorrer uma “avaliação preliminar dos danos”, negando a existência de vítimas. E Trump, longe da retórica inflamada, limitou-se a escrever no Twitter que “está tudo bem”. Iraquianos, britânicos, australianos e canadianos também informaram que não houve baixas nos seus efetivos militares. Para a manhã desta quarta-feira, segundo a hora de Washington, está planeada uma conferência de imprensa do presidente norte-americano.
Do lado iraniano, as contas são muito diferentes. Citando a Guarda Revolucionária, a agência noticiosa iraniana Mehr avançou a informação de que “80 militares terroristas americanos foram mortos e cerca de 200 outros foram feridos.” Segundo a mesma fonte, a base de Ain Assad era um “local estratégico” que os EUA utilizavam para dar apoio aos seus drones.
Este número avançado pelo regime iraniano está a ser visto por vários analistas como uma forma de contentar a opinião pública interna. O discurso iraniano oscila entre a versão mais dura para consumo caseiro que jura vingança dura e a versão mais diplomática para consumo externo.
O que foi denominado como a “operação Mártir Soleimani" não é apresentado internacionalmente pelo governo iraniano como um ato de guerra mas apenas como “medidas proporcionais de autodefesa”. O ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão, Mohammad Javad Zarif, escreveu no Twitter que o governo do seu país “não pretende uma escalada nem começar uma guerra mas que se vai defender de qualquer agressão”. O governante socorreu-se mesmo do artigo 51 da Carta das Nações Unidas sobre a legítima defesa em caso de ataque armado.
Algures entre os dois tipos de discurso fica a intervenção do aiatolá Khamenei que, na manhã desta quarta-feira, se dirigiu ao país através da televisão para comemorar o 42º aniversário do levantamento contra o regime do Xá Reza Pahlavi em Qom.

Para além desta referência histórica para o regime, Khamenei louvou ainda o papel atual do general Soleimani o “grande mártir” que “frustrou as conspirações dos EUA para o Iraque, a Síria e o Líbano” e esclareceu que “a nossa vingança era uma coisa diferente que foi feita a noite passada”. Esta operação militar teria sido “uma estalada na cara” do governo norte-americano mas, para o líder iraniano, “as operações militares não são suficientes” uma vez que “o que é importante é acabar com a presença corruptora dos EUA na região”.
Os Estados Unidos têm mais de 5200 tropas no Iraque atualmente. A estas juntam-se várias outras da “coligação internacional” sob seu comando e que têm tido como missão oficial treinar as forças militares iraquianas. Mas a colaboração entre exército americano e governo iraquiano está a chegar ao fim. Este domingo o parlamento iraquiano votou pela expulsão do contingente dos EUA devido à “violação flagrante da soberania” do país.
Para além disto, depois do atentado norte-americano no aeroporto de Bagdade, vários dos países da coligação internacional anunciaram a diminuição da sua presença. O Canadá decidiu mesmo pela retirada total. O general Jonathan Vance, chefe do serviço de Defesa do Canadá, anunciou que as suas tropas sairiam por motivos de segurança para o Kuwait. E, por exemplo, o Reino Unido, através do ministro da Defesa Ben Wallace, comunicou que retirará se o governo iraquiano assim o pedir.