A Iberdrola apresentou ao Tribunal Supremo espanhol um recurso contencioso-administrativo a alegar que a comissão formada pelo Governo de Espanha não tem suporte legal. A empresa alega ainda que os dados recolhidos pelo Governo junto das empresas não foram entregues de forma voluntária, mas que estas foram coagidas a fazê-lo.
O jornal digital Publico.es teve acesso ao recurso, que alega que a criação do comité para análise da crise elétrica por parte do Conselho de Segurança Nacional foi feita sem que fosse declarada uma “situação de interesse para a segurança nacional” por parte de Pedro Sánchez. Argumenta ainda que aquele Conselho não tem competência para criar órgãos colegiais.
O objetivo da Iberdrola é invalidar o relatório produzido por aquele comité e apresentado a 17 de junho pela ministra espanhola da Transição Ecológica Sara Aagesen. Nessa conferência de imprensa, a ministra chegou a referir a colaboração das empresas de energia, o que a Iberdrola diz agora ter sido uma “deslealdade” e que mesmo que a entrega de dados tivesse sido voluntária, ela implica “produzir efeitos jurídicos face a terceiros”.
O relatório em causa identificou os fatores que em conjunto desencadearam o apagão elétrico em Espanha e Portugal, apontando a sua origem numa central fotovoltaica, sem identificar nenhuma das empresas ou entidades implicadas, à exceção da Red Eléctrica de España. No dia seguinte, esta empresa publicou o seu próprio relatório, especificando que a central em causa se situava em Badajoz. O jornal digital El Diario veio depois a identificar a central como sendo a Nuñez de Balboa, detida pela Iberdrola.
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Terá sido esta central fotovoltaica a ter um comportamento anómalo que produziu uma “oscilação atípica” na tensão elétrica, que as restantes centrais não conseguiram amortecer. Ao mesmo tempo, o relatório aponta que algumas centrais se desligaram do sistema de forma “indevida”, o que levou a um efeito dominó até ao apagão total.
De imediato, a associação patronal das elétricas veio negar qualquer comportamento anómalo das suas sócias, que houvesse centrais a desligar de forma indevida ou a agir insuficientemente, apontando o dedo à Red Eléctrica de España pela gestão deficiente do sistema naquele dia, com apenas 10 centrais térmicas a controlarem a tensão, das quais uma se declarou indisponível ao início da noite da véspera. A presidente da REE, Beatriz Corredor, defendeu que a decisão de prosseguir sem essa central foi tomada numa reunião extraordinária de peritos e foram tomadas medidas de compensação.