Ambiente

Há 27 anos que a Nestlé tem explorações de água ilegais em França

26 de julho 2024 - 10:32

Empresa explora há anos furos de água para os quais não tem licença sem pagar impostos e sem ser responsabilizada pelas consequências ambientais e sociais.

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Sede da Nestlé na Suiça
Fotografia de Nestlé

Um relatório do Gabinete Francês da Biodiversidade revelou que entre 1992 e 2019, a Nestlé não tinha licença para explorar a água que comercializava. A sobre-exploração de águas subterrâneas levada a cabo pela empresa teve impactos ambientais nos ciclos hidrológicos dos ecossistemas em causa.

Ao agir à margem da lei, a Nestlé não pagou, em certos períodos, taxa de água nem registou o volume de água que retirava do solo. O nível de exploração industrial das fontes hídricas causou secas recorrentes, ao ponto de povoações locais terem sofrido interrupções no fornecimento de água enquanto a Nestlé continuava a sacar recursos hídricos para comercializar.

Durante 27 anos, a empresa explorou nove furos de água sem qualquer enquadramento legal, segundo o relatório do Gabinete Francês da Biodiversidade. Significa que foram retirados, segundo as estimativas dos investigadores, mais de 19 mil milhões de litros de água entre 1999 e 2019. Desses nove furos de água, cinco eram para comercialização das marcas de água Vittel e Contrex, e quatro eram para uso em rega e estâncias termais.

Para além de fugir aos impostos relacionados com a extração de água para comercialização, a Nestlé contornou também a necessidade de fiscalização, permissões e aprovação dos furos de água por parte das entidades estatais reguladoras. Em França, as perfurações para captação de água requerem avaliação não só sobre o Código Ambiental, mas também sobre o Código da Saúde Pública e o Código Mineiro.

A empresa já tinha sido também alvo de uma investigação que revelou uma fraude com mais de quinze anos, na qual mais de 18 mil milhões de garrafas de água foram vendidas sob as marcas Contrex, Hepar e Vittel, com uma qualidade igual à da água da torneira mas vendida por cem vezes mais. A Nestlé usava processos de filtração de água que apenas são usados para o tratamento de água potável nas torneiras, mas que não eram permitidos para as “águas minerais naturais”, como era anunciada por estas três marcas.

As conclusões da exploração ilegal de água em França foram feitas no âmbito de uma investigação preliminar que foi aberta pela Procuradoria Pública de Épinal no final de 2022 e que tinha como causa uma denúncia de cinco associações ambientalistas. Segundo os técnicos que elaboraram o relatório, a empresa cometeu várias infrações, nomeadamente o estabelecimento e a exploração de captações de água sem autorização.

 

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