A Guerra dos Chips: qual é o papel de Taiwan?

30 de agosto 2023 - 13:49

Taiwan é o principal produtor mundial de microchips e um foco de tensão entre Pequim e Washington. A estratégia do território tem passado por uma deslocação parcial da produção mas a tecnologia mais avançada e a investigação associada serão mantidas.

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TSMC, a grande fabricante de chips em Taiwan. Foto de  李 季霖/Flickr.
TSMC, a grande fabricante de chips em Taiwan. Foto de 李 季霖/Flickr.

A guerra comercial entre os EUA e a China em torno da produção de microchips tem escalado nos últimos meses e Taiwan assume um papel central nessa disputa. Para além de ser o principal produtor de microchips internacionalmente é um foco de tensão política entre Pequim e Washington.

O The Economist assinala que Taiwan sozinho é responsável por 60% da produção global de semicondutores e mais de 90% no caso dos mais avançados tecnologicamente, sendo que este setor representa 15% do PIB de Taiwan. A maior parte dos semicondutores é produzido por uma única empresa: a gigante Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC).

Dada a sua importância económica, o setor de semicondutores garante a Taiwan o chamado “escudo de silício” (material semicondutor) que o protege de ser invadido pela China.

Como lembra o jornal independente The Conversation, desde 1949 que Taiwan é independente da China para todos os fins práticos, apesar da China reivindicar a reunificação com o território. Em 1979, os EUA aprovaram um regulamento que prevê que Washington deve defender Taiwan, desde que a sua segurança esteja em linha com os objetivos tecnológicos e económicos norte-americanos.

Os representantes políticos dos EUA já deram vários sinais de que iriam retaliar militarmente em caso de invasão do Taiwan. Recentemente, um congressista democrata, Seth Moulton, afirmou que se a China invadir Taiwan, os EUA iriam “explodir com a TSMC”.

Friend-shoring”: deslocar parcialmente a produção para fora de Taiwan

Parte da capacidade produtiva da TSMC tem-se deslocado para fora de Taiwan numa prática chamada “friend-shoring”. A ideia é mitigar parcialmente o risco de uma potencial invasão, estreitar os laços comerciais e partilhar conhecimento técnico e tecnológico.

Em dezembro, celebrou-se a abertura de uma fábrica de microchips (uma “fab”) no Arizona. O fundador da TSMC, Morris Chang, garantiu que iria triplicar o investimento no Arizona para 40 mil milhões de euros, criar uma segunda fábrica em 2026 e produzir nos EUA os chips de três nanometros (atualmente os mais avançados).

No início de agosto, a TSMC anunciou que iria abrir a sua primeira fábrica na Europa, investindo 3,5 mil milhões de euros na sua abertura na Alemanha, em Dresden. Conta-se com uma "joint venture", em que a TSMC ficará com 70% do capital e os grupos Bosch, Infineon e NXP cada um com uma participação de 10%.

No entanto, o ministro dos assuntos económicos, Wang Mei-hua, garante que as novas fábricas da TSMC não representam uma perda de vantagem de Taiwan. A produção de tecnologia mais avançada e a investigação associada serão mantidas em Taiwan. Ainda em Janeiro, Taiwan aprovou a sua própria Lei dos Chips, oferecendo benefícios fiscais no valor de 25% dos custos de investigação.

Uma invasão de Taiwan, com uma contra-resposta militar norte-americana, significaria uma disrupção abrupta da produção de semicondutores, o que levaria uma pressão enorme sobre os preços e a consequências inflacionistas.

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