"Tragédia social alimenta greve geral portuguesa", titula o Financial Times na edição online. Peter Wise, o correspondente do FT em Lisboa, cita os líderes da CGTP e UGT e destaca ainda a "compreensão pouco habitual" por parte do patronato, com as críticas das quatro confederações patronais e o líder da CIP a dizer que "os trabalhadores têm razões para estarem indignados".
O site da Business Week destaca os voos afetados pela greve e a paragem da produção na Autoeuropa, "a fábrica que é responsável por 1,3% da economia portuguesa", ao mesmo tempo que cita o relatório do FMI de 13 de junho que assinala que a recessão e o desemprego estão a exacerbar as tensões políticas e sociais e colocam o governo de Passos Coelho sob pressão crescente.
Quanto ao Wall Street Journal, fala de uma nova "dor de cabeça" para Passos Coelho, a enfrentar a quarta greve geral após ter sido derrotado pelo Tribunal Constitucional nos seus planos para cortar ainda mais os salários e pensões. "Trabalhadores portugueses fazem greve para dizer que a austeridade foi longe demais" é o título da notícia, que também fala da greve dos professores aos exames da semana passada e da união de forças do patronato para baixar impostos. O Wall Street Journal fala ainda da inevitabilidade de um segundo resgate da troika, se os juros da dívida mantiverem a atual tendência de subida.
A notícia da agência Associated Press foi reproduzida em vários órgãos de comunicação, como o Washington Post, e destaca a forte adesão à greve no setor dos transportes e serviços públicos de saúde. A AP fala de um país que está no terceiro ano consecutivo de recessão e com uma taxa de desemprego de 17,8%, e com cortes salariais e aumentos de impostos que "contribuíram para a espiral recessiva".
Em Itália, a agência ANSA destaca a quarta greve geral em dois anos contra o Governo, com os transportes, tribunais e outros serviços públicos completamente parados. A agência de notícias italiana prevê que "os sacrifícios irão continuar, uma vez que as taxas de juro da dívida continuam a subir - os juros a 10 anos ultrapassaram os 7% nos últimos dias".
Na India, o India Times dá notícia da greve geral num país "que tem enfrentado greves constantes, em especial no setor dos transportes", sublinhando que "só raramente estes protestos resultaram em violência". O jornal indiano também fala das críticas crescentes a Passos Coelho, que já são partilhadas até pelos membros do seu próprio partido.
"Portugal: nova greve geral contra a austeridade" é o título da notícia do Libération, um dos diários francófonos que citam a notícia distribuída pela Agência France Presse sobre "um país a funcionar em câmara lenta" esta quinta-feira. Para além dos transportes e serviços públicos, a AFP destaca as paralisações na Autoeuropa e na central de Sines da EDP e contrasta o "isolamento crescente" de Passos Coelho em Portugal, onde até os patrões o criticam, com o apoio que lhe é dado pelos credores internacionais, que aceitaram aligeirar as metas orçamentais previstos no memorando da troika.
O diário La Croix fala de um "relançamento da dinâmica sindical" após o anúncio de novas medidas de austeridade para cortar 4,8 mil milhões de euros na despesa pública, com destaque especial para as três semanas de greve dos professores. O jornal francês assinala que as últimas sondagens indicam que três quartos da população acham que o país está pior do que há dois anos, antes da assinatura do memorando da troika. E, à semelhança de outros órgãos de comunicação social, sublinha que "os sindicatos receberam um impulso inesperado" por parte das quatro confederações patronais, ao declararem que "face aos resultados da austeridade, ninguém pode ser irresponsável ao ponto de defendê-la, ou pior ainda, pô-la em prática".
A Radio France Internacional ouviu dirigentes sindicais sobre as razões da greve e da revolta dos portugueses e um economista do banco de investimento Naxitis, que fala de um "horizonte bloqueado sob todos os pontos de vista" para o nosso país. No artigo "Portugal: a cólera da rua face à nova cura de austeridade", Jesus Castillo diz que os credores internacionais "mandam apertar o cinto", mas não consegue ver como fazer regressar o crescimento, dado que "os fatores tradicionais do crescimento estão totalmente ausentes do país". Por seu lado, o sociólogo Manuel Villaverde Cabral fala da baixa taxa de natalidade e da subida em flecha da emigração de quem está em idade fértil, uma situação que compara à dos anos 60 e 70 do século passado.
No Equador, o diário El Comercio reproduz a notícia da AFP a dar conta da paralisação dos transportes e da saúde, bem como da agência de notícias Lusa, com o serviço interrompido desde o início da manhã. No Brasil, a imprensa também destacou o protesto português, como mostram as notícias publicadas na Veja, Estadão ou Exame.
O diário catalão La Vanguardia também noticia o impacto greve geral portuguesa e a RTVE fala dos piquetes de greve durante a madrugada nos serviços de recolha de lixo, bombeiros e transportes, que considera ser o setor mais afetado pela greve, à semelhança das greves gerais anteriores. O El Pais destaca o balanço da greve feito ao fim da manhã pelos líderes sindicais e assinala a intransigência de Passos Coelho e Vítor Gaspar em manter o caminho da austeridade, apesar da subida dos juros nos mercados internacionais. O diário madrileno é o único a apontar o "recuo do Ministério da Educação", forçado pela greve seguida "pela imensa maioria dos professores" aos exames da semana passada. O Publico dá notícia da forte adesão nos piquetes da madrugada e assinala o "regresso do espírito combativo" com a bem sucedida greve dos professores nas últimas semanas. Já o ABC prefere destacar as consequências para os viajantes espanhóis na notícia intitulada "Dois voos desde Valencia a Portugal cancelados pela greve geral", os únicos cancelados antes das 8 da manhã dos 107 voos previstos com destino aos aeroportos portugueses vindos do país vizinho.
O cancelamento de voos fez também o destaque do diário inglês Telegraph na véspera da greve, com as transportadoras aéreas a avisarem os passageiros para a possibilidade de atrasos por causa da greve geral portuguesa. Na Alemanha, o Die Welt fala na paralisação parcial da vida quotidiana dos portugueses e a Deutsche Welle relata o impacto da greve nos transportes, bem como a presença da missão da troika em Lisboa para avançar ainda mais com o memorando da austeridade. Já a revista Focus noticia as concentrações e manifestações no dia de greve geral a pedirem eleições antecipadas e a mudança de políticas.
A greve geral portuguesa também foi notícia na Nigéria, com o site Nigeria News a relatar que as horas de ponta foram mais demoradas que o habitual para muita gente neste protesto contra a austeridade que juntou pela segunda vez as duas maiores centrais sindicais portuguesas, naquela que é a quarta greve geral contra o governo de Passos Coelho.