A investigação judicial sobre este funcionário esteve integrada no processo Portucale e o milhão de euros desdobrado em donativos com o valor que a lei permitia foi considerado como uma contrapartida do grupo financeiro que intermediou negócios como o da compra de submarinos e obteve autorização para arrancar milhares de sobreiros da herdade Vargem Fresca, em Benavente, onde previa construir um empreendimento turístico de luxo.
Nomeado a 24 de junho por Vânia Dias da Silva - que foi dirigente do CDS e é hoje subsecretária adjunta de Paulo Portas - para trabalhar no seu gabinete, João Carvalho é funcionário do partido há doze anos e nos últimos quatro tem partilhado o banco dos réus do julgamento do Portucale juntamente com três funcionários do CDS, todos acusados de falsificação de documentos. A investigação encontrou nomes de supostos doadores do CDS que muito dificilmente podiam corresponder a pessoas reais, tendo ficado célebre o caso do recibo em nome de Jacinto Leite Capelo Rego.
No passado dia 12 de abril, todos os arguidos do processo foram absolvidos, mas o Ministério Público recorreu para o Tribunal da Relação, pelo que a sentença ainda não transitou em julgado. Agora, o funcionário que se licenciou em Direito na Universidade Lusófona vê-se no meio da polémica sobre o favorecimento partidário no Ministério do líder partidário que na campanha eleitoral do ano passado prometeu que o próximo Governo "deve submeter-se ao teste da independência nas nomeações". "O Estado não pode continuar a ser colonizado e é urgente a instituição de uma cultura de mérito e de transparência", dizia ainda o manifesto eleitoral do CDS.
O Bloco requereu explicações ao ministro dos Negócios Estrangeiros sobre esta nomeação, por considerá-la "absolutamente questionável". E quer que Paulo Portas explique se esta nomeação "cumpre os princípios de independência, transparência e mérito, com os quais se comprometeu no momento eleitoral".
"Paulo Portas agora quer rodear-se dos seus 'boys' partidários. Mas na campanha eleitoral dizia querer o fim do clientelismo partidário no Estado", recordou o deputado bloquista Pedro Filipe Soares, sublinhando o facto inédito da filiação partidária do nomeado aparecer mencionada no despacho de nomeação publicado em Diário da República.