Marrocos

Este fim de semana, a Gen Z saiu também às ruas de Marrocos

29 de setembro 2025 - 16:18

Sábado e domingo houve protestos em muitas cidades marroquinas. A polícia deteve mais de uma centena de manifestantes pacíficos e impediu o acesso a muitas zonas. “Não queremos o Campeonato do Mundo, queremos cuidados de saúde” foi uma das palavras de ordem.

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Manifestantes em frente à polícia em Rabat.
Manifestantes em frente à polícia em Rabat. Foto de JALAL MORCHIDI/EPA.

Este sábado e domingo houve protestos em Marrocos por uma “reforma do sistema educativo e dos serviços de saúde pública”. Estes foram convocadas por um coletivo chamado “GenZ 212” a partir da plataforma Discord. Não se conhecem os seus integrantes mas o grupo apresenta-se como “um espaço de discussão” à volta de “questões como a saúde, a educação e a luta contra a corrupção”.

Segundo a agência noticiosa francesa AFP, no domingo “dezenas de pessoas foram detidas” em Rabat e impedidas de aceder a determinadas partes do centro da cidade.

A repórter do Mediapart especifica o que testemunhou em Casablanca: “a multidão, composta principalmente por jovens, não conseguiu aceder ao Parque da Liga Árabe, que estava bloqueado por um longo cordão policial. Tiveram de vaguear pelos dois lados do Boulevard Hassan II, gritando o seu pacifismo. As famílias que vieram passear na Praça Mohammed V assistiram, espantadas, aos jovens a serem levados em carrinhas da polícia”.

No dia anterior, já o mesmo tinha decorrido com muitas das pessoas que procuraram manifestar-se a serem detidas. Camélia Echchihab conta como, ainda em Casablanca, no sábado, os manifestantes tinham pretendido chegar à Praça Sraghna com a polícia a expulsá-los, “empurrando-os para as ruas estreitas do bairro operário de Derb Sultan. Durante muito tempo, pequenos grupos dispersavam-se e depois reuniam-se, num incessante vaivém com a polícia”.

Manifestantes pacíficos detidos, organizações da sociedade civil e partidos criticam

Souad Brahma, dirigente da Associação Marroquina de Direitos Humanos, não poupa nas palavras: “este fim de semana pode ser considerado um momento histórico: demonstrou a capacidade de uma geração se organizar fora das estruturas tradicionais e fazer ouvir a sua voz à escala nacional”.

O seu colega Hakim Sikouk, presidente da secção de Rabat da mesma associação, confirma que contabilizou este domingo “mais de cem detenções em Rabat e dezenas de outras em Casablanca, Marraquexe, Agadir e Souk Sebt”. Este dirigente associativo avançou ainda que os jovens detidos em Rabat no sábado foram sendo libertados progressivamente.

Em comunicado, a ATTAC CADTM Marrocos também denuncia a “repressão violenta” das manifestações pacíficas dos jovens da “Geração Z”, indicando que entre as “centenas de jovens” detidos havia militantes da sua organização.

A organização denuncia a “restrição crescente das liberdades fundamentais”, ao mesmo tempo que afirma a a sua solidariedade com “esta juventude que recusa a marginalização e a ausência de perspetivas”. O coletivo considera que as mobilizações “exprimem uma rejeição clara das políticas económicas e sociais responsáveis pela pobreza, desemprego e degradação do poder de compra, enquanto uma minoria continua açambarcar as riquezas”.

Os partidos da oposição, entre os quais a Federação da Esquerda Democrática e o Partido Justiça e Desenvolvimento, juntaram-se igualmente às críticas das associações de defesa dos direitos humanos. O primeiro suspendeu a sua participação nas consultas do Ministério do Interior sobre reforma da lei eleitoral, dizendo que as eleições perdem significado quando as liberdades fundamentais são violadas.

Os organizadores fazem questão de manter a distância face aos partidos. Foi o que fizeram com uma mensagem endereçada a Nabila Mounib, deputada do Partido Socialista Unificado, que tinha participado nas manifestações de domingo em Casablanca: “Obrigado pela participação [...]. No entanto, nós, jovens, não estamos filiados em nenhum partido ou movimento político.”

Oito grávidas mortas num hospital desencadearam raiva popular

Para além das desigualdades, há um motivo próximo que levou a que estejam a acontecer protestos em nome da “geração Z” em Marrocos que se sucedem aos de outros países. Recentemente, oito mulheres grávidas que tinham sido internadas para fazer cesarianas num hospital público em Agadir morreram.

Depois disso, o diretor do hospital e vários altos funcionários da administração regional foram despedidos, foi desencadeada uma investigação ao caso, inspeções em vários hospitais e anunciados investimentos. Mas isso não impediu que, a 14 de setembro, houvesse uma primeira manifestação contra as condições do hospital que acabou reprimida. Na semana seguinte, foram marcados mais dois protestos, em Tiznit e Essaouira, mas acabaram por ser proibidos e perto de uma dezenas de pessoas foram presas.

Não queremos o Campeonato do Mundo, queremos cuidados de saúde”: Movimento apela à continuação dos protestos

No seu canal, o coletivo GenZ 212 refere o sucesso das mobilizações de domingo, anunciando que isto é apenas o começo dos protestos pacíficos.

Para o grupo, as manifestações mostraram a “vitalidade e força da juventude marroquina na defesa dos direitos fundamentais à saúde, educação e luta contra a corrupção”.

De acordo com eles, houve manifestações pelo menos em onze cidades. Uma das principais palavras de ordem foi “não queremos o Campeonato do mundo, queremos cuidados de saúde”.