O debate sobre a dívida que está na origem das políticas recessivas na Europa é uma estreia no parlamento francês. E surge pela mão do grupo parlamentar da Front de Gauche, que esta quinta-feira tem o poder de decidir a ordem de trabalhos do plenário, uma prerrogativa regimental que lhe é dada uma vez por ano.
“A dívida é um instrumento formidável de dominação e de pressão sobre as políticas públicas, bem como sobre as escolhas económicas e sociais”, explicou o relator da proposta, Nicolas Sansu, à agência France Presse. Na apresentação da iniciativa estiveram presentes representantes do Syriza e do partido alemão Die Linke. “A dívida é um pretexto para uma ofensiva neoliberal, e a Grécia é usada como cobaia para testar o limite da tolerância de um povo, antes de se aplicar esta política em toda a Europa”, declarou Vangelis Goulas, representante do Syriza em França.
O relatório em debate contém seis propostas: a organização de uma grande conferência europeia sobre a dívida; a transparência sobre os últimos beneficiários dos títulos de dívida; a necessidade de pôr em prática os instrumentos de financiamento da dívida à margem dos mercados financeiros; a necessidade de uma verdadeira separação bancária e de uma verdadeira taxa sobre as transações financeiras para regular o setor financeiro; a urgência de um debate sobre as consequências da política monetária do BCE e a sua ligação com a explosão das desigualdades; e a exigência de travar as políticas recessivas e de austeridade.
Estas propostas receberam o apoio da comissão de Assuntos Europeus do parlamento francês, mas foram depois chumbadas na comissão de finanças com os votos dos deputados socialistas.
Referindo-se à recente injeção de liquidez do BCE no sistema financeiro europeu, Nicolas Sansu diz que é uma medida perigosa. “Se o BCE tivesse posto 100 mil milhões num fundo de investimento para a transição ecológica, isso seria uma excelente medida. Mas, fiel aos seus cânones ortodoxos, ele enche de liquidez os bancos privados, que a transforma em títulos para que a bolsa volte a comprar ações. Estamos num manicómio!”