Está aqui

Desvantagens das apps de serviços de transporte/táxi

Não, esta não é a revolução cor de rosa na mobilidade urbana. É, no essencial, a flexibilização total e desregulada das relações de trabalho em mais um setor de atividade, à semelhança do que vem acontecendo em muitos outros. Artigo de Miguel Figueiredo.
Foto de Fabio Sola Penna, Flickr.

Nem tudo são rosas na vaga de aplicações de transporte individual que florescem como cogumelos, e não é fácil perceber o maravilhamento que certas pessoas sentem por elas. Afinal, estas pérolas da tecnologia moderna oferecem simplesmente serviços de transporte. É incrível como um serviço tão banal e básico, que de resto já está garantido pelos táxis, pode gerar tanta alegria, como se fosse a reinvenção da roda. Ademais, tem desvantagens importantes:

1) Deixas de poder simplesmente ligar a chamar um táxi, a forma mais rápida e simples de pedir boleia. E se ficares sem Internet numa zona remota, ainda mais saudades terás deste método clássico.

2) Se perderes ou te roubarem o telemóvel, ficas impossibilitado de apanhar um táxi, porque os condutores deixam de poder parar na rua sem serem requisitados através de uma app. E se ficares sem bateria, também não podes chamar uma viatura pelo telemóvel de um passante amigo ou num café, porque o pagamento no final da viagem tem de ser feito pelo mesmo telemóvel que a requisita.

3) Estas apps trabalham exclusivamente com falsos recibos verdes. Quem seja contra a precarização do trabalho, não pode apoiar estes modelos de negócio. Uma destas empresas, com o intuito de convencer taxistas profissionais a juntarem-se-lhe, explica no seu site: "os clientes chamam-no diretamente, não o fazem através de uma central. Sem longos contratos vinculativos, sem custos fixos, sem custos de aquisição." Ou seja, esqueçam férias pagas, subsídio de alimentação, seguros de trabalho ou saúde, licenças de paternidade e maternidade, baixas médicas, indemnização por despedimento e todos os demais direitos garantidos por um contrato de trabalho individual ou coletivo.

Não, esta não é a revolução cor de rosa na mobilidade urbana. É, no essencial, a flexibilização total e desregulada das relações de trabalho em mais um setor de atividade, à semelhança do que vem acontecendo em muitos outros. A falta de perceção e de união em torno deste problema traz à memória o poema batido de Brecht sobre a indiferença. Curioso é também ninguém se lembrar do fim anunciado da profissão de condutor, e portanto de todas estas querelas de taxistas contra o futuro, quando os carros autónomos, já em testes por todas as grandes marcas de automóveis, se banalizarem.

Mais revolucionário seria implementar um sistema de bicicletas e de vias para ciclistas, com vantagens óbvias: mais saudável, barato e ecológico. Tenho dito.

Miguel Figueiredo, tradutor

Artigos relacionados: 

Termos relacionados Comunidade
Comentários (1)