Em 1987, o governo português chefiado por Aníbal Cavaco Silva votou contra uma resolução que exigia a libertação incondicional de Nelson Mandela na ONU, Juntando o seu voto apenas aos Estados Unidos de Reagan e ao Reino Unido de Margareth Thatcher. A resolução pode ser lida aqui (em inglês).
A resolução da Assembleia Geral é a 42/23A e tem como título “Solidariedade com a Luta de Libertação na África do Sul”. Teve 129 votos a favor, 3 contra e 23 abstenções. A votação, país por país, pode ser conferida aqui.
Mandela ficaria ainda mais três dos 27 anos que passou na prisão.
Hoje [este artigo foi publicado em dezembro de 2013], o mesmo Aníbal Cavaco Silva que mandou votar contra a libertação do líder sul-africano, elogia a sua estatura moral e lembra o “extraordinário legado de universalidade que perdurará por gerações”.
Outra resolução
A mancha que essa votação ao lado dos últimos defensores do apartheid deixou em Portugal não desaparece pelo facto de o país ter votado a favor de uma outra resolução, mais moderada, mas que exige a libertação de Mandela. Numa comparação entre as resoluções A e G, salta à vista que esta última não se refere à legalização do Congresso Nacional Africano, de Mandela, partido que se encontrava banido. A resolução G pode ser lida no mesmo PDF que contém a A e a votação está aqui.
Seria interessante ouvir as explicações do então ministro dos Negócios Estrangeiros, João de Deus Pinheiro, sobre os motivos destas votações contraditórias, que ocorreram no mesmo dia. Os EUA e a Grã-Bretanha votaram contra as duas.
A memória não é curta
Numa nota no Facebook, Francisco Louçã lembrou este facto e comentou. “A memória não é curta”.
A eurodeputada Ana Gomes recordou uma outra votação das Nações Unidas sobre as crianças vítimas do apartheid: “Lembro-me de um episódio em 1989, quando tínhamos uma resolução sobre as crianças vítimas do apartheid apresentada pelo grupo africano. Vergonhosamente, tivemos instruções para votar com os Estados Unidos e a Grã-Bretanha, numa posição contrária a essa resolução”, disse à TVI24, acrescentando que “havia muita gente em Portugal que achava que os nossos interesses estavam do lado do apartheid”. O primeiro-ministro era, igualmente, Cavaco Silva.