Lembrando que o país vive “numa situação de forte contenção orçamental”, o professor do Instituto Superior de Economia e Gestão afirmou, em declarações à agência Lusa, que “ao descurarmos a coesão social estamos a pôr em causa, não só a situação dos pobres, mas também a qualidade da nossa democracia e da nossa vida em comum”.
Carlos Farinha Rodrigues alertou ainda que, mesmo que haja uma inversão das atuais políticas, “vai demorar muitos anos até reparar os danos que ocorreram durante estes três ou quatro anos”.
“As políticas deste governo agravaram claramente a situação, em termos de pobreza”, apontou o economista que se ocupa das questões da desigualdade, defendendo que o problema reside essencialmente num modelo económico “assente em baixos salários e assente em baixos níveis de qualificação”.
A desresponsabilização do Estado no que respeita à luta contra a pobreza também foi alvo de crítica por parte do professor de economia.
Crianças são as mais afetadas pelo agravamento da pobreza
Segundo Carlos Farinha Rodrigues, as crianças têm sido as mais flageladas pelas políticas de austeridade, tendo os cortes nas prestações sociais atingido “fortemente os indivíduos mais pobres”.
Como exemplo, o economista referiu as alterações no Rendimento Social de Inserção, que fizeram com que “o peso das crianças passasse a valer menos”, penalizando mais “as famílias com crianças e em particular as famílias alargadas com crianças”.
O presidente da Cáritas Portugal também alertou para esta mesma realidade, frisando que Portugal está “na linha da frente” no que respeita à pobreza infantil.
“A pobreza infantil compromete o futuro, porque mesmo que possamos ir resolvendo problemas de carência alimentar, e tem havido um esforço muito grande para que isso aconteça, nós temos que ver e fazer a analogia entre o aumento da pobreza, os níveis de insucesso escolar e de abandono escolar”, destacou.