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BCE aprova novo aumento dos juros apesar dos riscos de recessão na Zona Euro

Com a nova subida dos juros, o BCE pretende combater a inflação através da restrição da procura, o que afetará a atividade económica, o emprego e, com isso, os rendimentos. Mas o próprio BCE reconhece que a origem da inflação não está na procura.
Foto Kārlis Dambrāns/Flickr

A economia da Zona Euro está a atravessar um período de crescentes dificuldades face à escalada dos preços da energia. O aumento dos custos da eletricidade, do gás e dos combustíveis está a afetar o rendimento disponível das famílias e a pressionar os orçamentos das pequenas e médias empresas, o que pode levar a uma vaga de falências e a uma quebra significativa da produção no próximo ano.

No entanto, o Banco Central Europeu (BCE) não recuou na inversão da política monetária e anunciou uma nova subida acentuada dos juros, da ordem dos 0,75 pontos percentuais. A confirmar-se esta subida, a taxa de juro de refinanciamento passaria para 2% e a taxa de depósito passaria para 1,5%.

O objetivo do banco central é travar a inflação, que atingiu em Setembro um novo máximo histórico desde a criação da moeda única – fixou-se em 9,9% face ao mesmo mês do ano anterior. No entanto, a receita do BCE é drástica: subir os juros e encarecer o crédito, de forma a reduzir o investimento e o consumo nas economias, reduzindo assim a pressão sobre os preços.

Com a nova subida dos juros, o BCE pretende combater a inflação através da restrição da procura, o que afetará a atividade económica, o emprego e, com isso, os rendimentos. No entanto, importa lembrar que a origem da inflação não está num excesso de procura, mas sim nos constrangimentos da oferta que dificilmente serão resolvidos pela política monetária. A própria presidente do BCE, Christine Lagarde, reconheceu-o recentemente: “se a causa [da inflação] é predominantemente do lado da oferta e motivada pela escalada dos preços da energia, isso é trabalho para outros”.

Política monetária agrava o risco de recessão

Apesar de o PIB da Zona Euro ter crescido 0,8% em termos homólogos no segundo trimestre deste ano, há indícios de que a economia europeia já tenha entrado em crise no terceiro trimestre (que terminou em Setembro). Um relatório da agência Standard & Poor’s, citado pelo Público, mostra que os índices de atividade económica estão a cair, apontando para o risco de recessão já neste trimestre e sobretudo no próximo ano.

A economia da Zona Euro deverá contrair 0,2% nos últimos três meses do ano e manter o registo negativo no próximo ano, o que significa que a região entrará em recessão técnica (dois trimestres consecutivos em que o PIB tem uma evolução negativa). Para isso contribui, em larga medida, o abrandamento da produção industrial na Alemanha e em França.

Tudo indica que a subida das taxas de juro por parte do BCE irá agravar esta tendência. Além disso, o banco central deverá começar em breve a discutir os planos para reduzir o volume de títulos de dívida pública que detém no seu balanço. Depois de, nos últimos anos, ter adquirido dívida pública dos países para reduzir as taxas de juro e impedir problemas de financiamento como os que aconteceram na última crise financeira, o BCE pode começar a libertar-se destes ativos, o que poderia levar a uma subida dos juros da dívida pública dos países da periferia, como Portugal, Espanha, Grécia ou Itália.

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