Itália

Armani e Dior, produtos de luxo, condições de trabalho de miséria

18 de julho 2024 - 18:37

Em Milão descobriram-se oficinas que fornecem as marcas de luxo com condições de trabalho deploráveis e baixos salários. Ao mesmo tempo, as empresas gastam milhares em marketing para vender a ideia de que os seus produtos são artesanais e que praticam a “responsabilidade social”.

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Lojas da Dior e Armani em Singapura.
Lojas da Dior e Armani em Singapura. Foto de Michael Gwyther-Jones/Flickr.

A Autoridade da Concorrência informou esta quarta-feira que está a investigar se as marcas de luxo Armani e Dior estão a enganar os consumidores depois da Procuradoria de Milão ter descoberto oficinas nos arredores daquela que é considerada a capital da moda italiana em que trabalhadores, muitas vezes imigrantes sem papéis, são mal pagos, produzindo bolsas para estas marcas que são compradas a preço muito baixo e vendidas como bens de luxo.

Na ocasião, várias empresas que fornecem a Dior e a Armani, e que são de propriedade chinesa, foram colocadas sob investigação, tendo sido nomeados comissários para supervisionar se as oficinas passariam a cumprir as regras.

A Dior, propriedade da francesa LVMH, remete responsabilidades totalmente para aquelas empresas. Diz à Reuters que não lhes vai fazer novas encomendas e que “apesar de auditorias regulares” os fornecedores conseguiram “esconder estas práticas”. A Armani emitiu uma declaração a dizer que espera um “resultado positivo” das investigações e que vai cooperar com elas.

No que diz respeito à Autoridade da Concorrência, o que está em causa é uma “possível conduta ilegal na promoção e venda de artigos e acessórios de vestuário, em violação do Código do Consumidor”, o que pode valer uma multa entre 5.000 e 10 milhões de euros. As marcas usam grandes orçamentos de marketing para projetar um imagem de glamour, criar a ideia de uma produção artesanal de grande qualidade e vangloriar-se da responsabilidade social das empresas.

O supervisor italiano defende que “em ambos os casos, as empresas podem ter emitido afirmações falsas sobre a sua responsabilidade ética e social, em particular no que diz respeito às condições de trabalho e ao cumprimento da lei pelos seus fornecedores”.

A declaração desta entidade acrescenta que “para fazer certos artigos e acessórios de roupa as empresas alegadamente utilizam fornecimentos de oficinas e fábricas que empregavam trabalhadores que receberiam salários inadequados”, que “trabalhariam horas acima dos limites legais e em condições de saúde e segurança inadequadas, em contraste com os níveis de excelência produtiva de que as empresas se orgulham”.