Américo Amorim vende participação no BIC a Isabel dos Santos e Fernando Teles

30 de setembro 2014 - 13:51

A bilionária angolana e o presidente executivo do BIC Angola concentram agora o capital da instituição e também o poder de decisão acionista, segundo avança o jornal Expresso. A atividade do banco em Portugal foi impulsionada pela aquisição a preço de saldo do BPN, em 2012.

PARTILHAR

Os empresários Isabel dos Santos e Fernando Teles adquiriram a participação, de 25%, de Américo Amorim no Banco BIC Português. A filha do presidente angolano José Eduardo dos Santos e o CEO do BIC Angola compraram ainda a posição de 10% da Ruasgest, empresa com negócios no Brasil, essencialmente no setor dos transportes, e que é detida por António Ruas.

Os 35% do capital do BIC agora adquiridos permitem a Isabel dos Santos e a Fernando Teles concentrar o capital da instituição e também o poder de decisão acionista. O empresário fica com 37,5% do capital do banco, aos quais juntam-se ainda 5% distribuídos pelos seus administradores. A sua soma - 42,5% - equivale à participação detida pela bilionária angolana.

O Banco BIC português fechou 2013 com um ativo líquido de perto de 5,5 mil milhões de euros, 3,2 mil milhões de crédito a clientes bruto e 3,8 mil milhões de recursos de clientes no balanço. O resultado líquido fixou-se em 2,5 milhões de euros.

Já nos primeiros meses de 2014, a instituição financeira liderada pelo ex-ministro de Cavaco Silva, Mira Amaral, registou um resultado líquido de 3,63 milhões de euros.

Atividade do BIC Portugal foi impulsionada pela aquisição, a preço de saldo, do BPN

O BIC Portugal instalou-se no país em 2008, e conta com uma estrutura acionista idêntica ao Banco BIC de Angola. A sua atividade no país foi impulsionada pela compra do BPN, por 40 milhões de euros, em 2012.

A transação, questionada pela própria Comissão Europeia, que manifestou dúvidas sobre se não teria sido mais barato ao Estado português proceder à liquidação do banco, deixou um buraco no erário público de proporções gigantescas, podendo a perda assumida pelos contribuintes chegar aos sete mil milhões de euros.

Fernando Teles tem, contudo, uma perspetiva diferente. Em declarações à agência Lusa, o CEO do BIC Angola afirmou que, com a compra do BPN, o grupo ajudou Portugal a resolver um "problema difícil", e que o preço da operação foi "bom" para o Estado português.

Isabel dos Santos reforça estatuto de maior investidor de Angola em Portugal

Tal como sublinha o jornal Público, com a compra de capital do BIC a Américo Amorim, a angolana Isabel dos Santos vê reforçado o título de maior investidor de Angola em Portugal, a seguir à Sonangol.

Os negócios com o “Rei da Cortiça” não se limitam à banca. Além da parceria que mantiveram, entre 2006 e 2009, em Angola, e que envolveu a empresa de cimento Ciminvest, a empresária e Amorim partilham interesses no setor energético.

Isabel dos Santos e a Sonangol estão indiretamente na Galp Energia. A Esperanza - detida em 55% pela Sonangol e em 45% por Isabel dos Santos - controla 45% da Amorim Energia. A Amorim Energia detém, por sua vez, 38,34% da Galp.

A filha do presidente angolano José Eduardo dos Santos controla ainda a NOS em parceria com a Sonae através de uma sociedade - a ZOPT - que detém 50,01% do capital da empresa.

Isabel dos Santos é também a segunda maior acionista, através da Santoro Finance, do Banco Português de Investimento(BPI), onde detém 18,6%.

Fernando Teles confirmou interesse do BIC na compra de outros bancos

Em declarações à agência Lusa, o presidente do Conselho de Administração do BIC, Fernando Teles, confirmou que o grupo, através de Portugal ou de Angola, poderá comprar bancos à venda em Portugal, caso se revelem "bons negócios".

"Estamos analisar alguns bancos em Portugal que estão à venda, mas não temos nenhuma decisão. Até porque temos o compromisso com o Governo português de, através do BIC Portugal, não fazer mais investimento ou fazer investimentos pequenos", esclareceu o empresário em julho, quando questionado sobre o interesse na compra de redes ou carteiras de ativos das operações do Barclays ou BBVA em Portugal.

Ainda que a transação através do banco BIC português esteja condicionada pelo acordo de compra ao Estado do BPN, que limita outras aquisições durante mais três anos, Fernando Teles avança a possibilidade de “o fazer via BIC Angola”.