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Alemanha: mercado de trabalho não acompanha o crescimento económico

Se não se verificar nenhum impulso proveniente dos países da zona Euro para onde a Alemanha exporta, a situação tornar-se-á difícil, diz um responsável federal, que prevê aumento da precariedade e queda de salários.
Manifestação do sindicato metalúrgico IG Metall. Foto de INKE.Klingentha/Zwota

O crescimento da economia alemã não vai trazer nenhum “boom” de crescimento dos postos de trabalho. Pode até mesmo suceder que a crise do Euro inutilize alguns progressos verificados no respectivo mercado. Quem o diz é Frank-Jürgen Wiese, o director da Bundesagentur für Arbeit, a repartição federal responsável pelo mercado de trabalho e pelo acompanhamento do desemprego e da situação social dos trabalhadores ligada ao desemprego, em entrevista ao Der Spiegel. Frank-JürgenWiese afirma que a crise das dívidas é um perigo para a conjuntura alemã. Os riscos vêem dos países da zona Euro, para os quais a Alemanha exporta, e que são, portanto, co-responsáveis pelo crescimento alemão. Se não se verificar nenhum impulso proveniente dos países da zona Euro para onde a Alemanha exporta, a situação tornar-se-á difícil, já que, como Frank-Jürgen Wiese reconhece, até agora a economia e o mercado de trabalho alemães retiraram um grande proveito de uma Europa comum saudável.

Relativamente à discrepância entre o crescimento económico e a falta de crescimento correspondente dos postos de trabalho, Frank-Jürgen Wiese diz com toda a clareza que a indústria alemã vai aumentar a capacidade de produção económica, mas não o número de postos de trabalho. E mais ainda, nem prevê o crescimento dos postos de trabalho, nem tão pouco melhorias salariais nos que já existem. Pelo contrário.

Aumento da precariedade

Frank-Jürgen Wiese refere que a situação alemã mostra uma clara tendência para transformar as situações dos contratos de trabalho a tempo inteiro em contratos a tempo parcial, e ainda de crescimento dos chamados “minijobs”, que são situações, hoje em dia cada vez mais generalizadas na Alemanha, de trabalho parcial precário, isento de impostos, mas também sem dedução de descontos para a segurança social, e que não pode ultrapassar uma remuneração máxima de 400 euros mensais. O que tudo, na prática, significa, que o mesmo volume de trabalho vai passar a ser dividido por mais trabalhadores e esta é uma tendência firme para os próximos anos. Simultâneamente, vai-se verificar um crescimento do trabalho temporário e um decréscimo dos contratos de trabalho sem prazo. Para o desenvolvimento dos salários, a consequência é que, tendencialmente, e apesar do crescimento económico, os salários vão descer.

Esta tendência é ainda reforçada pelo facto de trabalhadores da Europa do Leste passarem a ter livre acesso ao mercado de trabalho alemão a partir de 1 de Maio de 2011. A Bundesagentur für Arbeit não conta com um número tão grande de trabalhadores que se torne num peso para o mercado de trabalho alemão, admitindo, no entanto, que tal possa ocorrer em zonas de fronteira. O que mais preocupa Frank-Jürgen Wiese é a liberdade de prestação de serviços. É uma situação difícil, porque se tem observado que as firmas de trabalho temporário alemãs já estão, neste momento, a abrir sucursais na Polónia, e em outros países do Leste e, teoricamente, a partir de Maio, vão poder colocar estes seus trabalhadores aí recrutados, com salários polacos, no mercado alemão, provocando uma espiral de descida nos salários alemães e uma distorção no mercado de trabalho interno: um empresário alemão, que não tenha uma sucursal na Polónia, não vai poder concorrer contra salários de três, quatro ou cinco euros à hora. Esta situação é ainda mais grave dado o facto de na Alemanha não existir um salário mínimo.

João Alexandrino Fernandes

Fonte: „Arbeitsagentur-Chef prophezeit Schrumpflöhne!entrevista a Frank-Jürgen Wiese por Yasmin El-Sharif, em Der Spiegel, edição online de 20.01.2011, http://www.spiegel.de/wirtschaft/soziales/0,1518,740172,00.html,


 

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Sobre o/a autor(a)

Professor universitário em Tübingen, Alemanha
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