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93% das manifestações antirracistas nos EUA foram pacíficas, diz relatório

Os dados vêm contradizer as afirmações de Donald Trump, que afirmara que as manifestações do movimento Black Lives Matter estão associadas a violência e a desordem. O presidente dos EUA tem apelidado os ativistas antirracistas de “terroristas domésticos” da “esquerda radical”.
93% das manifestações antirracistas nos EUA foram pacíficas, diz relatório
O relatório fala no aumento “preocupante” da violência e intimidação armada por parte de atores individuais, incluindo ataques com carros contra manifestantes. Fotografia de Ana Mendes.

As conclusões de um relatório que analisa a violência policial nos Estados Unidos da América afirmam que a maioria dos milhares de protestos anti-racismo e anti-violência policial que eclodiram este verão no país foram pacíficos, não tendo qualquer associado qualquer tipo de feridos ou danos materiais. O trabalho é do projeto US Crisis Monitor, responsável pela publicação do relatório "Manifestações e violência política na América: Novos dados para o verão 2020”. 

Estas conclusões vêm contradizer as afirmações do presidente do país. Donald Trump tem aproveitado as declarações à imprensa, comícios e publicações no Twitter para associar o movimento antirracista Black Lives Matter (Vidas Negras Importam, em português) a violência e a desordem nas ruas. 

A notícia é do jornal inglês The Guardian, que analisa o relatório americano e faz saber que não houve qualquer episódio de violência em 93% dos protestos que decorreram este verão após o assassinato de George Floyd e de Jacob Blake ter sido gravemente ferido depois de a polícia lhe ter disparado sete tiros nas costas. 

Porém, para a administração de Donald Trump, e segundo alguns dos republicanos que participaram na última convenção do partido, o movimento antirracista nos Estados Unidos é composto por “terroristas domésticos” da “esquerda radical” que promovem a violência e a desordem.

“Tem havido manifestações violentas e essas costumam ter uma grande projeção mediática. Mas se analisarmos para a generalidade das manifestações que têm acontecido, são geralmente pacíficas”, afirmou ao Guardian Roudabeh Kishi, diretor da organização responsável pelo trabalho.

Já a análise ao comportamento da polícia é diferente. Segundo as conclusões do relatório, o Governo dos EUA e a polícia têm recorrido a “uma abordagem de mão-pesada” face às manifestações, com as autoridades a usarem a força “mais vezes” do que seria preciso.

Um outro ponto destacado no documento é um aumento “preocupante” da violência e intimidação armada por parte de atores individuais, incluindo ataques com carros contra manifestantes em todo o país.

Para a análise foram contabilizadas 7.750 manifestações antirracistas entre maio e o final de agosto, num total de 2 mil locais dos EUA. Numa outra contagem foram incluídas mais de mil manifestações críticas das medidas de resposta à pandemia de covid19 no país. De acordo com essa contagem e análise, as forças policiais agiram mais vezes em manifestações relacionadas com o racismo, tendo também recorrido mais vezes à força, usando gás lacrimogéneo, balas de borracha ou bastões para atacar os manifestantes.

De maio até ao final de agosto, a investigação do Acled e da Universidade de Princeton, documentou um total de 7.750 manifestações relacionadas com o movimento “Black Lives Matter” em mais de 2 mil locais diferentes dos EUA, assim como mais de mil manifestações relacionadas com as medidas restritivas da Covid-19.

O projeto US Crisis Monitor é coordenado pela organização ACLED - Armed Conflict Location and Data project. Esta organização analisa a violência política e agitação social em todo o mundo e é considerada uma fonte credível, sendo o seu trabalho utilizado para contabilizar o número de mortos em conflitos como o que ocorre no Iémen, as mortes de civis por parte de vários governos no continente africano, ou ainda para o estudo da violência política contra as mulheres em todo o mundo.

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