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500 anos depois, zapatistas “invadem” Europa

Um grupo de indígenas do EZLN partiu por mar rumo a Espanha numa missão de solidariedade e desafio. Quem primeiro pisará solo europeu será Marijose, uma pessoa com identidade de género não-binária.
Esquadrão zapatista em viagem à Europa. Foto de Enlace Zapatista.
Esquadrão zapatista em viagem à Europa. Foto de Enlace Zapatista.

Dependerá dos ventos e marés. Mas pretendem chegar a Espanha por volta do 500º aniversário da destruição da capital Azteca, Tenochtitlán, pelos conquistadores. O chamado “Esquadrão 421” do Exército Zapatista de Libertação Nacional já navega pelo Atlântico e é composto por sete indígenas mexicanos: quatro mulheres, dois homens e “umoa outroa”, ou seja uma pessoa com identidade de género não-binária.

Será esta pessoa, Marijose, de 39 anos e que trabalha na promoção da saúde e no setor educativo, a primeira a pisar o solo europeu no que dizem ser “uma cacetada a toda a esquerda heteropatriarcal”, citando “o falecido subcomandante Marcos”.

A missão do pequeno barco é manifestamente ambiciosa: vêm dizer que “a invasão começou”. Só que esta invasão feita pela rota inversa do colonialismo traz “desafio” e “solidariedade”. Querem “abraçar com palavras todos aqueles que lutam, resistem e se rebelam” por este continente. Prometem igualmente mais do que palavras: “festas, danças, canções e cumbias... agitando os pavimentos e os céus distantes”. O exagero é uma arma. Frequente nos textos poéticos dos comunicados zapatistas. A modéstia também. E não entram em contradição. No mesmo comunicado zapatista pode ler-se que as duas mensagens que trazem são simples: “em primeiro lugar, não nos conquistaram, ainda estamos a resistir”; a segunda é que “não têm de nos pedir que os desculpemos por nada”.

O documento que divulgou inicialmente a viagem, assinado pelo Subcomandante Galeano, refere ainda as dificuldades com que esta se deparou e antecipa algumas que pode vir a encontrar. Diz que para conseguir fazê-la “tivemos de enfrentar reparos, conselhos, desalentos, apelos ao comedimento e à prudência, sabotagens claras e uma frase repetida até dar nojo: “isso que querem fazer é muito difícil, para não dizer impossível”. Isto para além dos “obstáculos do governo supremo e da sua burocracia ignorante, néscia e racista”. À chegada esperam que o projeto de “internacionalismo sado-masoquista” não seja bem visto pela “ortodoxia tornada vanguarda, a qual, como deve ser, vai tão à frente das massas que não se consegue ver”.

Desde o primeiro dia de 1994, no momento exato em que o NAFTA, o acordo de comércio norte-americano, começava a vigorar, que o EZLN mantém o controlo de territórios no estado de Chiapas geridos a partir da base.

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