O conjunto do Conselho Editorial da Neuroimage, uma revista científica líder na sua área, demitiu-se em protesto contra a “ganância” da editora Elsevier. São mais de 40 cientistas de algumas das mais prestigiadas universidades do Reino Unido, como a Universidade de Oxford, o King’s College de Londres e a Universidade de Cardiff. Pretendem agora criar uma revista científica sem fins lucrativos de acesso livre para fazer a diferença face às práticas corporativas.
A notícia foi avançada pelo Guardian que já antes tinha analisado os gigantescos lucros da indústria das revistas científicas, concluindo que por exemplo a Elsevier, gigante neerlandês do setor, tem margens de lucro de perto de 40%, de acordo com as contas de 2019, que têm suplantado a Apple, a Google ou a Amazon, e o seu rendimento cresceu mais 10% no ano passado, tudo apesar de se tratar de publicações com pouca audiência.
A Neuroimage, publica alguns dos mais importantes estudos da sua área. É de acesso livre mas obriga os investigadores a pagar cerca de 3.100 euros por cada artigo publicado. Os editores agora demissionários classificam esta prática como “não-ética”. Chris Chambers, da Universidade de Cardiff, é um deles e diz que “a Elsevier é predadora da comunidade académica, reclamando enormes lucros enquanto acrescenta pouco valor à ciência”. Para ele, esta editora “é demasiado gananciosa”. É por isso que apela à comunidade académica que deixe de enviar artigos, “retirando o nosso consentimento para sermos explorados”.
O seu colega Stephen Smith, da Universidade de Oxford, que era editor-chefe daquela revista, sublinha que “os académicos não gostam da forma como as coisas estão mas os indivíduos sentem-se sem poder para fazer com que as grandes editoras comecem a comportar-se de forma mais ética”, estão pressionados a publicar nas revistas prestigiadas por causa das carreiras”. Este é mais um dos que disseram “basta” e a ripostaram com a consciência de que “ao retirar todos os editores para começar uma nova revista levamos a reputação connosco”.
O mesmo jornal adianta que as bibliotecas universitárias também estão fartas de serem vítimas de custos abusivos de manuais que os estudantes devem ler. Cita Chris Pressler, diretor da biblioteca da Universidade de Manchester que diz que “estamos a enfrentar um ataque permanente de modelos de preços exploradores, tanto no ensino quanto na investigação.” Caroline Ball, da biblioteca da Universidade de Derby University, diz que com estes preços se cria uma “hierarquia digital” entre quem tem possibilidades de comprar ou não, sublinhando que “há instituições que não conseguem suportar estes preços”. Ball é uma das responsáveis da campanha EbookSOS que pretende investigar este mercado das publicações de livros digitais e os seus preços “injustos” e regulamentá-lo. Esta campanha publicou uma lista que mostra as discrepâncias enormes entre os preços dos livros em papel e digitais. Os exemplos podiam multiplicar-se sempre no mesmo sentido. Mas pegando apenas num deles: o livro “Introduction to Global Studies” de John McCormick, editado pela Palgrave Macmillan custa em papel 32,99 libras, a licença de utilização para uma pessoa do ebook custa 268,88 libras.