Debate completo: Catarina Martins e Henrique Gouveia e Melo

23 de novembro 2025
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O debate deixou claras as diferenças entre os candidatos sobre o que está em causa no pacote laboral proposto pelo Governo e a forma de resolver as crises na saúde e habitação.

Catarina Martins estreou-se este domingo nos debates televisivos na pré-campanha para as presidenciais. O adversário foi Henrique Gouveia e Melo, que começou o debate tentando colocar a sua oponente no plano de representante partidária. “Ninguém me diminui por ter sido eleita”, respondeu Catarina, lembrando que “Gouveia e Melo decidiu ir almoçar com André Ventura a convite de um magnata. Isto sim é falta de independência: temos de decidir quem defendemos, se são os magnatas ou se é quem constrói o país”. Gouveia e Melo respondeu que “todos temos que conhecer os atores políticos e foi nesse sentido que aceitei o almoço”.

“Sou pelo mercado, pela livre iniciativa e pela propriedade privada”, autodefiniu-se Gouveia e Melo por oposição à adversária, admitindo a necessidade de “flexibilizar” as relações laborais por causa da “economia digital”. Questionado por várias vezes sobre quais os direitos laborais de que a lei não pode abdicar, o almirante candidato acabou por admitir que o aumento da duração dos contratos a termo não vai contribuir para a competitividade da economia.

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Ainda sobre o debate das leis laborais, além de “pagar menos pelas horas extraordinárias” e “propor que as pessoas mais jovens fiquem sempre com contratos a prazo”, Catarina acrescentou que o Governo pôs em cima da mesa nas negociações com a UGT “a possibilidade de quem já tem um contrato poder baixar de posição e salário porque o patrão quer”.

“Onde é preciso mexer é no oposto do que o Governo pretende, para que os jovens possam querer cá ficar e ter uma vida com sentido”, defendeu Catarina.

Evocando o papel das presidências abertas de Mário Soares nos bairros de barracas para chamar a atenção sobre o problema da habitação e as causas assumidas por Jorge Sampaio ao longo dos seus mandatos, Catarina Martins disse identificar-se com esta forma de intervenção na Presidência. Por exemplo, “uma Presidente tem de ter capacidade de falar sobre o acesso à saúde” e deve também “puxar pelo melhor que temos, pois temos um país em que há pessoas que fazem milagres para que as coisas funcionem”.

Gouveia e Melo defendeu por seu lado que o problema da Saúde “não é de recursos mas de organização interna”. Em seguida, disse que é necessário definir um rumo, que na sua opinião deve passar  por “um modelo mais híbrido com mais espaço para a medicina privada”.

Para Catarina Martins, o que é preciso é “reinventar” o SNS pois hoje o país é diferente de quando ele foi criado,  mais envelhecido e com mais doenças crónicas. Ou seja, na sua opinião o futuro não passa por “defender o modelo que tivemos nem de dar dinheiro aos privados”.

Ainda no capítulo da Saúde, Gouveia e Melo falou em “mudar a cultura de improviso e falta de rigor” no SNS, com Catarina a responder que a razão do improviso é que “as pessoas vão todas parar às urgências” por não terem outro acesso. Gouveia e Melo contra-argumentou que “as pessoas vão aos hospitais porque não têm dinheiro para cuidar da sua saúde”.

“Um Presidente da República tem de saber de que lado está”

O debate prosseguiu com o tema dos riscos para a democracia, que a resposta do almirante conduziu para o tema das escutas ao ex-primeiro-ministro António Costa e aos seus ministros. Gouveia e Melo diz que “deixámos construir um sistema de vigilância da classe política através de escutas que não estão controladas” e que “não podemos permitir que o poder judicial condicione o poder política”. Catarina concordou que “a Justiça tem de estar à altura da sua autonomia”, mas acrescentou aos riscos para a democracia a degradação do debate político e a degradação da vida das pessoas com o modelo da economia. E entre as causas que quer ver defendidas em Belém está a de “não podermos continuar a ter uma economia que vive do turismo e da especulação imobiliária e em que as pessoas depois não têm casa”.

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No plano da justiça fiscal, lembrou um estudo divulgado este domingo que diz que  Portugal perde por dia 2,9 milhões de euros com a fuga aos impostos das multinacionais, além de “termos um regime para residentes não habituais cuja despesa fiscal dava para contratar 60 mil enfermeiros”.

Em todas estas matérias, “um Presidente da República tem de saber de que lado está”, uma frase que Catarina repetiu várias vezes ao longo do debate.

Sobre a habitação, Gouveia e Melo disse partilhar da preocupação, mas não da solução “que passa por comprometer o pleno usufruto da propriedade privada”. Sobre a justiça fiscal, afirmou ser “contra qualquer fuga aos impostos, mas acho que o Estado asfixia as empresas e as pessoas”. Em ambos os temas, sem especificar que soluções defende.

O final do debate discutiu política de Defesa e NATO, com Gouveia e Melo a acusar Catarina Martins de ter defendido o “desarmamento unilateral”, sendo em seguida desmentido pela candidata. Por seu lado, Catarina perguntou se Gouveia e Melo mantinha a afirmação de que “a aliança com os EUA não garante a segurança da Europa” e se ainda era contra os 5% de despesa em defesa da NATO “porque isso significa favorecer a indústria de defesa alemã e francesa”. Gouveia e Melo respondeu agora que sem os EUA a segurança da Europa seria muito precária.

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