Amianto nas escolas: será desta?

porAndré Julião

29 de maio 2020 - 12:07
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É consensual que a promessa de Costa é uma enorme vitória, porque implica um compromisso claro com a comunidade educativa e ainda estamos bem longe das próximas eleições legislativas.

Fez há poucas semanas um ano que quatro agrupamentos de escolas do concelho de Loures entregavam na Provedoria de Justiça uma queixa contra o Ministério da Educação por inação na remoção do amianto dos respetivos estabelecimentos escolares.

Era o início de uma luta reivindicativa sem quartel pela eliminação daquele material cancerígeno das escolas do país, um combate que teria o mérito, porventura inédito, de juntar, do mesmo lado da barricada, alunos, professores, funcionários não docentes e encarregados de educação.

Nascia o MESA – Movimento Escolas Sem Amianto – um movimento orgânico e puro da sociedade civil, que nos meses seguintes, se espalharia de norte a sul do país, de Beja a Barcelos, do Seixal a Marco de Canaveses.

Pelo meio, ficaram dezenas de marchas, manifestações, ofícios, reuniões, audições na Assembleia da República, parcerias com outras organizações da sociedade civil, das quais se destacam a associação ambientalista Zero e a Fenprof – Federação Nacional de Professores, e muita, muita dedicação.

a luta contra o amianto nas escolas não terminou. Há ainda muito caminho pela frente. É consensual que a promessa de Costa é uma enorme vitória, porque implica um compromisso claro com a comunidade educativa

Ficou uma queixa do Estado português à Comissão Europeia e uma petição nacional que, com a ajuda dos parceiros de caminho – Zero e Fenprof –, reuniu mais de 5.600 assinaturas em menos de duas semanas e deverá ser debatida na Assembleia da República nos próximos meses.

Ficaram horas e horas de reuniões, dezenas de visitas a escolas e até o lançamento de uma plataforma de denúncias para escolas com amianto – “Há Amianto na Escola” – que ainda hoje recebe queixas de pais e alunos receosos e sem receio de reivindicar.

Um percurso que contou com a ajuda de muitos, desde logo diretores de escolas sem medo, professores com determinação, funcionários não docentes para quem a escola é mais do que família, e alunos com uma dinâmica de fazer inveja a boa parte da acomodada geração anterior.

Mas também com o auxílio de partidos políticos de vários quadrantes, de muitas associações de pais, de autarquias e de simples cidadãos e cidadãs que gostam e defendem a Escola Pública enquanto pilar da democracia e do estado social.

Infelizmente, e apesar das várias insistências, o MESA nunca foi recebido no Ministério da Educação e foi olhado com desconfiança por várias organizações cristalizadas do “establishment”, que pouco ou nada contribuem para a defesa efetiva de uma Escola Pública com todos e para todos, mas insistem em arrastar-se para alimentar o status quo, tantas vezes alimentado pelo contribuinte.

Uma enorme vitória da comunidade educativa

Há cerca de um mês, o MESA e a Zero fizeram um apelo ao Governo para que aproveitasse o encerramento ou diminuição significativa da atividade letiva para “pôr as mãos na massa” e iniciar as obras de remoção de amianto nos casos mais prioritários.

Da tutela, como tem sido hábito, nenhum comentário. Dos críticos do costume, o costume: desdém, negação, contra-argumentação falaciosa, um discurso vazio que vai fazendo escola e que teima em deixar andar o que precisa de ser travado e resolvido na hora.

De forma corajosa e arrojada, como aliás tem sido sempre a atuação do MESA de há um ano a esta parte, insistimos na proposta, consubstanciada em argumentos simples, mas óbvios e válidos e, acima de tudo, lógicos e racionais.

Três semanas depois, um projeto de resolução do Parlamento pedia ao executivo de António Costa a “elaboração urgente de uma lista das escolas públicas que contêm material com amianto” e a “calendarização das intervenções para a remoção do amianto e respetiva estimativa orçamental anual”.

Poucos dias mais tarde, o Primeiro-Ministro, António Costa - eclipsando por completo um cada mais ausente e desacreditado Ministro da Educação – anunciava perante a Comissão Política Nacional do PS, “um programa de estabilização económica e social do país, que vai prever um mecanismo de Simplex SOS para desburocratizar investimento e obras para a eliminação do amianto nas escolas”.

"Agora que as escolas estão fechadas, é também agora ou nunca que temos de eliminar o amianto das escolas. Temos de lançar uma grande operação de eliminação do amianto das escolas", enfatizava na ocasião António Costa.

Não faltou, como nunca faltará, quem viesse aproveitar-se e tentar colher os louros na altura de “apanhar as canas”. É triste, é pena, mas faz parte.

No entanto, a luta contra o amianto nas escolas não terminou. Há ainda muito caminho pela frente. É consensual que a promessa de Costa é uma enorme vitória, porque implica um compromisso claro com a comunidade educativa e ainda estamos bem longe das próximas eleições legislativas.

Mas, falta divulgar a lista atualizada de escolas com amianto, incluindo os níveis de prioridade atribuídos a cada uma, e elaborar e apresentar um calendário de remoções, nomeadamente as datas previstas de início e de conclusão das respetivas obras. E tanto a lista como o calendário devem ser tornados públicos e divulgados junto das respetivas comunidades escolares. E, depois, falta cumprir!

Da parte do MESA, continuaremos, com a determinação de sempre e o arrojo que nos carateriza, a reivindicar a remoção de amianto de todas as escolas do país, até que a última placa seja retirada. Será desta?

André Julião
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André Julião

Jornalista
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