Recessão só aumenta a dívida

07 de October 2011 - 2:24

Banco de Portugal agrava as previsões de contracção da economia para 2012, com queda do consumo privado, aumento do desemprego e desaceleração das exportações. Bloco adverte que a recessão provoca o aumento da dívida, o que empurra o país para a beira do abismo.

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Austeridade em cima da austeridade destrói a economia, destrói emprego. Foto de Paulete Matos

As projecções para a economia portuguesa publicadas nesta quinta-feira no Boletim Económico do Banco de Portugal prevêem um agravamento da recessão em 2012, com uma contracção do PIB de 2,2%, superior à queda de 1,9% prevista para este ano e superior também ao que o próprio Banco previra há três meses (-1,8%). Cai assim por terra a expectativa de que o próximo ano pudesse trazer os primeiros sinais de abrandamento da recessão.

O Boletim justifica as alterações com a ameaça da recessão que pesa sobre os Estados Unidos e a Europa, prevendo assim uma desaceleração das exportações, que ainda assim vê a crescerem em 2012 na casa dos 4,8%, mas abaixo da anterior projecção de 6,6% feita no Boletim do Verão.

Por outro lado, o relatório prevê que a austeridade imposta pelo governo e decorrente do acordo negociado com a troika vai pesar sobre o consumo privado, a que virá somar-se a continuação da tendência de destruição de emprego.

Quanto ao consumo privado, a projecção aponta para recuos de 3,8% em 2011 e de 3,6% em 2012, contra a estimativa anterior de queda de 2,9% em 2012. Esta estimativa tem em conta “uma evolução particularmente negativa no quatro trimestre” resultante do “impacto esperado da tributação extraordinária sobre o rendimento”, ou seja, a aplicação da sobretaxa adicional sobre o subsídio de Natal.

Quanto ao aumento do desemprego, o Boletim, prevê “uma redução do emprego de cerca de um por cento em 2011 e 2012, que se traduzirá num novo aumento da taxa de desemprego” com maior incidência no sector público, “em linha com a redução do número de efectivos das administrações públicas admitida”.

O Banco de Portugal afirma ainda que a meta para o défice das contas públicas de 2011, de 5,9% do PIB, só vai ser obtida “com medidas adicionais significativas”. Se estas medidas “assumirem um carácter temporário, o Orçamento do Estado para 2012 reveste-se de uma exigência adicional, devendo à partida incorporar um conjunto muito considerável de medidas estruturais”.

A inevitabilidade está a colocar o país no abismo, diz o Bloco

Para o deputado Pedro Filipe Soares, do Bloco de Esquerda, “onde não há política para o crescimento, instala-se a recessão. Onde se instala a recessão aumentam as dívidas. Onde aumentam as dívidas, atiram-se países para novos pedidos de resgate financeiro. Esse é o país para onde nos leva este governo. Em nome da inevitabilidade está a colocar o país no abismo. Esse é o caminho que não podemos aceitar.”

O deputado do Bloco recordou que no final de Agosto, o Documento de Estratégia Orçamental do governo previa uma recessão para 2012 de 1,8 pontos percentuais do PIB. Mas o cenário já piorou. “Apenas um mês depois, assistimos a uma derrapagem nas previsões governamentais de 0,5 pontos percentuais. De 1,8 passou a 2,3%. É uma diferença de 1000 milhões de euros, metade do subsídio de Natal dos portugueses. Este é o resultado da austeridade em cima da austeridade, que destrói a economia, destrói emprego e abre as portas à recessão”, disse, sublinhando que o Banco de Portugal confirmou essa derrapagem nas previsões para o crescimento da economia.

O Bloco adverte que a política da inevitabilidade está a construir o caminho para um novo pedido de resgate para Portugal. Pedro Filipe Soares alerta que as declarações de Passos Coelho, dizendo que Portugal não é a Grécia, coloca o nosso país dependente do futuro grego. “Estas declarações são um erro. Um erro grave, e produzem elas próprias as condições para Portugal estar mais dependente de um acordo com a troika ainda mais duro do que o actual.”

O deputado considerou igualmente erradas as declarações do Presidente da República admitindo a possibilidade de, perante o agudizar da incerteza sobre o futuro da Grécia, Portugal ter de recorrer a um novo plano internacional de resgate. “Estas declarações persistem no erro e não estão à altura das necessidades do país”, disse.