Greve geral paralisa Brasil nesta sexta-feira

27 de April 2017 - 17:47

Movimento opõe-se às contrarreformas de Temer e poderá ser o mais amplo da história do país. Objetivo é defender o direito de aposentadoria e princípios básicos da lei laboral. Por Luis Leiria.

porLuís Leiria

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Além da greve, haverá manifestações em todo o país. Foto de Rovena Rosa, Agência Brasil
Além da greve, haverá manifestações em todo o país. Foto de Rovena Rosa, Agência Brasil

Na noite de 13 para 14 de março de 1989, este correspondente que vos escreve viajou de S. Paulo para o Rio de Janeiro com o coração apertado. Uma greve geral estava prestes a começar, mas as dificuldades de realizar uma paralisação realmente geral num país continental, como o Brasil, são sempre enormes. Será que a segunda mais importante cidade do país iria acompanhar S. Paulo, onde a paralisação parecia estar garantida?

A chegada ao Rio, de manhã, devolveu-me a tranquilidade. Os cariocas faziam churrasco nas esquinas, o clima era de festa, não havia transportes nas ruas e visivelmente a ninguém lhe ocorrera ir trabalhar nesse dia. Foi a maior greve geral ocorrida até hoje no Brasil. Tudo indica que a paralisação desta sexta-feira dia 28 de abril será muito mais ampla e abrangente.

Defender o direito à reforma

Convocada por todas as centrais sindicais, esta greve será forte porque a população trabalhadora compreendeu que a chamada reforma previdenciária do governo Temer tem como consequência, se for aprovada, acabar com o direito à reforma das pessoas que descontaram uma vida inteira para isso.

Não adiantaram as promessas do governo de que nenhum direito seria atingido. Ninguém acreditou num presidente que tem apenas 4% de aprovação e que chegou ao cargo por via de um golpe parlamentar. Ninguém quer aceitar que as alterações para muito pior das regras de aposentadoria sejam votadas por uma câmara dos Deputados e um Senado povoados por centenas de indiciados em crimes de corrupção – e que têm direito a uma reforma privilegiada só pelo facto de serem parlamentares.

Por isso sucederam-se as decisões de categorias profissionais de apoio à greve geral. Os transportes públicos devem paralisar em cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Fortaleza e Porto Alegre. Os funcionários públicos federais, estaduais e municipais não irão trabalhar, os bancários de todo o país aderiram à greve, e até os professores das escolas particulares, mais difíceis de se mobilizarem, já anunciaram que não vão trabalhar.

Também os trabalhadores da indústria devem aderir em massa: metalúrgicos, trabalhadores da indústria petrolífera, da construção civil.

Apoio de setores da Igreja católica

Destaque também para a posição da Igreja católica. O arcebispo de Olinda e Recife, por exemplo, divulgou vídeo na sua página do Facebook convocando a população a participar da greve. "A classe trabalhadora não pode permitir que direitos arduamente conquistados com participação democrática sejam retirados”, afirmou. Outro exemplo é o do bispo da diocese de Santarém, no Pará, dom Flavio Giovanele, que gravou um vídeo convocando os fieis a se unirem ao protesto.

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil não declarou apoio oficial à greve, mas divulgou nota a criticar as mudanças no sistema de Segurança Social. “O sistema da Previdência Social possui uma intrínseca matriz ética. Ele é criado para a proteção social de pessoas (...) na justificativa da PEC 287/2016 não existe nenhuma referência a esses valores, reduzindo a Previdência a uma questão económica”, diz o texto.

Bloqueios de estradas, ocupações e manifestações de rua vão acontecer de norte a sul do Brasil. Veja aqui a lista das convocatórias.

Aprovada na Câmara dos Deputados a reforma laboral

Entretanto, na véspera da greve geral, a Câmara dos Deputados aprovou a chamada reforma trabalhista, que atinge duramente direitos dos trabalhadores consagrados desde os tempos de Getúlio Vargas. O projeto de lei foi aprovado por 296 votos a favor e 177 contra.

Entre outras medidas, o projeto determina que o que for negociado entre patrões e empregados prevalece sobre a legislação; dificulta o acesso dos funcionários públicos à Justiça do Trabalho; cria uma jornada intermitente de serviço, regulariza o home office e exclui os sindicatos das homologações dos despedimentos.

Um levantamento feito pelo site The Intercept Brasil concluiu que das 850 emendas ao projeto de lei apresentadas por 82 deputados durante a discussão do projeto na comissão especial, 292 (34,3%) foram integralmente redigidas em computadores de representantes da Confederação Nacional do Transporte (CNT), da Confederação Nacional das Instituições Financeiras (CNF), da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística). O relator, deputado Rogério Marinho, do PSDB, acolheu 52,4% das emendas.

O projeto passa agora ao Senado.

Luís Leiria
Sobre o/a autor(a)

Luís Leiria

Jornalista do Esquerda.net