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Não se pode adiar mais o investimento necessário no Metro do Porto

O investimento de hoje, que pode parecer um enorme encargo financeiro a curto prazo, quando eficaz e bem gerido, terá um retorno enorme a médio e longo prazo. Por Fernando Barbosa.
Foto de Alexandre Jorge, Flickr.

Nas sociedades modernas os transportes públicos são sinónimo de desenvolvimento social, económico e ecológico.

Os transportes públicos, quando bem estruturados, eficazes e competitivos, permitem ganhos a médio e longo prazo.

Portugal não é excepção. Atualmente, estima-se que estejam registados no país mais de cinco milhões de automóveis. Se compararmos este número com o desinvestimento efetuado nos transportes públicos dos últimos anos, encontramos já uma razão (enorme) para, por exemplo, a poluição das cidades, para o congestionamento das via.

Pegando no caso concreto do Metro do Porto, não se pode adiar mais o investimento necessário. O investimento de hoje, que pode parecer um enorme encargo financeiro a curto prazo, quando eficaz e bem gerido, terá um retorno enorme a médio e longo prazo.

O investimento tem que ser visto por dois caminhos. Por um lado, a manutenção do sistema actual. Por outro, o alargar da actual rede.

No que concerne ao sistema actual, deparamo-nos com a necessidade de investimento no material circulante, na via e nos recursos humanos.

O Sistema de Metro Ligeiro da Área Metropolitana do Porto(SMLAMP), desde a sua implementação, tem sido melhorado e tornado mais eficaz, nomeadamente com uma frequência de passagem maior, no entanto, leva a um maior número de quilómetros efectuados, assim como um desgaste maior na via, material circulante e recursos humanos.

Os veículos (especialmente os mais antigos) acusam o desgaste, principalmente com o aumentar da frequência de avarias, assim como a diminuição de conforto para passageiros e maquinistas. A isto, junta-se o desgaste normal da via, o que faz com que a insonorização seja deficitária, levando a que algumas viagens sejam uma autêntica tortura ao nível do ruído. Acresce que o maquinista desempenha a sua função na cabina, muitas vezes exposto a níveis de ruído incomportáveis.

Não se pode descurar também os recursos humanos necessários ao eficaz serviço prestado. Há necessidade de aumentar o efectivo. Ora, a maioria do efectivo (Reguladores/Maquinistas/Agentes de estação) entraram com 20/30 anos, tendo actualmente 30/40 anos. Como se compreende, as funções são exigentes, os horários são pesados, o que leva a um grande desgaste. O absentismo aumenta, o que leva a um aumento da carga de trabalho para os que ainda se aguentam. Acresce que, com o avançar da idade, a resistência física e mental dos trabalhadores também se vai deteriorando.

Salienta-se a necessidade de investir em mais material circulante (o que permitirá mais tempo para manutenções correctivas/preventivas e melhorias), um investimento na via, nomeadamente a correcção de balastro, nivelamento e esmerilamento onde necessário, e o reforço de meios humanos (que permitirá melhorar os serviços, conseguindo-se assim um melhor desempenho profissional e menor desgaste, o que aumentará o tempo útil de cada trabalhador, diminuindo o absentismo), assim como o reforçar da negociação colectiva, permitindo a que a empresa e as estruturas representativas dos trabalhadores encontrem soluções que melhorem o serviço público prestado e minimizem os riscos do desempenho da profissão.

No que concerne ao alargamento, é por demais evidente. Vários estudos, assim como vários exemplos, levam-nos aos factos. O facto é que actualmente a área metropolitana do Porto é uma “centrifugadora” de movimento de pessoas. Dependendo da hora, temos movimento de pessoas de todo o lado para o centro e do centro para todo o lado.

Parte deste movimento é efectuado pelo transporte particular (automóvel). Este facto leva a um aumento de poluição, perda de horas de trabalho, perdidas para as filas de trânsito, gastos em combustíveis fósseis (onde somos importadores), stress perda de qualidade de vida dos nossos cidadãos.

Se apostarmos no aumento da rede de Metro, aliada a interfaces com outros transportes, nomeadamente com passagem/estações interface com autocarros, comboios, e criação de grandes parques de estacionamento na periferia, vamos contribuir para o verdadeiro e sustentável desenvolvimento das nossas cidades, especialmente na área urbana do Porto.

Sabemos que, a curto prazo, o investimento é grande. Mas este investimento, a médio prazo, tem o seu reembolso garantido. Garantido através da melhoria ecológica, económica e social. Ecológica pelo facto de o transporte de metro ser ecológico e não poluente. Económico porque com menores deslocações em viatura automóvel própria reduz-se os gastos em combustível, aumenta-se a eficácia nas deslocações (estradas menos congestionadas e menos desgastadas com o transito intenso actual). E sociais, porque o transporte público é mais cómodo, evita o stress, e proporciona igualdade a todos os cidadãos nas suas deslocações.

O aumento da rede de Metro, com criação de parques de estacionamento junto a estações, aliado a uma oferta fiável de transporte público, fará com que a população aumente ainda mais a confiança no transporte de metro, que catapultará a procura deste meio de transporte, por ser mais rápido, mais pontual, mais barato. O investimento inicial será minimizado se forem criados mecanismos que canalizem para o investimento na Metro do Porto parte da poupança com a diminuição de tráfego automóvel (menor poluição ambiental, menor número de acidentes resultantes do tráfego intenso, menor número de horas de absentismo ao trabalho resultantes das intermináveis filas na hora de ponta, etc), assim como parte dos ganhos das autarquias, (nomeadamente na valorização dos terrenos e adjacentes à passagem e criação de novas estações, assim como no desenvolvimento da malha urbana sustentada e sustentável no movimento de pessoas, serviços e bens).

O sistema de transporte de metro no Porto, necessita de reforço de recursos humanos para permitir o alivio da carga horária e atenuar o desgaste (ainda mais que é um desempenho profissional por turnos com todos os handicaps que isso acarreta). Necessita de um reforço na manutenção, quer da via, quer do material circulante assim como o possível reforço do material circulante (cada vez mais os clientes são confrontados com viagens não efectuadas por falta de veículos para operação) e precisa que se avance no desenvolvimento da rede.

* Fernando Barbosa é delegado sindical no Metro do Porto e membro da Comissão Nacional do Trabalho do Bloco de Esquerda.

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