Islândia: população volta a dizer "não" ao pagamento da dívida da banca

Os islandeses votaram, novamente, em referendo que o Estado não deve pagar a dívida de cerca de quatro mil milhões de euros à Holanda e ao Reino Unido. De acordo com os resultados anunciados, o "não" ganhou com quase 60 por cento.

16 de abril 2011 - 1:20
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Há um ano atrás, protestos contínuos contra o acordo do pagamento da dívida dos bancos pelos contribuintes levaram o Presidente islandês a convocar o primeiro referendo que acabou por rejeitar maioritariamente o acordo (93% da população votou contra).

Na Islândia, a palavra de ordem “não pagamos a crise deles” é mesmo o mote que indica o caminho. Segundo os dados já disponibilizados pela televisão islandesa, 58 por cento dos eleitores votaram "não" e 42 por cento votaram "sim" ao pagamento de quase quatro mil milhões de euros a credores externos, nomeadamente à Inglaterra e à Holanda.

O referendo foi convocado pelo presidente da Islândia, Ólafujr Ragnar Grímsson, que a 20 de Fevereiro deste ano vetou, pela segunda vez, a lei IceSave (que tinha sido aprovada pelo Parlamento islandês).

Em causa estão, nomeadamente, quatro mil milhões de euros depositados em 700 mil contas bancárias na Holanda e Inglaterra, no agora falido banco online Icesave. Tratava-se de uma conta de poupança online, a Icesave, comercializada agressivamente no Reino Unido e na Holanda pelo banco Landsbanki - que foi o segundo maior da Islândia -, prometendo juros acima de seis por cento.

Os depósitos de estrangeiros foram reembolsados pelos respectivos governos - 3,9 mil milhões de euros -, que agora os querem cobrar a Reiquejavique.

O acordo rejeitado permitiria escalonar o pagamento da dívida até 2045, com uma taxa de juro de 3,3 por cento ao Reino Unido e de três por cento no caso da Holanda. Uma parte seria paga com a venda dos activos do Landsbanki, mas não se sabe ainda quanto seria - embora os partidários do "não" defendam que deveria chegar para o reembolso.

Esta foi a segunda vez que os islandeses decidiram se queriam ou não que dos seus bolsos saísse uma parte significativa do valor total das indemnizações que o governo da Islândia se comprometeu a pagar a Londres e a Haia.

Há um ano, um outro acordo, ainda menos favorável, tinha sido rejeitado com uma esmagadora maioria (93 por cento): previa uma taxa de juro de 5,5 por cento e o pagamento em 15 anos. Em 2010, tal como em 2011, o acordo foi enviado para referendo pelo Presidente da República, Ólafujr Ragnar Grímsson.

O Icesave foi uma das instituições financeiras que faliu na sequência da crise financeira mundial que atingiu com especial dureza a Islândia, com cerca de 320 mil habitantes, provocando a queda da moeda e da economia do país.

Se há uns anos o Presidente falava do "capitalismo viking" e de um punhado de jovens banqueiros "prontos para conquistar o mundo", agora, por causa de uma entrevista ao El País, especula-se sobre se o seu voto depositado na urna terá sido garantidamente um "sim": "O fundamental é que a Islândia é uma democracia, não um sistema financeiro, e que esta não é apenas uma crise económica, é uma crise política. Os governos não podem continuar a ser arrastados pelos mercados". 

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