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EUA: a importância particular deste ato eleitoral

O balanço de uma presidência reacionária e narcisista e as perspetivas de resultado para as eleições presidenciais, para o Senado e Câmara dos Representantes são analisados neste artigo por Jorge Martins.
Marcha das Mulheres 2020. Foto de Mobilus In Mobili/Flickr.
Marcha das Mulheres 2020. Foto de Mobilus In Mobili/Flickr.

Vamos ver através da história dos últimos quatro anos, as razões por que estas eleições têm um caráter decisivo. De seguida, analisarei os principais aspetos referentes ao atual ato eleitoral, com especial incidência na eleição presidencial, mas sem deixar de realçar a importância das legislativas, que ditarão a composição do próximo Congresso federal e poderão ditar o futuro do Supremo Tribunal.

A inesperada eleição de Trump

A eleição de Donald Trump, em 2016, representou um choque para muitos habitantes dos EUA e para o mundo. Pela primeira vez, um candidato com um discurso acentuadamente populista acedia à presidência da maior potência mundial.

O seu discurso nacionalista, protecionista, racista, xenófobo, misógino e homofóbico, a par com o habitual toque populista contra a corrupção, os políticos e o governo central (“drenar o pântano”, prometia ele), soou a “música celestial” aos ouvidos de tudo o que de pior tem a sociedade estadunidense, desde a extrema-direita supremacista branca aos fundamentalistas religiosos de diversos matizes, passando por negacionistas das alterações climáticas, grupos antiaborto, movimentos anti-vacinas, xerifes “musculados”, justiceiros de vária ordem, o lóbi das armas e adeptos das teorias da conspiração, mas também libertários de todo o tipo.

Essa mensagem encontrou, igualmente, eco nas clássicas baixas brancas, em geral pouco instruídas e depreciativamente designadas por “white trash”. Entre estas, encontravam-se muitos operários e ex-operários brancos de velhas regiões industriais deprimidas, na maioria do Médio Oeste, que, ou haviam perdido os seus empregos, ou estavam em vias de os perder. Estes foram extremamente recetivos ao discurso “trumpista” e contribuíram, de forma decisiva, para a vitória do atual presidente nos estados dessa região, também conhecida por “rust belt”.

O mais irónico é que todo esse discurso, saída da boca de um milionário para atrair os mais pobres, era financiado e apoiado uma parte importante dos grandes interesses económicos do país, de onde se destacam o setor financeiro, as seguradoras, as grandes multinacionais petrolíferas, armamentistas, farmacêuticas, agroalimentares e outras.

Apesar de todos os escândalos em que se viu envolvido, em especial de carácter sexual, de onde se contavam dezenas de acusações de assédio a mulheres, alguns casos, inclusive, de violação, de que chegou a gabar-se (“agarrem-nas pela vagina”, disse), suspeitas de proxenetismo, ou de que a sua mulher, de origem eslovena, teria entrado ilegalmente nos EUA, tendo Trump comprado a sua legalização (ele que pretendia construir um muro na fronteira com o México, alegadamente para impedir a imigração clandestina), bem como evidências claras de que, durante muitos anos, teria fugido aos impostos ou que teria o apoio da Rússia não reduziu a sua base de apoio.

Uma presidência reacionária e narcisista

Uma vez na Casa Branca, Trump mostrou logo ao que vinha. Começou a pôr em prática as políticas reacionárias que tinha prometido na campanha eleitoral, incluindo a tentativa de acabar com o Obamacare, um seguro obrigatório de saúde, que permitiu o acesso a esta de milhões de pessoas que dele estavam privadas, e o início da construção de um muro na fronteira mexicana. Porém, a oposição de alguns senadores republicanos moderados (com destaque para o falecido John McCain) à primeira e a oposição ao financiamento do segundo por parte dos congressistas democratas fez gorar os seus intentos.

Ao mesmo tempo que colocava a sua família mais chegada e os seus amigos próximos na Casa Branca, junto da sua administração, o novo presidente mostrava o seu lado narcisista e mitómano em “twits” constantes, confundindo, frequentemente, o seu interesse pessoal com o do país e mentia com a mesma facilidade com que respirava. Tudo isto num quadro de crescente autoritarismo, arrogância e desprezo pelas mais elementares regras democráticas. A nível internacional, a sua política externa era errática, à exceção do Médio Oriente, onde, desde sempre, foi patente o alinhamento total com Israel e a Arábia Saudita. Petróleo “rules”!...

Para o efeito, contou com um Partido Republicano completamente domesticado, tomado por dentro pelos setores mais reacionários da sociedade estadunidense acima referidos. Essa conquista começou com o movimento do Tea Party e tornou-se efetiva com o triunfo de Trump nas primárias republicanas de 2016. Tal como as abelhas africanas, primeiramente introduzidas no Brasil, se foram espalhando pelo restante continente americano, matando as rainhas das colmeias que encontravam, passando a controlar a sua reprodução, também a direita reacionária foi tomando o aparelho republicano, vencendo os seus líderes moderados em primárias a nível local e estadual até ter toda a máquina partidária ao seu serviço.

Claro que a eleição de Trump, as suas políticas e o seu estilo pessoal geraram uma enorme polarização na sociedade. Os democratas, num primeiro momento a “lamber as feridas” da sua inesperada derrota, que envolveu, ainda, a conquista, pelos republicanos, das duas câmaras do Congresso, pareciam não ter resposta para o “furação trumpista”.

Contudo, a excelente campanha do veterano senador Bernie Sanders, nas primárias de 2016, onde foi derrotado por Hillary Clinton com a cumplicidade do aparelho do Partido Democrático, deixou raízes. Afirmando-se socialista, palavra maldita nos EUA, e com uma autenticidade invulgar nos políticos atuais, deu vida à ala esquerda do partido, onde se integraram muitos dos jovens que se mobilizaram para a sua campanha

Foi graças a essa mobilização que os democratas conseguiram, nas eleições legislativas de 2018, reconquistar a Câmara dos Representantes, num ato eleitoral em que apresentaram um número sem precedentes de mulheres e membros de minorias étnicas, sexuais e religiosas. Quatro dessas eleitas, de onde avulta a figura de Alexandria Ocasio-Cortez, assumiram um papel destacado na oposição às políticas do presidente, o que lhes valeu acusações de caráter sexista, racista e xenófobo da parte deste.

Em 2019, uma gravação de uma conversa entre Trump e o presidente ucraniano, em que este condicionava a ajuda militar e económica dos EUA à Ucrânia à denúncia, por parte da justiça deste país, de supostas atividades ilegais aí praticadas pelo filho de Joe Biden, levou a Câmara dos Representantes a iniciar um processo de “impeachment” do presidente, visando a sua destituição por abuso do poder e obstrução ao Congresso. A proposta foi aprovada pela maioria da câmara baixa e, nos termos constitucionais, seguiu para o Senado.

No seguimento do processo, este funciona como um tribunal, sendo o presidente julgado pelos senadores. Contudo, para aquele ser destituído, a acusação necessita do voto favorável de 2/3 destes. Ora, dos 53 republicanos, apenas um (o ex-candidato presidencial Mitt Romney), votou a favor da destituição por abuso de poder, pelo que Trump permaneceu no cargo.

Apesar de tudo, a vida parecia correr bem ao presidente. A economia não ia mal e as primárias democratas davam a vitória a Joe Biden, antigo vice-presidente de Barack Obama, da ala centrista do partido, que batera Bernie Sanders. Tido por um político sem grande carisma, parecia ser o adversário ideal para uma reeleição relativamente fácil.

A chegada da pandemia

Só que Trump não estava preparado para o inimigo mortal que se aproximava: o vírus SARS-2, responsável pela pandemia da Covid-19. Surgido na China nos finais de 2019, rapidamente se propagou para o resto do mundo, tendo chegado aos EUA nos finais de janeiro.

Porém, o presidente, que havia demitido a equipa de prevenção de crises epidemiológicas nomeada por Obama, e a sua administração foram incapazes de pôr em prática uma estratégia de combate à pandemia. Pior ainda, Trump minimizou o perigo, afirmando que o vírus desapareceria rapidamente e que não seria necessário tomar grandes precauções. Entretanto, o vírus continuava a espalhar-se e, em certos estados, o sistema de saúde entrou em colapso e noutros começou a ficar perto disso.

Valeu, neste caso, a grande autonomia dos estados federados, com alguns governadores (na sua maioria, democratas, mas também um ou outro republicano) a tomar de medidas de confinamento, que permitiram alguma contenção da pandemia, impedindo que esta assumisse ainda maiores proporções, no que foram seguidos por vários “mayors” das principais cidades (quase todos democratas).

Em lugar de os apoiar, Trump acusou-os de estar a matar a economia e, aproveitando o desespero de pequenos empresários e desempregados, incitou a população a protestar contra eles. Não por acaso, rapidamente surgiram manifestações agressivas da extrema-direita, onde apareciam vários elementos armados “até aos dentes”, intimidando congressistas, senadores e governadores estaduais, perante a complacência das forças policiais.

No momento em que escrevo estas linhas, mais de nove milhões de pessoas residentes nos EUA já foram infetadas e quase 240 mil perderam a vida. Mas Trump, pateticamente, ainda afirma que está a fazer “um grande trabalho”!...

O racismo e a fuga aos impostos

Entretanto, em junho, o vídeo do assassinato de George Floyd, um negro acusado injustamente de roubo, por parte de um polícia branco, que o sufocou com o joelho em cima do seu pescoço, levou grandes protestos populares por todo o país, não apenas da parte da comunidade afro-americana, mas também de setores brancos progressistas, acabando, mesmo, por se estender ao resto do mundo. Casos semelhantes, embora menos mediatizados, viriam a surgir nos meses seguintes, gerando novos protestos.

Ao invés de condenar a violência policial e as ações dos suprematistas brancos, Trump preferiu acusar os manifestantes, em especial os antifascistas, procurando, demagogicamente, capitalizar o facto de algumas manifestações terem degenerado em violência, aproveitando para se afirmar como o garante da lei e da ordem. Isto apesar de ignorar a violência das milícias da extrema-direita, que constituem, atualmente, a maior ameaça à segurança interna do país.

Já durante a campanha, veio a saber-se que, durante 10 anos, Trump havia pago de impostos, nos EUA, a módica quantia de 750 (!...) dólares, ou seja, cerca de 650 euros. Os restantes, em números mais elevados, foram pagos fora do país. Para quem tem como “slogan” principal “América Primeiro” …

O “assalto” ao Supremo Tribunal

Simultaneamente, Trump e os republicanos, sob a batuta do sinistro Mitch McConnell, líder do partido no Senado, têm vindo, progressivamente, a corroer as instituições democráticas do país, subvertendo constantemente as suas regras de funcionamento ao sabor dos respetivos interesses, de que o caso do Supremo Tribunal é gritante.

Em 2016, oito meses antes da eleição presidencial, faleceu o juiz conservador Anthony Scalia. Barack Obama nomeou, então, Merrick Garland como seu substituto, mas McConnell e a maioria republicana do Senado recusaram-se a dar início ao processo de audição do nomeado, alegando que se estava perto de uma eleição presidencial e que a nomeação deveria caber ao novo presidente, o que acabou por vir a acontecer, com a escolha de Neil Gorsuch por parte de Trump.

Ora, após o falecimento, em setembro, da juíza progressista Ruth Ginsburg, o mesmo McConnell aceitou levar por diante o processo de nomeação, por parte de Donald Trump, da juíza ultraconservadora Amy Coney Barrett, uma simpatizante da direita religiosa, envolvida em movimentos antiaborto, cuja confirmação ocorreu oito dias (!...) antes da eleição presidencial, quando milhões de eleitores já haviam votado antecipadamente.

A nova integrante do Supremo Tribunal é o terceiro elemento indicado por Trump, que também havia nomeado Neil Gorsuch, como referi acima, e Brett Kavanaugh, em substituição de Anthony Kennedy, outro conservador, que, entretanto, se retirara. Desta forma, a instituição passa a ter uma clara maioria conservadora (6-3), que pode reverter avanços civilizacionais (como o direito ao aborto, os direitos das minorias ou o Obamacare) e inviabilizar medidas progressistas de futuras administrações democratas (como o controlo das armas, a garantia dos direitos de voto das minorias étnicas ou o fim dos super PACs) durante gerações, uma vez que esses três magistrados ainda são relativamente novos.

Os “trunfos” de Biden

Contudo, ao polarizar perigosamente a sociedade, de forma a agradar quase exclusivamente à sua base de apoio, Trump terá cometido um erro de cálculo, que pode favorecer o seu adversário democrata.

Desde logo, uniu o Partido Democrático em torno do seu candidato. Bernie Sanders e Elisabeth Warren, seus dois principais adversários nas primárias, da ala progressista do partido, manifestaram-lhe o seu apoio de forma inequívoca, não havendo notícia de dissidências entre os democratas.

Por outro lado, o discurso racista de Trump, em especial a sua reação ao assassinato de Floyd, contribuíram para mobilizar contra si o eleitorado afroamericano. Também as restantes minorias étnicas se juntam para o derrotar: os hispânicos (exceção feita aos cubanos anticastristas da Flórida), fartos de ser insultados pelo presidente, que apelida os imigrantes latino-americanos de “traficantes” e “violadores”; os nativos, que viram alguns dos seus cemitérios profanados para a construção do muro na fronteira mexicana, e os asiáticos, alguns dos quais foram agredidos na rua, após Trump os ter acusado, implicitamente, de trazer o que apelida por “vírus da China”.

A escolha de Kamala Harris, uma mulher de ascendência mista afro-americana e tâmil como candidata a vice-presidente, moderadamente progressista, foi também importante para atrair votantes negros e asiáticos, bem como penetrar melhor no eleitorado feminino.

E, por último, mas não menos importante, o estilo pausado e pouco apelativo de Biden, que seria apelidado de “cinzentismo” em condições normais, aliado ao seu discurso moderado, de união, dá uma imagem de uma pessoa comum, serena e de decente, que contrasta, eficazmente, com o narcisismo mitómano, a agressividade discursiva e as manobras desesperadas e antidemocráticas do atual inquilino da Casa Branca.

Na verdade, ser o “anti-Trump” é o grande trunfo de Biden, que, assim, conseguiu reunir o apoio de uma larga faixa de eleitores, desde republicanos moderados à esquerda radical democrata. Esta última, mesmo não tendo ilusões sobre o seu candidato, percebeu que o essencial, neste momento, é afastar o atual presidente, de forma a preservar o essencial das instituições democráticas do país.

Uma eleição decidida “na secretaria”?

Vendo as sondagens ser-lhe desfavoráveis, Trump subiu mais um degrau na sua loucura política, ao não se comprometer com uma transição pacífica do poder em caso de derrota, afirmando que só será derrotado se houver fraude eleitoral e prometeu contestar os resultados caso perca. E, para já, as reações dos principais dirigentes republicanos foram, no mínimo, ambíguas.

Entre as suas insinuações, está a de que o voto postal, cada vez mais utilizado, em especial nestas eleições, realizadas em tempos de pandemia, e tradicionalmente mais favorável aos democratas, conduziria a fraudes massivas. Isto mesmo após a insuspeita Heritage Fundation, um “think-tank” conservador, ter conduzido uma investigação em que concluiu que, em 30 anos, as fraudes aí registadas estavam eram apenas 0,000007% (!...) do total.

Parece, pois, claro, que o atual presidente e os republicanos tudo farão para conservar o poder ou, pelo menos, parte dele. Como se diz na gíria desportiva, “não se ganha no campo, ganha-se na secretaria”.

Tudo indica, assim, que, ou Biden vence por uma margem convincente, ou arriscamo-nos a assistir a uma longa batalha judicial, com os republicanos a utilizarem todos os mecanismos ao seu dispor (e não são poucos, diga-se!...) para subverter a vontade popular. A eleição pode acabar por ser decidida no Supremo Tribunal e não foi por acaso que os republicanos tiveram tanta pressa em aí colocar uma juíza conservadora dias antes do ato eleitoral. E, neste momento, três dos nove juízes daquele foram nomeados por Trump…

Claro que, se a eleição for roubada pelos republicanos, haverá, certamente, grandes mobilizações populares e enormes protestos de rua, com o risco de se entrar num clima de guerra civil larvar, semelhante ao da Bielorrússia.

Como esse cenário não seria do agrado das elites estadunidenses, seria natural que acabasse por se chegar a um compromisso espúrio, em que Biden tomaria posse como presidente, mas os democratas não alterariam a composição do Supremo Tribunal, mantendo a sua maioria conservadora.

Há, aliás, um precedente histórico: em 1876, o republicano Rutherford Hayes bateu o democrata Samuel Tilden por um voto no colégio Eleitoral, apesar de ter perdido o voto popular. Nessa altura, os republicanos eram os progressistas, que haviam triunfado na Guerra da Secessão, e os democratas os reacionários, nostálgicos da Confederação sulista. Após grande contestação, em especial aos resultados da Flórida, chegou-se a um acordo: Hayes assumiria a presidência, mas, em troca, os estados do Sul voltariam a ter autonomia em matérias relativas às leis raciais e eleitorais, o que ajudou a perpetuar a legalização da segregação racial nessa região, só quebrada pelo movimento dos direitos cívicos, nos anos 60.

Perspetivas eleitorais

Vou, agora, analisar, as perspetivas eleitorais, em especial no que se refere à presidenciais, mas também fazendo uma referência às legislativas, tanto do Senado como da Câmara dos Representantes. Para o efeito, socorro-me dos resultados das últimas sondagens estaduais.

A eleição presidencial

Como referimos acima, para um candidato ser eleito, necessita de obter a maioria absoluta do Colégio Eleitoral, ou seja, 270 dos 538 votos. Nas últimas eleições presidenciais, Trump conquistou, nas urnas, 306 votos eleitorais, contra 232 de Hillary Clinton.

Por comodidade de análise, vou dividir o país em cinco regiões geopolíticas: Nordeste, Sul, Médio Oeste, Oeste e Pacífico. Entre parêntesis, o número de votos eleitorais atribuídos a cada estado, de acordo com o critério acima mencionado.

Começando pelo Nordeste, estamos em presença da região do país mais aberta ao exterior, possuindo uma das maiores concentrações urbanas do mundo: a megalópolis que vai desde Boston a Washington, passando por Filadélfia, Nova York e Baltimore, onde vivem mais de 80 milhões de pessoas. Engloba 11 estados e o Distrito de Columbia, que atribuem 112 votos no Colégio Eleitoral.

A sua intensa urbanização e industrialização, bem como a sua maior abertura ao mundo e a existência de importantes comunidades afroamericanas e hispânicas, traduz-se, politicamente, pela existência de uma maioria progressista. Por isso, neta área, os democratas tendem a ser hegemónicos.

Dos estados que aí se integram, os democratas têm seguros Nova York (29), Nova Jersey (14), Massachusetts (11), Maryland (10), Connecticut (7), Rhode Island (4), Vermont (3), Delawere (3), estado natal do candidato democrata, e DC (3). Terão, também, em princípio, seguro, o New Hampshire (4), um “swing state” ganho por Hillary Clinton nas últimas eleições.

O Maine (4) divide os seus votos. Tudo indica que Biden vencerá o estado (2), tal como Clinton em 2016. Dos dois distritos eleitorais, o meridional (1), mais urbano, manter-se-á na coluna democrata; já o setentrional (1), acentuadamente rural, foi ganho por Trump e está em dúvida.

Falta falar da Pensilvânia (20), uma das mais inesperadas conquistas de Trump em 2016. O estado divide-se em duas áreas distintas: a parte leste, mais densamente povoada, onde se situa Filadélfia, com uma grande percentagem de afroamericanos, é acentuadamente democrata. Porém, as zonas central e ocidental, onde se localizam as mais antigas indústrias do país, já se integram no chamado “rust belt” do Médio Oeste. E foi aqui, nestas zonas industriais deprimidas, que o atual presidente conquistou uma larga fatia do operariado branco, virando um estado tradicionalmente democrata. Para já, as sondagens dão vantagem a Biden, sendo que, este, para vencer, tem de o reconquistar.

Em suma, se os resultados dos inquéritos de opinião se confirmarem, Biden arrebatará a quase totalidade dos votos eleitorais desta região (111), estando apenas em dúvida o do distrito rural do Maine.

Ao contrário, o Sul é uma região extremamente conservadora, reacionária até, que lutou até ao fim pela manutenção da escravatura, inclusivamente encetando uma secessão que levou à guerra civil e onde a segregação racial tinha cobertura legal até aos anos 60 do século passado, estando o racismo ainda hoje bem presente. Daí que seja, atualmente, um bastião republicano. Contudo, em alguns estados, a mobilização do eleitorado afroamericano, em certas áreas bastante numeroso, pode fazer a diferença. Integra 10 estados, que possuem 122 votos eleitorais.

À partida, os republicanos têm assegurado o triunfo no Tennessee (11), Carolina do Sul (9), Alabama (9), Louisiana (8), Arkansas (6) e Mississippi (6).

A Geórgia (16) também parecia, até há pouco, um estado republicano relativamente sólido. Contudo, cerca de 1/3 da sua população é afroamericana e, se esta se mobilizar para votar em grande número, pode virar o estado. Se isso acontecesse, dificilmente a vitória fugiria a Biden. Contudo, vamos mantê-lo, para já, na coluna republicana.

A Carolina do Norte (15), tradicionalmente republicana, mas ganha, em 2008, por Obama, está em dúvida, podendo vir a cair para o lado democrata. Aqui, o eleitorado negro pode ser, igualmente, decisivo.

Também a Flórida (29), um típico “swing state”, está tecnicamente empatada nas sondagens. Bush venceu em 2000 (de forma muito controversa) e 2004, Obama ganhou em 2008 e 2012 e Trump arrebatou o estado em 2016, qualquer um deles com vitórias tangenciais Para já, tudo pode acontecer e, sendo um dos estados mais populosos da federação, pode vir a ser decisivo nas contas finais.

Por fim, a Virgínia (13), ganha por Obama e Hillary Clinton, estará segura para os democratas. Antes, um estado muito conservador (Richmond, a sua capital, foi também a da Confederação sulista), viu a sua composição demográfica alterar-se, com o crescimento de Washington, cujos subúrbios meridionais (como Arlington) já pertencem a este estado. Como a maioria da população da capital é afroamericana, o peso desta no seio do estado aumentou, permitindo uma viragem progressista no seu comportamento eleitoral.

Resumindo, nesta região, Trump terá certos 49 votos eleitorais, chegando aos 65 se vencer na Geórgia, enquanto Biden apenas poderá, para já, contar com os 13 da Virgínia. Há, então, 44 que podem cair para qualquer um dos candidatos (29 na Flórida e 15 na Carolina do Norte).

O Médio Oeste é a zona onde se encontra a maioria dos “swing states” e cuja conquista é vital para assegurar o triunfo final. A maioria da população vive na região setentrional, junto dos Grandes Lagos, amplamente urbanizada e uma das mais antigas áreas industriais do país, onde se situa a maioria do “rust belt”. Atualmente em decadência, foi aí que esteve a “chave” da vitória de Trump em 2016, com um discurso que disse o que o operariado branco queria ouvir e se traduziu no voto deste na sua candidatura. Já a parte meridional, mais rural, é também mais conservadora e dominada pelos republicanos. Dela fazem parte 10 estados, que garantem 114 votos eleitorais.

De acordo com as sondagens, Trump deverá assegurar o triunfo no Indiana (11) e nos estados do sul da região: Missouri (10), Kentucky (8) e West Virgínia (5).

Ao invés, Biden vencerá no Illinois (20), onde se situa Chicago, e, muito provavelmente, no Minnesota (10).

Para vencer, este terá de recuperar o Michigan (16), onde se localiza Detroit, e o Wisconsin (10), uma das mais surpreendentes derrotas de Hillary Clinton em 2016. Para já, as sondagens são-lhe favoráveis, em especial no primeiro, embora a sua vantagem esteja longe de ser decisiva.

Tecnicamente empatado está o Iowa (6), um pequeno estado rural e agrícola do centro-oeste desta região, cuja população é esmagadoramente branca, conhecido por ser o primeiro a votar nas primárias. Estamos em presença de um “swing state”: Gore venceu em 2000, Bush em 2004, Obama em 2008 e 2012, Trump em 2016. Este tinha uma pequena vantagem, mas esta dissipou.se nos últimos dias e tudo está aberto.

Também em situação de claro empate técnico está o Ohio (18), um dos principais estados industriais da área e talvez o mais típico dos “swing states”, pois, desde 1960, nenhum presidente conseguiu ser eleito sem vencer neste estado. Logo, embora não seja essencial para ganhar, dificilmente Biden não seria eleito se o arrebatasse.

Então, no balanço final desta região, temos, para já e em princípio, 34 votos no Colégio Eleitoral para Trump e 30 para Biden, que subirá para 56 caso se confirmem as recuperações de Michigan e Wisconsin. Em dúvida, estarão 24 (18 do Ohio e 6 do Iowa).

O Oeste é uma região bastantes extensa, mas pouco povoada, já que o seu território é constituído, em grande parte, por montanhas, pradarias e desertos. Sendo uma área acentuadamente rural e, em geral, distante dos oceanos, é bastante conservadora e, por isso, muito favorável aos republicanos. Nela se incluem 14 estados, na sua maioria de pequena dimensão populacional, num total de 109 votos eleitorais.

Tudo indica que Trump levará os votos eleitorais do Texas (38), embora a sua vantagem nas sondagens não seja decisiva, algo que também se deverá à mobilização do eleitorado hispânico, cuja percentagem no estado tem vindo a aumentar. Já Oklahoma (9), Kansas (6), Utah (6), Idaho (4), Dakota do Norte (3), Dakota do Sul (3), Montana (3) e Wyoming (3) estarão totalmente seguros para o atual presidente.

Por seu turno, o Nebrasca divide os seus votos. Trump deverá obter, facilmente, os referentes ao vencedor do estado (2) e aos distritos 1 (1) e 3 (1), rurais. Porém, o 2, que engloba a capital, Omaha (1), e que foi ganho por Obama em 2008, mas perdido para os republicanos nas duas seguintes, está em dúvida.

O Arizona (11) é um dos estados em aberto. Tradicionalmente republicano, o partido teve aí como expoente, durante muitos anos, o falecido senador John McCain, derrotado por Obama nas presidenciais de 2008. Tendo sido um dos mais conhecidos prisioneiros estadunidenses da guerra do Vietnam e considerado um herói nacional, foi zurzido por Trump durante a campanha das primárias republicanas de 2016, quando este declarou que “quem se deixa aprisionar não é um herói “. Para quem prestou o serviço militar “à porta de casa”, não está mal!... Essas declarações levaram McCain a opor-se abertamente a Trump e o seu voto evitou a revogação do Obamacare no Senado. Muitos dos seus apoiantes próximos declararam apoiar Biden, pelo que o desfecho da eleição no estado é incerto.

Já o Colorado (9) e o Nevada (6), com uma apreciável percentagem de população hispânica, conquistados pelos democratas em 2004 e por eles conservados desde então, deverão ser, igualmente, mantidos por Biden. Já o Novo México (5), onde a maioria da população é daquela origem, está firme na coluna democrata.

Então, temos, nesta região, Trump a conseguir, quase de certeza, 77 votos eleitorais e Biden 20, enquanto 12 (11 do Arizona e um distrito do Nebrasca) estão em dúvida.

Falta falar do Pacífico, que engloba cinco estados (três da costa ocidental, o Alasca e o Hawai). A região costeira é, em geral, altamente urbanizada (é lá que se situam Los Angeles, São Francisco, Portland e Seattle) e, tal como o turístico Hawai, aberta ao exterior. Daí que o seu eleitorado seja, em geral, democrata. A exceção é o Alasca, mais rural e conservador. No total, leva 81 votos ao Colégio Eleitoral.

Assim, aqui não deverá haver surpresas: Califórnia (55), Washington (12), Oregon (7) e Hawai (4) ficarão para Biden, enquanto o Alasca (3) irá para Trump.

Logo, 78 para o primeiro e apenas 3 para o segundo.

Fazendo a soma nacional, verifica-se que, de acordo com as sondagens, Biden sairá vencedor, obtendo entre um número de votos eleitorais entre um mínimo de 278 e um máximo de 359, enquanto Trump ficará entre 179 e 260.

Ou seja, para vencer, ao candidato democrata basta recuperar a Pensilvânia, o Michigan e o Wisconsin e segurar os que foram ganhos por Hillary Clinton em 2016.

Acontece que não estamos num tempo político normal e, se Biden ganha por uma margem curta, é mais que certo que Trump e os republicanos contestarão a eleição e usarão todas os meios possíveis e imaginários para se manter no poder.

Daí que seja fundamental que o candidato democrata vença por uma larga margem, que torne praticamente impossível qualquer contestação. Nessa eventualidade, é possível que os próprios dirigentes republicanos, para garantir a sua sobrevivência, acabem por “tirar o tapete” a Trump, deixando-o cair.

A eleição senatorial

No contexto atual, quase tão importante como a eleição presidencial é a renovação de 1/3 do Senado, já que só assim poderão levar a efeito algumas reformas constitucionais, como seja o aumento do número de membros do Supremo Tribunal, de forma a reverter a golpada republicana. De outra forma, a maioria conservadora aí colocada bloqueará quaisquer medidas progressista da administração Biden ou outra democrata durante várias gerações.

Neste momento, os republicanos têm 53 membros e os democratas 47, neles se incluindo os dois independentes (entre os quais, Bernie Sanders) que votam com eles.

Neste ato eleitoral, onde haverá, ainda, duas eleições especiais (uma no Arizona e outra na Geórgia), estão em jogo 35 lugares, 23 dos quais detidos pelos republicanos e 12 pelos democratas.

De acordo com os inquéritos de opinião, os democratas terão, em princípio, seguros 11 desses mandatos, mas deverão perder o que detém no Alabama.

Dos que são ocupados pelos republicanos, estes deverão segurar 15 e, em princípio, perder dois (um no Colorado e outro na eleição especial do Arizona). É, igualmente, muito possível que os democratas arrebatem o do Maine.

Estarão, então, cinco em dúvida: os dois da Geórgia (um deles numa eleição especial) e os da Carolina do Norte, Iowa e Montana.

Para já, então, os democratas terão 49 senadores (incluindo os dois independentes), se contarmos com o lugar do Maine, e os republicanos 46, estando os restantes cinco em dúvida.

Logo, para controlar a câmara alta, os democratas necessitam de confirmar os resultados nas sondagens nos três estados referidos e de arrebatar, pelo menos, dois daqueles que estão em situação de empate técnico.

Atenção que, se Biden vencer, bastam 50 senadores para esse controlo, pois, nessa eventualidade, a vice-presidente Kamala Harris teria voto de desempate. Claro que, se Trump for reeleito, esse papel caberá a Mike Pence e seriam necessários 51 lugares para os democratas controlarem o Senado.

A eleição da Câmara dos Representantes

Ao contrário da senatorial, tudo indica que os democratas manterão o controlo da Câmara dos Representantes, pelo que Trump nunca terá o poder total, como na primeira metade do seu primeiro mandato, em que os republicanos controlavam as duas câmaras.

Em 2016, os democratas elegeram 235 congressistas e os republicanos 200. Atualmente, os primeiros têm 232, os segundos 197 e o Partido Libertário um (dissidente republicano), estando cinco vagos.

A importância desta sua eleição deriva do momento político que se vive. Se as manobras de Trump e dos republicanos inviabilizarem, total ou parcialmente, a contagem dos votos em alguns estados, não permitindo que alguns enviem uma delegação ao Colégio Eleitoral ou, até, levando a que enviam duas (uma eleita pela legislatura estadual, outra pelo governador do estado, se forem de “cores” diferentes), com a Câmara dos Representantes a decidir qual é a legítima, veremos a importância desta.

Como referi anteriormente, caso nenhum candidato não obtenha 270 votos no Colégio Eleitoral, a eleição do Presidente passa para a Câmara dos Representantes, o que seria, aparentemente, uma boa notícia para os democratas.

Só que, também aqui, o ato eleitoral não segue o princípio de “uma pessoa, um voto”, mas, antes, “um estado, um voto”. Ou seja, o que conta é, para cada estado, o partido que detém a maioria dos seus representantes, algo que dá um peso maior aos menos povoados, em geral, mais conservadores.

Neste momento, os republicanos possuem a maioria em 26 delegações estaduais e os democratas em 22. Na Pensilvânia (9 para cada lado) e no Michigan (7 democratas e 7 republicanos) verifica-se um empate.

Para dar a volta, os democratas necessitam de desempatar essas duas a seu favor e de ir buscar outro estado. Aquele que parece mais viável conquistar é a Flórida, onde há, atualmente, 14 congressistas republicanos e 13 democratas. Há, ainda, a possibilidade remota de igualar o Wisconsin, onde os primeiros têm cinco lugares e os segundos três. Para isso, nesses seus alvos, terão, no mínimo, de ganhar um círculo eleitoral e não perder nenhum, o que, ao contrário do que se possa pensar, não é fácil, dados os efeitos do “gerrymandering” eleitoral no traçado de muitas circunscrições.

Conclusão

Estas eleições têm um caráter decisivo, decorrendo num momento histórico de acentuada polarização da sociedade estadunidense. Nelas se joga, mais que uma presidência, o futuro das instituições democráticas e, dado tratar-se da maior potência mundial, também o futuro do mundo.

Mais quatro anos de Donald Trump na Casa Branca seriam, certamente, um verdadeiro pesadelo global. É certo que Biden nada trás em si de transformador, mas é, neste momento, a personalidade cujo triunfo pode evitar o desastre, tanto a nível político como económico, ambiental, sanitário e cultural.

Para terminar, refiro que a análise da Geografia Eleitoral ao nível macrorregional e estadual esconde uma parte da realidade. É certo que o Nordeste e o Pacífico são tendencialmente progressistas, o Sul e o Oeste tendem a ser mais conservadores e o Médio Oeste tem um pouco de ambos. Mas, se utilizarmos uma malha mais fina, ao nível dos condados, verificamos que os democratas dominam nas áreas urbanas, em especial nas maiores, e os republicanos nas áreas rurais, principalmente nas mais remotas.

No fundo, estamos a assistir à luta entre a “América” progressista, inovadora e aberta ao mundo, e a “América” conservadora, reacionária e fechada ao exterior. Em condições normais, diria que veríamos qual delas sai triunfante na próxima 3ª feira. Mas, com Trump, nunca se sabe e é provável que tenhamos de assistir a algumas “fitas” de muito má qualidade.

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Neste dossier:

EUA: presidenciais de alta tensão num país em crise

Os EUA vão a votos num cenário de crise generalizada. As presidenciais acontecem após as mobilizações massivas contra a violência policial racista e com os números da covid-19 a baterem recordes mundiais. O voto não presencial será um campo de batalha. Trump ameaça não reconhecer a derrota. Dossier organizado por Carlos Carujo.

Cartaz a exigir justiça. Foto do Facebook do DSA de Nova Iorque.

O que significará o resultado das presidenciais para a esquerda americana?

Para Micah Uetricht a esquerda norte-americana renasceu nos últimos quatro anos. A sua principal tarefa é ir concorrendo a várias eleições e incorporar-se nos sindicatos. O desafio é “construir um movimento que possa ganhar o tipo de políticas substantivas de esquerda que nenhum dos partidos tem para oferecer”.

Projeção de protesto num edifício do governo na Virgínia. Foto de Backbone Campaign/Flickr.

EUA: nas vésperas das eleições, incertezas, tensões crescentes, fraqueza da esquerda

Trump foi incapaz de gerir a covid, milhões de americanos vivem da assistência alimentar, muitos à beira do despejo. Crise climática e Black Lives Matter não podem ser esquecidos num país em que a esquerda continua “muito pequena para ter uma influência significativa”. Artigo de Dan La Botz.

Bandeira americana numa vedação de arame farpado. Foto de Glen Zazove/Flickr.

Pandemia, polarização e resistência nos Estados Unidos

Nesta entrevista, Ashley Smith fala sobre a gestão trumpista da pandemia e a situação económica, o estado dos movimentos sociais, a campanha de Sanders e a posição da esquerda sobre Biden.

Michael Burawoy

Michael Burawoy: “Se Trump tentar sabotar a eleição, teremos uma enorme crise institucional”

A poucos dias das eleições norte-americanas, entrevistámos Michael Burawoy, uma das maiores referências da sociologia marxista mundial. Entrevista de Miguel Heleno.

Joe Biden foto de Phil Roeder/Flickr.

Joe Biden é um desastre que está à espera de acontecer

Assim que Biden anunciou a sua candidatura, Branko Marcetic descreveu o seu historial. Desde a sua oposição às medidas de transporte escolar que permitiram a integração racial, às políticas de encarceração de massa, às posições económicas neoliberais, entre outras que o aproximam dos republicanos.

Marcha das Mulheres 2020. Foto de Mobilus In Mobili/Flickr.

EUA: a importância particular deste ato eleitoral

O balanço de uma presidência reacionária e narcisista e as perspetivas de resultado para as eleições presidenciais, para o Senado e Câmara dos Representantes são analisados neste artigo por Jorge Martins.

Pormenor de um cartaz contra Trump. Foto de Thomas Cizauskas/Flickr.

Cenários pós-eleitorais: pode Trump agarrar-se ao poder?

Enquanto as sondagens mostram uma clara possibilidade de derrota, o presidente norte-americano dá todos os sinais de que não a aceitará. A especialista Anne E. Deysine traça os vários cenários do imbróglio político-jurídico em que se podem tornar estas eleições.

Memorial às vítimas da covid-19 em Washington. Foto de Phil Roeder/Flickr.

Covid USA

Enquanto a Covid-19 se revela uma tragédia sem paralelo no país, Trump continua a sua farsa de muito mau gosto. A sua gestão da pandemia é uma história de mentiras, insensibilidade e incompetência. Por Carlos Carujo.

Alicia Garza

“Não sou a primeira nem serei a última a aparecer numa lista de um supremacista branco”

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Chapéu com o slogan eleitoral de Trump. Foto de Marco Verch Professional Photographer/Flickr.

“Muitos americanos brancos gostam de ouvir dizer que são espoliados”

Nesta entrevista, a historiadora Sylvie Laurent olha para a popularidade de Trump como enraizada na história profunda dos EUA e no “medo de despossessão” e no sentimento de ressentimento da classe média branca que este soube explorar.

Memphis, 1968. A Guarda Nacional bloqueia uma rua enquanto os manifestantes negros trazem um cartaz a dizer "eu sou um homem". Foto de bswise/Flickr.

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A revolução americana foi um dos processos fundadores do que se tem chamado a democracia liberal mas nem todos os seres humanos eram iguais no novo país. Uma parte das pessoas foram reduzidas a mercadoria. Francisco Louçã mostra-nos a história deste racismo constitutivo dos EUA.

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Em 2013, o Supremo Tribunal de maioria conservadora revoga o Voting Rights Act que impedia os estados de modificar regras eleitorais sem acordo federal. Regressa a “supressão de votos” que atinge desigualmente comunidades racializadas e pobres. A ela se junta a manipulação das fronteiras eleitorais. Por Michel Gevers.

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11 mil milhões de dólares terão sido gastos nas eleições norte-americanas de 2020. Mas o problema não é apenas a quantidade de dinheiro. É de onde ele vem, defende Richard Briffault.

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O essencial sobre o sistema político dos EUA

O Federalismo, a separação de poderes, o bicameralismo, o presidencialismo, o colégio eleitoral, o papel do poder judicial e do Supremo Tribunal e os “podres” do sistema, neste artigo, Jorge Martins, descodifica a principais peças da política norte-americana.