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A depressão: uma visão de longa duração

Começou uma depressão. Os jornalistas ainda estão timidamente a perguntar aos economistas se podemos ou não estar a entrar numa mera recessão. Não acreditem nem por um minuto. Já estamos no início de uma completa depressão mundial, com desemprego extensivo em quase todo o lado.

Pode assumir a forma de uma deflação nominal clássica, com todas as suas consequências negativas para as pessoas comuns. Ou pode tomar outra forma, um pouco menos provável, de inflação galopante, que é apenas uma outra forma de deflacionar valores, e que é ainda pior para as pessoas comuns.

Claro que todos estão a perguntar o que desencadeou esta depressão. Foram os derivados, que Warren Buffett chamou de "armas financeiras de destruição maciça"? Ou foram as hipotecas subprime? Ou são os especuladores do petróleo? Trata-se de um jogo sem qualquer importância real. É prestar atenção à poeira, como dizia Fernand Braudel acerca dos eventos de curta duração. Se queremos entender o que está a acontecer, é preciso olhar para duas outras temporalidades, que são muito mais reveladoras. Uma é a dos ciclos de média duração. E a outra é a das tendências estruturais de longa duração.

A economia-mundo capitalista teve, por pelo menos algumas centenas de anos, duas formas principais de ondas cíclicas. Uma é a dos chamados ciclos de Kondratieff, que historicamente tinham uma duração de 50-60 anos. E a outra é a dos ciclos hegemónicos, que são muito mais longos.

Em termos de ciclos hegemónicos, os Estados Unidos eram um ascendente candidato à hegemonia em 1873, conquistaram o pleno domínio hegemónico em 1945, e têm vindo a declinar lentamente desde os anos 70. As loucuras de George W. Bush transformaram um lento declínio numa queda precipitada. E, por agora, já estamos longe de qualquer aparência de hegemonia dos EUA. Entrámos, como normalmente acontece, num mundo multipolar. Os Estados Unidos permanecem uma forte potência, talvez ainda a mais forte, mas vão continuar o declínio relativo às outras potências nas próximas décadas. Não há muito o que se possa fazer para mudar isto.

Os ciclos Kondratieff têm uma periodicidade diferente. O mundo saiu da última fase B de Kondratieff em 1945, e entrou na mais forte subida de fase A da história do moderno sistema-mundo. Chegou ao seu ponto mais alto cerca de 1967-73 e começou a descer. Esta fase B durou muito mais tempo que todas as anteriores, e ainda estamos nela.

As características de uma fase B de Kondratieff são bem conhecidas e correspondem ao que a economia-mundo tem vindo a atravessar desde os anos 70. As taxas de lucro das actividades produtivas diminuem, especialmente nos tipos de produção que foram mais lucrativos. Consequentemente, os capitalistas que desejam obter realmente altos níveis de lucro, viram-se para a arena financeira, envolvendo-se no que basicamente é especulação. As actividades produtivas, para não se tornarem demasiado pouco lucrativas, tendem a transferir-se de zonas centrais para outras partes do sistema-mundo, trocando baixos custos de transacção por custos mais baixos com o pessoal. Este é o mecanismo que fez desaparecer os empregos de Detroit, de Essen e de Nagoya, ao mesmo tempo que se expandem as fábricas na China, na Índia e no Brasil.

Quanto às bolhas especulativas, sempre há quem faça muito dinheiro com elas. Mas as bolhas especulativas sempre estouram, mais tarde ou mais cedo. Se perguntarmos por que esta fase B de Kondratieff durou tanto tempo, é porque os poderes reais - o Tesouro dos EUA e a Reserva Federal, o Fundo Monetário Internacional e os seus colaboradores na Europa ocidental e no Japão - intervieram no mercado com regularidade e importância para sustentar a economia-mundo: 1987 (queda das bolsas), 1989 (colapso das poupanças e empréstimos nos Estados Unidos), 1997 (queda financeira da Ásia Oriental), 1998 (má gestão do Long Term Capital Management), 2001-2002 (Enron). Aprenderam as lições das anteriores fases B de Kondratieff, e os poderes reais pensaram que podiam derrotar o sistema. Mas há limites intrínsecos para fazê-lo. E atingimo-los agora, como estão a aprender Henry Paulson e Ben Bernanke, para seu desconsolo e provavelmente espanto. Desta vez não vai ser tão fácil, provavelmente impossível, evitar o pior.

No passado, quando uma depressão executava a sua devastação, a economia-mundo recuperava de novo, na base de inovações que podiam ser quase monopolizadas por algum tempo. Assim, quando se diz que a Bolsa de Valores vai-se levantar de novo, isto é o que se pensa que vai acontecer, desta vez, como no passado, depois de todos os estragos que foram feitos às populações mundiais. E talvez aconteça, dentro de alguns anos.

Há porém algo novo que pode interferir com este belo padrão cíclico que sustentou o sistema capitalista durante cerca de 500 anos. As tendências estruturais podem interferir com os padrões cíclicos. As características estruturais básicas do capitalismo como sistema-mundo operam de acordo com certas regras que podem ser desenhadas num gráfico como um equilíbrio ascendente. O problema, como em todos os equilíbrios estruturais de todos os sistemas, é que ao longo do tempo as curvas tendem a afastar-se do equilíbrio e torna-se impossível equilibrá-las de volta.

O que levou o sistema tão longe do equilíbrio? Muito brevemente, é porque durante 500 anos os três custos básicos da produção capitalista - pessoal, inputs e impostos - subiram constantemente como percentagem dos possíveis preços de venda, de tal forma que hoje tornam impossível obter os grandes lucros da produção quase monopolizada que sempre tem sido a base da acumulação significativa do capital. Não é porque o capitalismo esteja a falhar no que faz melhor. É precisamente porque fez tão bem, que acabou por minar a base da futura acumulação.

Que acontece quando chegamos a um tal ponto em que o sistema se bifurca (na linguagem dos estudos de complexidade)? As consequências imediatas são uma alta turbulência caótica, que pela qual o nosso sistema-mundo está a passar neste momento e que vai continuar a atravessar durante talvez outros 20-50 anos. À medida em que cada um empurra para qualquer direcção que considera ser aquela que é imediatamente melhor para ele, uma nova ordem vai emergir do caos, tomando um de dois caminhos alternativos e muito diferentes.

Podemos afirmar com confiança que o actual sistema não pode sobreviver. O que não podemos prever é que nova ordem será escolhida para substituir esta, porque será o resultado de uma infinidade de pressões individuais. Mas, mais tarde ou mais cedo, será instalado um novo sistema. Não será um sistema capitalista, mas pode ser muito pior (mesmo mais polarizador e hierarquizado), ou muito melhor (relativamente democrático e relativamente igualitário) que este sistema. A escolha de um novo sistema é a maior luta política mundial dos nossos tempos.

Quanto às nossas perspectivas imediatas e interinas de curta duração, é claro o que está a acontecer em todo o lado. Estamos a caminho de um mundo proteccionista (esqueçam a chamada globalização). Estamos no caminho de uma ingerência muito mais directa do governo na produção. Mesmo os Estados Unidos e a Grã-Bretanha estão a nacionalizar parcialmente os bancos e as grandes indústrias moribundas. Estamos a caminho de uma redistribuição populista, dirigida pelos governos, que pode assumir formas social-democratas de centro-esquerda ou autoritárias de extrema-direita. E estamos a caminho de conflitos sociais agudos no interior dos Estados, em que todos competem pela torta menor. Na curta duração, a imagem não é, nem de longe, bonita.

Immanuel Wallerstein

15/10/2008

Tradução de Luis Leiria

Sobre o/a autor(a)

Sociólogo e professor universitário norte-americano.
(...)

Neste dossier:

Crise Financeira Internacional (2008)

Com frequência diária, o Esquerda.net reúne neste dossier análises e opiniões variadas para ajudar a compreender as origens e o significado da crise financeira que está a abalar o planeta. De consulta obrigatória.

Via Campesina: soberania alimentar contra a crise

A Via Campesina internacional inaugurou a sua 5ª Conferência no dia 19, em Maputo, Moçambique, ao ritmo de danças e tambores africanos. Sob o slogan "Soberania Alimentar já! Com a luta e a unidade dos povos!", 600 camponeses, homens e mulheres, representantes de organizações de cerca de 70 países do mundo celebraram a inauguração de seu congresso, que se realiza a cada 4 anos.

Afinal, EUA já não vão comprar "activos tóxicos"

O secretário do Tesouro americano, Henry Paulson, disse na quarta-feira que o plano de resgate de 700 mil milhões de dólares, anunciado pelo governo dos Estados Unidos e aprovado pelo Congresso, já não vai ser usado para comprar os chamados "activos tóxicos" na posse dos bancos, como fora previsto. Em vez disso, o dinheiro do plano deverá ser usado para comprar acções de instituições em dificuldade.

Lista das escolas que suspenderam a avaliação

Há que dizer que muitas escolas têm efectivamente a avaliação suspensa sem sequer terem tomado uma posição sobre o assunto, limitando-se a não colaborar num processo que consideram inexequível e burocrático. Mas há aquelas que decidiram formalmente suspender a avaliação, fosse em Reuniões Gerais de Professores, em Conselho pedagógico, ou Executivo. O esquerda.net apresenta uma lista em actualização, dado que o número aumenta todos os dias. Chamamos a atenção para esta decisão corajosa e "sem papas na língua" do Conselho Executivo do Agrupamento de Escolas Avelar Brotero (Odivelas), bem como para o Conselho Executivo da Escola Francisco Rodrigues Lobo, de Leiria.

Os lucros excessivos provocaram a crise

Quando, daqui a alguns meses, se procurar atenuar a actual recessão através de uma política de investimentos públicos, deveria aproveitar-se a ocasião para erguer um monumento à memória de Marriner Stoddard Eccles, presidente do Banco Central americano de 1934 a 1948 e aí gravar páginas do seu Beckoning Frontiers [New York: Ed. Alfred A. Knopf, 1951] onde analisa, em pormenor, as causas do colapso económico de 1929-1930 e da grande depressão que se lhe seguiu.

O mundo precisa de alternativas, não só de regulações

Não podemos satisfazer-nos em falar apenas na crise financeira e na necessidade de regulação. Se não se fizer nada, de 20% a 30% de todas as espécies vivas poderão desaparecer daqui a um quarto de século. O nível e a acidez dos mares aumentarão perigosamente, o que pode gerar entre 150 e 200 milhões de refugiados climáticos a partir da metade do século XXI.

Declaração sobre a proposta de uma “Cúpula Global” para reformar o sistema financeiro internacional

550 organizações sociais de 88 países tomam posição sobre a reunião do G-20, marcada para 15 de Novembro para debater a crise financeira mundial. As organizações denunciam as políticas neoliberais impostas aos países em desenvolvimento, apoiam uma conferência internacional convocada pelas Nações Unidas, mas não o G20, reivindicam uma resposta verdadeiramente mundial a esta crise e apresentam princípios para isso acontecer.

A China face à crise financeira

A actual crise mundial não afecta directamente a República Popular através da derrocada dos mercados financeiros e da contracção do mercado do crédito, como é o caso nos Estados Unidos e na Europa. As suas consequências são indirectas, e sublinham a dependência da economia chinesa face à conjuntura internacional.

Crise económica mundial: uma oportunidade histórica para a mudança

Uma declaração de cidadãos, movimentos sociais e organizações não-governamentais de apoio a um programa transitório de transformação económica radical, nascida de discussões entre associações presentes no Fórum dos Povos Ásia-Europa, realizado em Pequim em Outubro de 2008.

Bloco lança "O Espectro de Wall Street"

"O Espectro de Wall Street - O crash financeiro e a crise de sobreprodução" é o título da conferência proferida por Francisco Louçã, que também pode ser ouvida aqui. O objectivo desta sessão era apresentar de uma forma simples uma interpretação dos principais factores da crise financeira. Agora, o Bloco editou uma brochura que transcreve a apresentação de Louçã.

Mercados não são solução para a habitação

Depender dos bancos privados para financiar o acesso à habitação vai deixar mais pessoas sem tecto nas cidades, em lugar de convertê-las em proprietárias, alertou Raquel Rolnik, relatora especial da Organização das Nações Unidas para Habitação Adequada.

Crise: perda global é de 2.800.000.000.000 dólares

O Banco de Inglaterra estimou em 2,8 biliões de dólares (milhões de milhões) as perdas sofridas pelos bancos, as seguradoras e os fundos de investimento em todo o mundo, devido à crise financeira. O cálculo foi divulgado pelo banco central britânico no seu relatório semanal sobre a City. Nos Estados Unidos, as perdas passaram de 739 mil milhões para 1,57 biliões de dólares; e na Europa, de 344 mil milhões para 785 mil milhões de euros.

A depressão: uma visão de longa duração

Começou uma depressão. Os jornalistas ainda estão timidamente a perguntar aos economistas se podemos ou não estar a entrar numa mera recessão. Não acreditem nem por um minuto. Já estamos no início de uma completa depressão mundial, com desemprego extensivo em quase todo o lado.

A desigualdade global tem de acabar

Os pobres têm subsidiado os ricos desde há muito tempo. Um maior envolvimento do estado na actividade económica é agora necessário. O mais importante é que o sistema financeiro internacional fracassou em encontrar duas exigências óbvias: prever instabilidades e crises e transferir recursos das economias ricas para as pobres. A análise é da economista indiana Jayati Ghosh.

De que real é esta crise o espectáculo?

Nas últimas semanas, fala-se frequentemente da "economia real" (a produção de bens). E opõe-se-lhe a "economia irreal" (a especulação), de onde viria todo o mal, visto que seus agentes teriam-se tornado "irresponsáveis", "irracionais" e "predadores". Essa distinção é, evidentemente, absurda. O capitalismo financeiro é, há cinco séculos, uma peça central do capitalismo em geral.

Não é hora de pensar no défice

O Dow Jones disparou! Não, despencou! Não, disparou! Não... Pouco importa. Enquanto o mercado de ações maníaco-depressivo domina as manchetes, a história realmente importante está nas más notícias que não param de surgir sobre a economia real. Fica claro agora que resgatar os bancos é apenas o começo: a economia não-financeira também precisa desesperadamente de ajuda.

Biliões para salvar os bancos. E só os bancos

"Achamos que é uma vergonha se conseguir milhares de milhões de dólares para salvar os bancos e não haver dinheiro para erradicar a pobreza no mundo", disse Marina Navarro, porta-voz na Espanha de aproximadamente mil organizações solidárias mobilizadas na sexta-feira passada.

É tempo de abandonar a economia de casino!

As Attac da Europa aprovaram uma declaração comum em que apontam: "Para responder a esta crise não basta moralizar o capitalismo ou atribuir culpas aos agentes dos mercados financeiros. Uma regulamentação superficial e uma gestão da crise a curto prazo teriam como única consequência salvar o sistema e conduzir-nos para novos desastres. Responder a esta crise exige sair do neoliberalismo e pôr fim ao domínio da finança sobre o conjunto da sociedade".

Crise: conversa fiada

Voltaire dizia que o Sacro Império Romano não era sacro, nem império, nem romano. Os neoliberais dizem-nos que um descuido gerou uma bolha especulativa que será corrigida com algumas resoluções do Banco Central. É uma piada.

O capitalismo obsceno

O desastre financeiro levou, na sua queda, todo o edifício ideológico dos advogados da "mundialização feliz". Estão a ser feitas constatações óbvias: a financiarização é um cancro que apodrece a vida de milhares de milhões de seres humanos e que lhes inflige uma dupla penalização. Na verdade, tudo vai ser feito para que sejam as vítimas que paguem a louça partida, e que desencalhem a situação de uma minoria de delinquentes sociais.

Wallerstein: O capitalismo está a chegar ao fim

Depois de ter, antes de todos, previsto o declínio do império americano, Immanuel Wallerstein afirma agora que entrámos desde há 30 anos na fase terminal do sistema capitalista. "A situação torna-se caótica, incontrolável para as forças que até então o dominavam, e assiste-se à emergência de uma luta, já não entre os detentores e os adversários do sistema, mas entre todos os actores para determinar o que o vai substituir", diz o sociólogo norte-americano.

Stiglitz: Na Europa “é preciso autorizar défices superiores a 3% do PIB”

Em entrevista ao jornal Le Monde publicada no passado Sábado, 11 de Outubro de 2008, Joseph Stiglitz,  prémio Nobel da Economia em 2001, afirma que para enfrentar a crise na Europa são precisas soluções comuns "europeias", defende que "é preciso autorizar défices superiores a 3% do PIB" e considera ainda: "Os estatutos do Banco Central Europeu, que está focalizado na inflação e não no crescimento, são também um problema".

Tudo o que quer saber sobre a crise mas tem medo de não entender

O que causou o colapso do centro nevrálgico do capitalismo global? O pior já passou? O que a crise de superprodução dos anos 70 tem a ver com os acontecimentos recentes? Qual a relação entre a política de reestruturação neoliberal, adoptada para superar a crise de superprodução, e o colapso de Wall Street? Como se formam, crescem e explodem as bolhas e como se formou a actual bolha imobiliária? Walden Bello, professor de ciências políticas e sociais, oferece algumas respostas a tais questões.

A natureza antidemocrática do capitalismo, por Noam Chomsky

A liberalização financeira teve efeitos para muito além da economia. Há muito que se compreendeu que era uma arma poderosa contra a democracia. O movimento livre dos capitais cria o que alguns chamaram de "parlamento virtual" de investidores e credores, que controlam de perto os programas governamentais e "votam" contra eles, se os consideram "irracionais", quer dizer, se forem em benefício do povo e não do poder privado concentrado.

Os capitalistas que paguem a crise!

O novo plano Paulson tal como o primeiro financiamento francês de um banco falido, o Dexia, mostram o que é a resposta capitalista para a crise: salvar o sistema salvando os ricos, pagando por ela as pessoas que obviamente não têm responsabilidade no desastre. Não à unidade nacional para salvar o capital!

Mundo enfrenta risco severo de desastre financeiro e de depressão global

Neste momento, o comboio da recessão já saiu da estação; o comboio da crise financeira e bancária saiu da estação. A ilusão de que a contracção dos EUA e das economias avançadas seria curta e superficial foi substituída pela certeza de que será longa e prolongada.

Crise vem pôr a nu os limites históricos do sistema capitalista

Bolsa de Xangai. Foto de 2dogs, FlickRNesta apresentação feita em 18 de Setembro em Buenos Aires, o economista marxista francês François Chesnais expõe a forma como o capitalismo, na longa fase de expansão que ficou atrás, tentou superar os seus limites imanentes. E como todas essas tentativas contribuíram para criar agora uma crise muito maior. Comparável à de 1929, mas que ocorre num contexto totalmente novo.

A dupla crise europeia: financeira e democrática

A crise financeira atingiu a Europa, apesar dos discursos que, desde há um ano, pretendiam tranquilizar, mas que revelavam uma total cegueira sobre as suas causas e amplitude. A integração financeira atingiu um tal grau que todos os bancos e instituições financeiras foram envolvidos na bolha imobiliária e participaram na especulação sobre títulos hipotecários. A economia real é agora afectada, pois vários países membros da UE entraram em recessão.

Desequilíbrios estruturais do capitalismo actual

A actual crise económico-financeira internacional insere-se no marco de um ciclo longo recessivo, do qual o capitalismo não conseguiu sair desde o seu início, em meados da década de 70 do século passado. Sem essa inserção, fica difícil a apreensão do carácter dessa crise, das consequências que pode produzir e do cenário que deve surgir depois dela.
Por Emir Sader, publicado originalmente no Brasil de Fato.

De onde sairá o dinheiro para salvar os ricos e os bancos?

Uma das questões que mais chama a atenção dos cidadãos comuns é de onde vai sair ou de onde estão a sair as centenas e centenas de milhares de milhões de dólares que os bancos centrais e o tesouro norte-americano estão a pôr à disposição dos bancos.

Plano Paulson não evita recessão nos EUA

Para o economista James Galbraith, o plano de socorro nos EUA só empurra o problema para o próximo presidente. Para ele, "o que acontece aqui não é socialismo, mas um acto de tentar salvar um grupo de pessoas culpado de actos muito prejudiciais".

A solução de Bush não chega nem a ser um placebo

Todos sabemos que há remédios que, apesar de não curarem a doença, confortam o doente, e inclusive que há placebos que, sem nada modificar a situação real do paciente, fazem-no acreditar que melhorou, ou mesmo que ficou curado. Pois bem, o plano Bush não chega nem a ser placebo.

Louçã defende medidas para proteger os mais afectados pela subida das taxas de juro

Na sessão pública sobre a crise financeira realizada em Lisboa, Francisco Louçã voltou a defender a descida das taxas de juro e criticou o silêncio do governo sobre os riscos da crise para o país. "A independência do Banco Central Europeu é um álibi para que ninguém assuma as responsabilidades", afirmou o economista e deputado bloquista. Clique para ouvir, em wma e veja o resumo da apresentação, em pdf.

Crise: rir é o melhor remédio

Imagem do programa britânico Bremner, Bird & Fortune Quer entender as origens da crise financeira actual e ainda rir sem parar? Pois veja este vídeo retirado do programa humorístico Bremner, Bird & Fortune, produzido para o Channel Four britânico. Emitido em 7/10/07, mantém toda a actualidade e tem legendas em castelhano. Os humoristas John Bird e John Fortune desempenham os papéis de um entrevistador e de um investidor que explica os mecanismos da crise. E nada do que é dito é falso... Clique na imagem ou leia mais para ver o vídeo.

Algumas coisas que os média não dizem sobre a crise nos EUA, por Michael Moore

O cineasta Michael Moore conta como centenas de milhares de pessoas entupiram os telefones e correios electrónicos dos congressistas dos EUA contra a lei proposta pelo governo Bush para salvar os bancos em crise. E aponta como Wall Street e o seu braço mediático (as redes de TV e outros meios) prosseguem a estratégia de atemorizar a população.

As razões da oposição ao Plano Paulson

A proposta do Secretário do Tesouro dos EUA, Hank Paulson, desperta forte reacção na sociedade ao propor o resgate dos banqueiros ricos e não dos devedores pobres. Entre os que se opõem à proposta estão nomes como George Soros, Paul Krugman e Michael Moore. Segundo Moore, os republicanos estão a usar os seus velhos truques de provocar medo e confusão "para continuar eles mesmos e o 1% da classe alta, obscenamente ricos".

A crise do capitalismo e a importância actual de Marx, entrevista com Eric Hobsbawm

Em entrevista a Marcello Musto, o historiador Eric Hobsbawm analisa a actualidade da obra de Marx e o renovado interesse que vem despertando, mais ainda agora após a nova crise de Wall Street. E fala sobre a necessidade de voltar a ler o pensador alemão: "Marx não regressará como uma inspiração política para a esquerda até que se compreenda que os seus escritos não devem ser tratados como programas políticos, mas sim como um caminho para entender a natureza do desenvolvimento capitalista".

Entenda o plano que o Congresso dos EUA rejeitou

É possível que o Congresso dos EUA volte a votar o plano de resgate de Wall Street na quinta-feira. Os votos "não", analisa o Wall Street Journal, vieram de republicanos e de democratas predominantemente de distritos habitados por população de baixo rendimento, pessoas furiosas por o plano ajudar os banqueiros mas não as pessoas que já perderam as suas casas (por não poder pagar a hipoteca) ou estão em riscos de perdê-las. Baseados num artigo da BBC, preparámos um resumo das disposições do plano rejeitado na segunda-feira.

Plano privatiza ganhos e socializa perdas

Num artigo bombástico publicado no seu blogue, Nouriel Roubini, professor de economia na Universidade de Nova York, afirma que o plano de resgate aprovado nesta segunda-feira nos EUA é uma desgraça e um roubo, que privatiza os ganhos e socializa as perdas, e significa a salvação e o socialismo para os ricos. O Esquerda.net vai publicar regularmente artigos sobre a crise financeira mundial, reunidos num dossier em actualização permanente.

"A crise de Wall Street equivale à queda do Muro de Berlim"

Para o prémio Nobel de Economia de 2001, a crise financeira que atingiu Wall Street e os mercados financeiros de todo o mundo equivale, para o fundamentalismo de mercado, ao que foi a queda do Muro de Berlim para o comunismo. "Ela diz ao mundo que esse modelo não funciona. Esse momento assinala que as declarações do mercado financeiro em defesa da liberalização eram falsas", diz Stiglitz.

Nasceu o capitalismo sensato?

A nacionalização de instituições financeiras norte-americanas e inglesas é um "internamento" temporário, para estancar hemorragias antes de devolver os pacientes ao casino. Mas também é certo que estas nacionalizações instalam, como há décadas não havia, um debate estratégico no campo da economia.

700 mil milhões de dólares para apagar uma dívida privada e aumentar a dívida pública

Diariamente surge um conjunto de provas do carácter inaceitável do sistema económico e financeiro mundial. O governo federal americano acaba de decidir comprar os créditos imobiliários mal parados detidos pelos bancos e por outras instituições financeiras até ao montante de 700 mil milhões de dólares. Esta soma representa apenas a parte visível do iceberg do endividamento apodrecido.

É o fim do capitalismo?

Esta pergunta circulou nos últimos dias na imprensa financeira respeitável. Assim colocada, a pergunta não tem grande sentido. Todos conhecemos a correlação das forças sociais e políticas. E todos sabemos que uma transição sistémica desejável deverá ser o resultado de um longo processo de acumulação de forças democráticas e de vitórias socialistas no campo das ideias e das políticas públicas.