Os lucros excessivos provocaram a crise

08 de novembro 2008 - 0:00
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Quando, daqui a alguns meses, se procurar atenuar a actual recessão através de uma política de investimentos públicos, deveria aproveitar-se a ocasião para erguer um monumento à memória de Marriner Stoddard Eccles, presidente do Banco Central americano de 1934 a 1948 e aí gravar páginas do seu Beckoning Frontiers [New York: Ed. Alfred A. Knopf, 1951] onde analisa, em pormenor, as causas do colapso económico de 1929-1930 e da grande depressão que se lhe seguiu.



Texto de Jean-François Couvrat publicado no blogue DéChiffrages.



Segundo M.S. Eccles, as grandes desigualdades na repartição do rendimento líquido nacional entre salários e lucros estão na origem da Grande Depressão: salários baixos para a grande massa dos americanos, lucros elevados para as empresas, confiscados por uma minoria:



"Se a riqueza nacional tivesse sido mais bem repartida, isto é, se as empresas se tivessem contentado com lucros menos elevados, se as classes mais ricas tivessem auferido rendimentos mais baixos e os agregados familiares mais modestos remunerações mais elevadas, a estabilidade da nossa economia teria sido maior."



E Eccles acrescenta ainda:



"Se, por exemplo, os seis mil milhões de dólares investidos pelas empresas e pelas grandes fortunas na especulação bolsista tivessem sido aplicados numa política de redistribuição baseada na descida dos preços ou em aumentos salariais, com a consequente diminuição dos lucros das empresas e dos mais ricos, teria sido possível impedir ou pelo menos atenuar, em grande medida, o colapso económico desencadeado em 1929."



Quer se trate do texto original completo de M.S. Eccles quer da tradução francesa, todos os que procuram reflectir sobre as reformas do capitalismo neles encontrarão matéria para meditar.



De uma maneira geral, é costume distinguir diferentes tipos de crise: crise do crédito com a correspondente crise bancária, seguida de uma crise bolsista - é a que estamos a viver neste momento; crise bolsista por esvaziamento de bolha especulativa, a de 2000-2001; derrocada da bolsa seguida da ruína do tecido industrial, como foi a crise de 1929. Eccles propõe, todavia, um diagnóstico que pode ser aplicado a todas estas crises.



Quando o excesso de lucros se concentra nas mãos de um punhado de homens, o capital acumulado alimenta a especulação bolsista ou a distribuição de créditos a risco. Quando os salários se mantêm baixos, as famílias consomem a crédito fácil até o esgotarem e despreza-se assim a solvabilidade e o investimento de capital em novos meios de produção.



Nestas condições, o que deverá ser feito para reformar utilmente o capitalismo?



Acabar com as "golden parachute" (reformas douradas) ou estabelecer patamares de remunerações para os banqueiros são medidas populares mas, no fundo, irrisórias. Acabar com os paraísos fiscais, regulamentar os mercados financeiros que três decénios de liberalismo desregrado deitaram abaixo, tudo isto é sensato, mas insuficiente.



Aumentar os salários e reduzir os lucros seria perfeitamente legítimo mas como incrementar tais medidas quando o desemprego atinge níveis elevados e paralisa as reivindicações dos trabalhadores? Em França, o Estado poderia talvez começar por pôr fim aos incentivos fiscais e selectivos, abandonar o slogan "trabalhar mais para ganhar mais" e deixar de culpabilizar os desempregados.



A partir de 1933, Franklin D. Roosevelt tomou três iniciativas no quadro do New Deal: reduziu os horários de trabalho para quarenta horas semanais sem redução dos salários, indemnizou os desempregados e colaborou com os sindicatos.



Tradução de José J. Costa

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