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Crise económica mundial: uma oportunidade histórica para a mudança

Uma declaração de cidadãos, movimentos sociais e organizações não-governamentais de apoio a um programa transitório de transformação económica radical, nascida de discussões entre associações presentes no Fórum dos Povos Ásia-Europa, realizado em Pequim em Outubro de 2008.

Publicado em Casino Crash e no Blogo Social Português, que traduziu.

Preâmbulo

Aproveitando o facto de muitos activistas e associações se encontrarem reunidos em Pequim no Fórum dos Povos da Ásia-Europa, o Transnational Institute e o Focus on the Global South promoveram reuniões informais entre os dias 13 e 15 de Outubro de 2008. Nelas fizemos uma avaliação das implicações da crise económica mundial e da oportunidade que ela nos oferece para trazer para a praça pública algumas das alternativas, viáveis e motivadoras, nas quais muitos de nós temos vindo a trabalhar há décadas.

Esta declaração representa o resultado colectivo dessas discussões em Pequim. Nós, os primeiros signatários, queremos que seja um contributo para o esforço de formular propostas em torno das quais os nossos movimentos possam organizar uma base para um tipo de ordem política e económica radicalmente diferente.

A Crise

O sistema financeiro global está a desmoronar-se rapidamente. Isto acontece no meio de uma multiplicidade de crises, da alimentação, do clima e da energia, enfraquecendo severamente o poder dos EUA e da UE e das instituições mundiais que eles dominam, especialmente o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial e a Organização Mundial do Comércio. Não é só a legitimidade do paradigma neo-liberal que está em causa, mas o próprio futuro do capitalismo.

O caos no sistema financeiro mundial é tal que os governos do hemisfério Norte têm recorrido a medidas que movimentos progressistas vêm defendendo há anos, como a nacionalização dos bancos. Estas medidas, porém, visam a estabilização a curto prazo e, depois da tempestade passar, são susceptíveis de devolver os bancos ao sector privado. Temos uma pequena janela de oportunidade para nos mobilizarmos e impedir que isso aconteça.

O desafio e a oportunidade

Esta conjuntura de crise profunda está a levar-nos para um terreno inexplorado - as consequências da crise financeira serão graves. As populações estão a ser atiradas para um profundo sentimento de insegurança; a miséria e o sofrimento vão aumentar, especialmente entre os mais desfavorecidos. Não devemos ceder neste momento a fascistas, a populistas de direita e a grupos xenófobos, que vão certamente tentar tirar partido dos medos e da raiva das populações para fins autoritários e reaccionários.

Ao longo das últimas décadas foram construídos movimentos poderosos contra o neo-liberalismo. Estes irão crescer à medida que a crítica da crise chegar a mais pessoas, que já estão indignadas com o desvio de fundos públicos para pagar problemas de que não são responsáveis e que já estão preocupadas com a crise ecológica e a subida dos preços - especialmente dos alimentos e da energia. Estes movimentos têm assim a possibilidade de crescer mais com a recessão que começa a fazer-se sentir e com as economias que estão a afundar-se na depressão.

Existe uma nova receptividade às alternativas. Para captar a atenção e o apoio das populações têm de ser práticas e aplicáveis de imediato. Temos alternativas convincentes, que já estão em marcha, e temos muitas outras boas ideias tentadas no passado mas que não conseguimos concretizar. As nossas alternativas colocam no centro o bem-estar das populações e do planeta. Por isso, o controlo democrático sobre as instituições financeiras e económicas é obrigatório. Este é o elemento condutor que une as propostas que se apresentam a seguir.

Propostas para discussão, elaboração e acção

Finanças:

    Introduzir em larga escala a socialização dos bancos e não apenas a nacionalização dos créditos mal parados.
    Criar instituições bancárias com base nas necessidades das pessoas e impulsionar as formas populares de empréstimo baseadas na reciprocidade e na solidariedade.
    Institucionalizar a total transparência no sistema financeiro através do seu controlo público, exercido por organizações de cidadãos e de trabalhadores.
    Introduzir a supervisão do sistema bancário pelo parlamento e pelos cidadãos.
    Aplicar critérios sociais (incluindo as condições de trabalho) e ambientais a todos os empréstimos, incluindo os destinados a fins comerciais.
    Privilegiar os empréstimos, a taxas mínimas de juro, para satisfazer necessidades sociais e ambientais e para reforçar a crescente economia social.
    Reformar os bancos centrais em consonância com os objectivos sociais, ambientais e expansionistas (para combater a recessão) democraticamente definidos, tornando-os instituições publicamente responsáveis.
    Salvaguardar as remessas dos imigrantes para as suas famílias e introduzir legislação para restringir as comissões e os impostos sobre estas transferências.

Fiscalidade:

    Encerrar todos os paraísos fiscais.
    Acabar com os benefícios fiscais para os combustíveis fósseis e empresas produtoras de energia nuclear.
    Aplicar, de forma rigorosa, sistemas fiscais progressivos.
    Introduzir um sistema de tributação global para prevenir as transferências de preços e a evasão fiscal.
    Introduzir uma taxa sobre os lucros dos bancos nacionalizados e com ela estabelecer fundos de investimento para cidadãos (ver abaixo).
    Impor impostos de carbono rigorosos e progressivos sobre aquelas actividades com maior contribuição para a pegada de carbono.
    Adoptar medidas de controlo, como a taxa Tobin, sobre os movimentos do capital especulativo.
    Voltar a introduzir tarifas e impostos sobre as importações de bens de luxo, como um meio para aumentar a base fiscal do Estado e como um meio para apoiar a produção local e reduzir assim as emissões de carbono a nível global.

Despesa pública e investimento:

    Reduzir drasticamente os gastos militares.
    Redireccionar os gastos governamentais de ajuda à banca para garantir o rendimento mínimo e a segurança social, proporcionando um acesso universal aos serviços sociais básicos, como a habitação, a água, a electricidade, a saúde, a educação e o acesso à Internet e outros serviços públicos de comunicação.
    Utilizar fundos públicos (ver acima) para apoiar as comunidades mais pobres.
    Assegurar que às pessoas em risco de perderem as suas casas devido ao não cumprimento dos créditos hipotecários causado pela crise, é oferecida a possibilidade de renegociar as condições de pagamento.
    Parar as privatizações dos serviços públicos.
    Estabelecer empresas públicas, sob o controlo dos parlamentos, das comunidades locais e/ou de trabalhadores, para aumentar o emprego.
    Melhorar o desempenho das empresas públicas através da democratização da gestão - incentivar os gestores públicos, os funcionários, os sindicatos e as organizações de consumidores a colaborarem para esse efeito.
    Introduzir o orçamento participativo nas finanças públicas a todos os níveis possíveis.
    Investir maciçamente no aumento da eficiência energética, nos transportes públicos com baixa produção de emissões de carbono, nas energias renováveis e na recuperação ambiental.
    Controlar ou subsidiar os preços dos artigos de primeira necessidade.

Comércio Internacional e finanças:

    Proibir, de forma permanente e global, as vendas a curto prazo de acções e participações.
    Proibir o comércio de derivados.
    Proibir a especulação com os alimentos de primeira necessidade.
    Anular a dívida de todos os países em desenvolvimento - que está a aumentar com a crise que desvaloriza a moeda nos países do Sul.
    Apoiar o apelo das Nações Unidas à participação no debate sobre a resolução da crise, que vai ter um impacto muito maior nas economias do Sul do que aquele que é hoje reconhecido.
    Eliminar gradualmente o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional e a Organização Mundial do Comércio.
    Eliminar gradualmente o dólar EUA como moeda internacional de reserva.
    Promover uma consulta popular sobre os mecanismos necessários para um sistema monetário internacional justo.
    Assegurar que as transferências da ajuda humanitária não diminuem em resultado da crise.
    Abolir a ajuda condicionada.
    Abolir os constrangimentos neo-liberais aos programas de ajuda.
    Eliminar gradualmente o paradigma de desenvolvimento virado para a exportação e reorientar o desenvolvimento sustentável da produção para o mercado local e regional.
    Introduzir incentivos para os produtos destinados aos mercados locais ou de proximidade.
    Cancelar todas as negociações bilaterais de livre comércio e os Acordos de Parceria Económica.
    Promover a cooperação económica regional, a exemplo do UNASUR, da Alternativa Bolivariana para as Américas (ALBA), do Tratado de Comércio dos Povos e de outros, que incentivam o desenvolvimento genuíno e o fim da pobreza.

Ambiente:

    Introduzir um sistema global de compensação para os países que não explorem reservas de combustíveis fósseis no interesse global da limitação dos efeitos sobre o clima, tal como o Equador tem proposto.
    Pagar indemnizações aos países do Sul pela destruição ecológica provocada pelo Norte, para ajudar os povos do Sul a lidar com as alterações climáticas e outras crises ambientais.
    Aplicar rigorosamente o "princípio da precaução" da Declaração da ONU sobre o Direito ao Desenvolvimento para todos os projectos ambientais e de desenvolvimento.
    Suspender os empréstimos para projectos realizados no âmbito do "Mecanismo de Desenvolvimento Limpo" do Protocolo de Quioto que sejam ambientalmente destrutivos, tais como plantações de monocultura de eucalipto, de soja e de óleo de palma.
    Parar o desenvolvimento do comércio de carbono e outras tecno-correcções ambientalmente contra-produtivas, tais como a captura e o sequestro de carbono, os agrocombustíveis, a energia nuclear e a tecnologia de "carvão limpo".
    Adoptar estratégias para reduzir radicalmente o consumo nos países ricos, promovendo simultaneamente o desenvolvimento sustentável nos países mais pobres.
    Introduzir a gestão democrática de todos os mecanismos de financiamento internacional para a redução das alterações climáticas, com forte participação dos países do Sul e da sociedade civil.

Agricultura e Indústria:

    Eliminar gradualmente o pernicioso paradigma de desenvolvimento dirigido pela indústria, onde o sector rural é pressionado a assegurar os recursos necessários para apoiar a industrialização e a urbanização.
    Promover estratégias agrícolas visando atingir a segurança alimentar e a soberania alimentar e uma agricultura sustentável.
    Promover reformas agrárias e outras medidas que apoiem o pequeno agricultor e sustentem as comunidades camponesas e indígenas.
    Parar a expansão de empresas de monocultura que são social e ambientalmente destrutivas.
    Parar as reformas da legislação laboral destinadas a alargar o horário de trabalho e a tornar mais fácil para a entidade patronal despedir individual ou colectivamente.
    Assegurar os postos de trabalho através da ilegalização do trabalho precário mal pago.
    Garantir a igualdade de remuneração por trabalho igual para as mulheres - como um princípio básico e para ajudar a combater a recessão aumentando a capacidade de consumir dos trabalhadores.
    Proteger os direitos dos trabalhadores migrantes em caso de perda de emprego, garantindo o seu regresso e reintegração no país de origem. Para aqueles que não podem regressar não deverá haver regresso forçado, a sua segurança deve ser garantida e deve ser-lhes proporcionado emprego ou um rendimento mínimo.

Conclusão

Estas são propostas práticas, do senso comum. Algumas são iniciativas já em curso e comprovadamente viáveis. O seu sucesso necessita de ser divulgado e generalizado de modo a inspirar a sua multiplicação. Outras não são susceptíveis de serem aplicadas apenas pelos seus méritos. É necessária vontade política. Cada proposta é, portanto, um convite à acção.

Escrevemos o que sentimos como um documento vivo, a ser desenvolvido e enriquecido por todos nós. Para evitar duplicações, assine por favor esta Declaração, em seu nome ou em nome da sua organização, na secção de comentários da versão deste documento em inglês.

O próximo Fórum Social Mundial em Belém, Brasil, no final de Janeiro de 2009, será a ocasião para discutirmos as acções necessárias para fazer com que estas e outras ideias se tornem uma realidade.

Temos a experiência e as ideias - vamos responder ao desafio da presente desordem reinante e manter o ímpeto em direcção a uma alternativa!

Tradução de Carlos J. T. Calado para o Blogo Social Português.

Pequim, 15 de Outubro de 2008

(...)

Neste dossier:

Crise Financeira Internacional (2008)

Com frequência diária, o Esquerda.net reúne neste dossier análises e opiniões variadas para ajudar a compreender as origens e o significado da crise financeira que está a abalar o planeta. De consulta obrigatória.

Via Campesina: soberania alimentar contra a crise

A Via Campesina internacional inaugurou a sua 5ª Conferência no dia 19, em Maputo, Moçambique, ao ritmo de danças e tambores africanos. Sob o slogan "Soberania Alimentar já! Com a luta e a unidade dos povos!", 600 camponeses, homens e mulheres, representantes de organizações de cerca de 70 países do mundo celebraram a inauguração de seu congresso, que se realiza a cada 4 anos.

Lista das escolas que suspenderam a avaliação

Há que dizer que muitas escolas têm efectivamente a avaliação suspensa sem sequer terem tomado uma posição sobre o assunto, limitando-se a não colaborar num processo que consideram inexequível e burocrático. Mas há aquelas que decidiram formalmente suspender a avaliação, fosse em Reuniões Gerais de Professores, em Conselho pedagógico, ou Executivo. O esquerda.net apresenta uma lista em actualização, dado que o número aumenta todos os dias. Chamamos a atenção para esta decisão corajosa e "sem papas na língua" do Conselho Executivo do Agrupamento de Escolas Avelar Brotero (Odivelas), bem como para o Conselho Executivo da Escola Francisco Rodrigues Lobo, de Leiria.

Afinal, EUA já não vão comprar "activos tóxicos"

O secretário do Tesouro americano, Henry Paulson, disse na quarta-feira que o plano de resgate de 700 mil milhões de dólares, anunciado pelo governo dos Estados Unidos e aprovado pelo Congresso, já não vai ser usado para comprar os chamados "activos tóxicos" na posse dos bancos, como fora previsto. Em vez disso, o dinheiro do plano deverá ser usado para comprar acções de instituições em dificuldade.

Os lucros excessivos provocaram a crise

Quando, daqui a alguns meses, se procurar atenuar a actual recessão através de uma política de investimentos públicos, deveria aproveitar-se a ocasião para erguer um monumento à memória de Marriner Stoddard Eccles, presidente do Banco Central americano de 1934 a 1948 e aí gravar páginas do seu Beckoning Frontiers [New York: Ed. Alfred A. Knopf, 1951] onde analisa, em pormenor, as causas do colapso económico de 1929-1930 e da grande depressão que se lhe seguiu.

O mundo precisa de alternativas, não só de regulações

Não podemos satisfazer-nos em falar apenas na crise financeira e na necessidade de regulação. Se não se fizer nada, de 20% a 30% de todas as espécies vivas poderão desaparecer daqui a um quarto de século. O nível e a acidez dos mares aumentarão perigosamente, o que pode gerar entre 150 e 200 milhões de refugiados climáticos a partir da metade do século XXI.

A China face à crise financeira

A actual crise mundial não afecta directamente a República Popular através da derrocada dos mercados financeiros e da contracção do mercado do crédito, como é o caso nos Estados Unidos e na Europa. As suas consequências são indirectas, e sublinham a dependência da economia chinesa face à conjuntura internacional.

Declaração sobre a proposta de uma “Cúpula Global” para reformar o sistema financeiro internacional

550 organizações sociais de 88 países tomam posição sobre a reunião do G-20, marcada para 15 de Novembro para debater a crise financeira mundial. As organizações denunciam as políticas neoliberais impostas aos países em desenvolvimento, apoiam uma conferência internacional convocada pelas Nações Unidas, mas não o G20, reivindicam uma resposta verdadeiramente mundial a esta crise e apresentam princípios para isso acontecer.

Crise económica mundial: uma oportunidade histórica para a mudança

Uma declaração de cidadãos, movimentos sociais e organizações não-governamentais de apoio a um programa transitório de transformação económica radical, nascida de discussões entre associações presentes no Fórum dos Povos Ásia-Europa, realizado em Pequim em Outubro de 2008.

Bloco lança "O Espectro de Wall Street"

"O Espectro de Wall Street - O crash financeiro e a crise de sobreprodução" é o título da conferência proferida por Francisco Louçã, que também pode ser ouvida aqui. O objectivo desta sessão era apresentar de uma forma simples uma interpretação dos principais factores da crise financeira. Agora, o Bloco editou uma brochura que transcreve a apresentação de Louçã.

Mercados não são solução para a habitação

Depender dos bancos privados para financiar o acesso à habitação vai deixar mais pessoas sem tecto nas cidades, em lugar de convertê-las em proprietárias, alertou Raquel Rolnik, relatora especial da Organização das Nações Unidas para Habitação Adequada.

Crise: perda global é de 2.800.000.000.000 dólares

O Banco de Inglaterra estimou em 2,8 biliões de dólares (milhões de milhões) as perdas sofridas pelos bancos, as seguradoras e os fundos de investimento em todo o mundo, devido à crise financeira. O cálculo foi divulgado pelo banco central britânico no seu relatório semanal sobre a City. Nos Estados Unidos, as perdas passaram de 739 mil milhões para 1,57 biliões de dólares; e na Europa, de 344 mil milhões para 785 mil milhões de euros.

A desigualdade global tem de acabar

Os pobres têm subsidiado os ricos desde há muito tempo. Um maior envolvimento do estado na actividade económica é agora necessário. O mais importante é que o sistema financeiro internacional fracassou em encontrar duas exigências óbvias: prever instabilidades e crises e transferir recursos das economias ricas para as pobres. A análise é da economista indiana Jayati Ghosh.

A depressão: uma visão de longa duração

Começou uma depressão. Os jornalistas ainda estão timidamente a perguntar aos economistas se podemos ou não estar a entrar numa mera recessão. Não acreditem nem por um minuto. Já estamos no início de uma completa depressão mundial, com desemprego extensivo em quase todo o lado.

De que real é esta crise o espectáculo?

Nas últimas semanas, fala-se frequentemente da "economia real" (a produção de bens). E opõe-se-lhe a "economia irreal" (a especulação), de onde viria todo o mal, visto que seus agentes teriam-se tornado "irresponsáveis", "irracionais" e "predadores". Essa distinção é, evidentemente, absurda. O capitalismo financeiro é, há cinco séculos, uma peça central do capitalismo em geral.

Biliões para salvar os bancos. E só os bancos

"Achamos que é uma vergonha se conseguir milhares de milhões de dólares para salvar os bancos e não haver dinheiro para erradicar a pobreza no mundo", disse Marina Navarro, porta-voz na Espanha de aproximadamente mil organizações solidárias mobilizadas na sexta-feira passada.

Não é hora de pensar no défice

O Dow Jones disparou! Não, despencou! Não, disparou! Não... Pouco importa. Enquanto o mercado de ações maníaco-depressivo domina as manchetes, a história realmente importante está nas más notícias que não param de surgir sobre a economia real. Fica claro agora que resgatar os bancos é apenas o começo: a economia não-financeira também precisa desesperadamente de ajuda.

É tempo de abandonar a economia de casino!

As Attac da Europa aprovaram uma declaração comum em que apontam: "Para responder a esta crise não basta moralizar o capitalismo ou atribuir culpas aos agentes dos mercados financeiros. Uma regulamentação superficial e uma gestão da crise a curto prazo teriam como única consequência salvar o sistema e conduzir-nos para novos desastres. Responder a esta crise exige sair do neoliberalismo e pôr fim ao domínio da finança sobre o conjunto da sociedade".

Crise: conversa fiada

Voltaire dizia que o Sacro Império Romano não era sacro, nem império, nem romano. Os neoliberais dizem-nos que um descuido gerou uma bolha especulativa que será corrigida com algumas resoluções do Banco Central. É uma piada.

O capitalismo obsceno

O desastre financeiro levou, na sua queda, todo o edifício ideológico dos advogados da "mundialização feliz". Estão a ser feitas constatações óbvias: a financiarização é um cancro que apodrece a vida de milhares de milhões de seres humanos e que lhes inflige uma dupla penalização. Na verdade, tudo vai ser feito para que sejam as vítimas que paguem a louça partida, e que desencalhem a situação de uma minoria de delinquentes sociais.

Wallerstein: O capitalismo está a chegar ao fim

Depois de ter, antes de todos, previsto o declínio do império americano, Immanuel Wallerstein afirma agora que entrámos desde há 30 anos na fase terminal do sistema capitalista. "A situação torna-se caótica, incontrolável para as forças que até então o dominavam, e assiste-se à emergência de uma luta, já não entre os detentores e os adversários do sistema, mas entre todos os actores para determinar o que o vai substituir", diz o sociólogo norte-americano.

A natureza antidemocrática do capitalismo, por Noam Chomsky

A liberalização financeira teve efeitos para muito além da economia. Há muito que se compreendeu que era uma arma poderosa contra a democracia. O movimento livre dos capitais cria o que alguns chamaram de "parlamento virtual" de investidores e credores, que controlam de perto os programas governamentais e "votam" contra eles, se os consideram "irracionais", quer dizer, se forem em benefício do povo e não do poder privado concentrado.

Tudo o que quer saber sobre a crise mas tem medo de não entender

O que causou o colapso do centro nevrálgico do capitalismo global? O pior já passou? O que a crise de superprodução dos anos 70 tem a ver com os acontecimentos recentes? Qual a relação entre a política de reestruturação neoliberal, adoptada para superar a crise de superprodução, e o colapso de Wall Street? Como se formam, crescem e explodem as bolhas e como se formou a actual bolha imobiliária? Walden Bello, professor de ciências políticas e sociais, oferece algumas respostas a tais questões.

Stiglitz: Na Europa “é preciso autorizar défices superiores a 3% do PIB”

Em entrevista ao jornal Le Monde publicada no passado Sábado, 11 de Outubro de 2008, Joseph Stiglitz,  prémio Nobel da Economia em 2001, afirma que para enfrentar a crise na Europa são precisas soluções comuns "europeias", defende que "é preciso autorizar défices superiores a 3% do PIB" e considera ainda: "Os estatutos do Banco Central Europeu, que está focalizado na inflação e não no crescimento, são também um problema".

Os capitalistas que paguem a crise!

O novo plano Paulson tal como o primeiro financiamento francês de um banco falido, o Dexia, mostram o que é a resposta capitalista para a crise: salvar o sistema salvando os ricos, pagando por ela as pessoas que obviamente não têm responsabilidade no desastre. Não à unidade nacional para salvar o capital!

Mundo enfrenta risco severo de desastre financeiro e de depressão global

Neste momento, o comboio da recessão já saiu da estação; o comboio da crise financeira e bancária saiu da estação. A ilusão de que a contracção dos EUA e das economias avançadas seria curta e superficial foi substituída pela certeza de que será longa e prolongada.

Crise vem pôr a nu os limites históricos do sistema capitalista

Bolsa de Xangai. Foto de 2dogs, FlickRNesta apresentação feita em 18 de Setembro em Buenos Aires, o economista marxista francês François Chesnais expõe a forma como o capitalismo, na longa fase de expansão que ficou atrás, tentou superar os seus limites imanentes. E como todas essas tentativas contribuíram para criar agora uma crise muito maior. Comparável à de 1929, mas que ocorre num contexto totalmente novo.

A dupla crise europeia: financeira e democrática

A crise financeira atingiu a Europa, apesar dos discursos que, desde há um ano, pretendiam tranquilizar, mas que revelavam uma total cegueira sobre as suas causas e amplitude. A integração financeira atingiu um tal grau que todos os bancos e instituições financeiras foram envolvidos na bolha imobiliária e participaram na especulação sobre títulos hipotecários. A economia real é agora afectada, pois vários países membros da UE entraram em recessão.

Desequilíbrios estruturais do capitalismo actual

A actual crise económico-financeira internacional insere-se no marco de um ciclo longo recessivo, do qual o capitalismo não conseguiu sair desde o seu início, em meados da década de 70 do século passado. Sem essa inserção, fica difícil a apreensão do carácter dessa crise, das consequências que pode produzir e do cenário que deve surgir depois dela.
Por Emir Sader, publicado originalmente no Brasil de Fato.

De onde sairá o dinheiro para salvar os ricos e os bancos?

Uma das questões que mais chama a atenção dos cidadãos comuns é de onde vai sair ou de onde estão a sair as centenas e centenas de milhares de milhões de dólares que os bancos centrais e o tesouro norte-americano estão a pôr à disposição dos bancos.

Plano Paulson não evita recessão nos EUA

Para o economista James Galbraith, o plano de socorro nos EUA só empurra o problema para o próximo presidente. Para ele, "o que acontece aqui não é socialismo, mas um acto de tentar salvar um grupo de pessoas culpado de actos muito prejudiciais".

Louçã defende medidas para proteger os mais afectados pela subida das taxas de juro

Na sessão pública sobre a crise financeira realizada em Lisboa, Francisco Louçã voltou a defender a descida das taxas de juro e criticou o silêncio do governo sobre os riscos da crise para o país. "A independência do Banco Central Europeu é um álibi para que ninguém assuma as responsabilidades", afirmou o economista e deputado bloquista. Clique para ouvir, em wma e veja o resumo da apresentação, em pdf.

A solução de Bush não chega nem a ser um placebo

Todos sabemos que há remédios que, apesar de não curarem a doença, confortam o doente, e inclusive que há placebos que, sem nada modificar a situação real do paciente, fazem-no acreditar que melhorou, ou mesmo que ficou curado. Pois bem, o plano Bush não chega nem a ser placebo.

Algumas coisas que os média não dizem sobre a crise nos EUA, por Michael Moore

O cineasta Michael Moore conta como centenas de milhares de pessoas entupiram os telefones e correios electrónicos dos congressistas dos EUA contra a lei proposta pelo governo Bush para salvar os bancos em crise. E aponta como Wall Street e o seu braço mediático (as redes de TV e outros meios) prosseguem a estratégia de atemorizar a população.

Crise: rir é o melhor remédio

Imagem do programa britânico Bremner, Bird & Fortune Quer entender as origens da crise financeira actual e ainda rir sem parar? Pois veja este vídeo retirado do programa humorístico Bremner, Bird & Fortune, produzido para o Channel Four britânico. Emitido em 7/10/07, mantém toda a actualidade e tem legendas em castelhano. Os humoristas John Bird e John Fortune desempenham os papéis de um entrevistador e de um investidor que explica os mecanismos da crise. E nada do que é dito é falso... Clique na imagem ou leia mais para ver o vídeo.

As razões da oposição ao Plano Paulson

A proposta do Secretário do Tesouro dos EUA, Hank Paulson, desperta forte reacção na sociedade ao propor o resgate dos banqueiros ricos e não dos devedores pobres. Entre os que se opõem à proposta estão nomes como George Soros, Paul Krugman e Michael Moore. Segundo Moore, os republicanos estão a usar os seus velhos truques de provocar medo e confusão "para continuar eles mesmos e o 1% da classe alta, obscenamente ricos".

Entenda o plano que o Congresso dos EUA rejeitou

É possível que o Congresso dos EUA volte a votar o plano de resgate de Wall Street na quinta-feira. Os votos "não", analisa o Wall Street Journal, vieram de republicanos e de democratas predominantemente de distritos habitados por população de baixo rendimento, pessoas furiosas por o plano ajudar os banqueiros mas não as pessoas que já perderam as suas casas (por não poder pagar a hipoteca) ou estão em riscos de perdê-las. Baseados num artigo da BBC, preparámos um resumo das disposições do plano rejeitado na segunda-feira.

A crise do capitalismo e a importância actual de Marx, entrevista com Eric Hobsbawm

Em entrevista a Marcello Musto, o historiador Eric Hobsbawm analisa a actualidade da obra de Marx e o renovado interesse que vem despertando, mais ainda agora após a nova crise de Wall Street. E fala sobre a necessidade de voltar a ler o pensador alemão: "Marx não regressará como uma inspiração política para a esquerda até que se compreenda que os seus escritos não devem ser tratados como programas políticos, mas sim como um caminho para entender a natureza do desenvolvimento capitalista".

Plano privatiza ganhos e socializa perdas

Num artigo bombástico publicado no seu blogue, Nouriel Roubini, professor de economia na Universidade de Nova York, afirma que o plano de resgate aprovado nesta segunda-feira nos EUA é uma desgraça e um roubo, que privatiza os ganhos e socializa as perdas, e significa a salvação e o socialismo para os ricos. O Esquerda.net vai publicar regularmente artigos sobre a crise financeira mundial, reunidos num dossier em actualização permanente.

"A crise de Wall Street equivale à queda do Muro de Berlim"

Para o prémio Nobel de Economia de 2001, a crise financeira que atingiu Wall Street e os mercados financeiros de todo o mundo equivale, para o fundamentalismo de mercado, ao que foi a queda do Muro de Berlim para o comunismo. "Ela diz ao mundo que esse modelo não funciona. Esse momento assinala que as declarações do mercado financeiro em defesa da liberalização eram falsas", diz Stiglitz.

700 mil milhões de dólares para apagar uma dívida privada e aumentar a dívida pública

Diariamente surge um conjunto de provas do carácter inaceitável do sistema económico e financeiro mundial. O governo federal americano acaba de decidir comprar os créditos imobiliários mal parados detidos pelos bancos e por outras instituições financeiras até ao montante de 700 mil milhões de dólares. Esta soma representa apenas a parte visível do iceberg do endividamento apodrecido.

Nasceu o capitalismo sensato?

A nacionalização de instituições financeiras norte-americanas e inglesas é um "internamento" temporário, para estancar hemorragias antes de devolver os pacientes ao casino. Mas também é certo que estas nacionalizações instalam, como há décadas não havia, um debate estratégico no campo da economia.

É o fim do capitalismo?

Esta pergunta circulou nos últimos dias na imprensa financeira respeitável. Assim colocada, a pergunta não tem grande sentido. Todos conhecemos a correlação das forças sociais e políticas. E todos sabemos que uma transição sistémica desejável deverá ser o resultado de um longo processo de acumulação de forças democráticas e de vitórias socialistas no campo das ideias e das políticas públicas.