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A China face à crise financeira

A actual crise mundial não afecta directamente a República Popular através da derrocada dos mercados financeiros e da contracção do mercado do crédito, como é o caso nos Estados Unidos e na Europa. As suas consequências são indirectas, e sublinham a dependência da economia chinesa face à conjuntura internacional.
Artigo de Thomas Vendries, publicado em Le Blog du Milieu pour Alternatives Internationales (Alternatives Économiques).
A crise dos subprimes e as suas consequências para os sistemas financeiro e bancário, assim com para a economia real, são actualmente, e muito naturalmente, objecto da maior atenção por parte dos media. Contudo, de momento, estes estão essencialmente focalizados, na situação dos países ocidentais, Estados Unidos em primeiro lugar, e União Europeia nestas últimas semanas. É certo que estes países são os mais atingidos pela crise, visto serem por um lado o primeiro centro desta e, de momento, as principais vítimas. Esta crise está contudo destinada a tornar-se mundial, e as suas repercussões far-se-ão igualmente sentir nos países em vias de desenvolvimento. A República Popular da China já começou, estas duas semanas, a sentir de forma particularmente aguda os primeiros efeitos.
Desde logo, as bolsas chinesas acompanharam, nestes últimos meses, as evoluções dos mais importantes mercados financeiros internacionais. Tal como Wall Street, Londres ou Paris, elas conheceram um crash que se acelerou nas últimas semanas. O principal índice da bolsa de Xangai, o Xangai Composite Index, perdeu 60% do seu valor desde o início do ano, e a bolsa de Hong Kong, o Hang Seng, quase metade. Isto corresponde a quedas bem maiores do que as praças ocidentais conheceram. Contudo, estes números catastróficos estão longe de fazer os grandes títulos dos jornais. Porque será?
Desde logo, comparativamente às bolsas ocidentais, em termos de valor total de capitalização, os mercados bolsistas chineses, permanecem marginais. Em Agosto de 2007, para remontarmos à situação precedente à crise, as duas principais bolsas chinesas, Xangai e Hong Kong, ultrapassavam os 22 mil milhões de Yuan de capitalização, ou seja um pouco menos de 3 mil milhões de dólares à taxa de câmbio corrente, ao passo que a capitalização bolsista total dos Estados Unidos ultrapassou os 16 mil milhões de dólares, num total mundial ligeiramente inferior a 60 mil milhões. Em suma, antes do inicio das desgraças das praças bolsistas internacionais, os mercados financeiros chineses representavam pouco mais de 5 % da capitalização internacional, contra aproximadamente 30 % dos Estados Unidos. É ainda assim inútil insistir no argumento de que as consequências internacionais do crash das bolsas americanas não têm comparação com as da queda dos mercados financeiros chineses.
Efectivamente, as consequências exteriores da crise dos mercados financeiros chineses não são insignificantes. E quanto às consequências internas? Elas permanecem igualmente circunscritas. Com efeito, os mercados financeiros chineses são uma criação recente, ainda longe de constituir um importante vector de financiamento da economia. As empresas chinesas só recorrem aos mercados financeiros em cerca de 25 % do seu financiamento externo, os restantes 75 % são assegurados pela intermediação bancária tradicional. A título de comparação, em países como os Estados Unidos e o Reino Unido, estas proporções são quase invertidas (80 % e 20 %).
Por outro lado, não só as empresas chinesas recorrem pouco aos mercados financeiros para o seu financiamento externo, como pura e simplesmente recorrem pouco ao financiamento externo: a taxa de poupança, e de auto investimento das firmas chinesas é das mais elevadas do mundo, e é por exemplo, quase quatro vezes mais alta que a das empresas indianas. Em conclusão, a queda dos mercados bolsistas chineses não terá senão um impacto limitado sobre as possibilidades de financiamento das empresas.
No entanto, esta crise financeira não atinge apenas as bolsas. Desde Setembro, os bancos tornaram-se as principais vítimas, efectivas ou potenciais, dos subprimes e dos activos tóxicos. Que é que se passa com os bancos chineses, que são os principais agentes do financiamento externo das empresas da República Popular? Contrariamente aos mercados financeiros, que acompanharam a queda das bolsas internacionais, os bancos chineses ficaram, relativamente poupados pela crise dos sistemas bancários europeu e americano. Esta resistência dos bancos chineses não deve ser interpretada como um sinal de boa saúde do sistema, mas sobretudo como um resultado - aqui positivo - da sua falta de maturidade e de inserção internacional. Caracterizados por um funcionamento ainda muito imperfeito, fortemente enquadrados e regulados pelo estado, os bancos chineses não tiveram oportunidade, nestes últimos anos, de se enredar nas trocas de activos financeiros « tóxicos ». Assim, mesmo que a sua impermeabilidade a estes títulos « tóxicos » não seja total, a exposição resulta moderada, e em todo o caso insuficiente para realmente pôr em causa o seu estado de saúde.
Apesar da crise financeira internacional atingir os mercados financeiros chineses, o papel destes últimos na economia real continua limitado, ao passo que os bancos permanecem pouco afectados pela crise dos subprimes. Poder-se-á inferir que a República Popular vai ser poupada à crise actual? Não, longe disso. Contrariamente ao que se passa nos Estados Unidos e na Europa, as consequências para a economia chinesa, não advirão directamente da crise financeira e da contracção do crédito. Elas serão, ou são desde já, consequências indirectas determinadas pela recessão mundial e muito particularmente pelo abrandamento da actividade e pela quebra da procura nos Estados Unidos e na Europa.
É inútil insistir no argumento, de que, nestes últimos anos, o formidável crescimento chinês foi, em grande parte, estimulado pela procura ocidental, e nomeadamente pelos consumidores americanos que compravam... a crédito. Os produtores, assim como as autoridades da República Popular, aguardam com a maior apreensão os efeitos da recessão nos Estados Unidos. Já nestas últimas semanas, os encerramentos de fábricas multiplicaram-se nas indústrias de exportação das regiões costeiras. Segundo o presidente da Associação das PME de Hong Kong, Danny Lau Tat-Pong, 20 000 das 65 000 fábricas provenientes de Hong Kong, implantadas no Guangzhou, poderão falir nos próximos três meses [1]. Já no terceiro trimestre de 2008, o crescimento chinês atingiu o seu ritmo mais baixo em cinco anos, 9 %, desde a epidemia de SRAS, e é mais que provável que a situação não melhore nos próximos meses.
A República Popular encontra-se portanto já atingida pela crise actual, graças à sua dependência em relação aos mercados internacionais, originada pela actual crise. O principal problema agora é o de saber qual é a resposta que vai dar.
E nomeadamente, a China irá escolher uma estratégia de cooperação com o resto do mundo, ou sobretudo remeter-se a soluções unilaterais? De momento, os sinais enviados pelo governo chinês são mistos. Na quarta-feira 8 de Outubro, o banco central chinês, em coordenação com os principais bancos centrais do mundo, baixou também a sua taxa de juro, manifestando desta forma vontade política em associar-se à resolução internacional da crise. Mas inversamente, a decisão do Ministério das Finanças, a 21 de Outubro, de restabelecer as exonerações do IVA para os principais produtos de exportação, dá a imagem de uma política económica agressiva e que arrisca agravar os conflitos comerciais com os principais parceiros da República Popular, nomeadamente com os Estados Unidos.
Presentemente, é difícil dizer quais serão as posições adoptadas pela China. Podemos contudo notar que esta crise assegura à República Popular duas oportunidades. Desde já, esta crise mundial pode constituir a oportunidade para a economia chinesa reduzir a sua dependência face à procura internacional e substitui-la pelo consumo interno, actualmente muito enfraquecido, como motor do crescimento. As decisões do Conselho de Estado, de desenvolver o sistema de protecção social, anunciadas no fim-de-semana de 18 e 19 de Outubro, por exemplo, vão nesse sentido. Além disso, os próximos meses serão provavelmente de intensas negociações em torno da necessária reestruturação do sistema financeiro internacional e da redefinição das suas regras. A China, que podemos considerar como mais próxima das concepções de regulação, quererá provavelmente fazer ouvir a sua voz, como o Primeiro-ministro Wen Jiabao sublinhou aquando da sessão de abertura do Cimeira Europa-Ásia a 25 Outubro. E a soma de activos e de divisas que a República Popular acumulou, permitirá dar peso às suas posições.
Em conclusão, a actual crise mundial não afecta directamente a República Popular através da derrocada dos mercados financeiros e da contracção do mercado do crédito, como é o caso nos Estados Unidos e na Europa. As suas consequências são indirectas, e sublinham a dependência da economia chinesa face à conjuntura internacional. É certo que o crescimento chinês vai continuar a desacelerar nos próximos meses, com todas as consequências sociais que daí possam advir. Mas esta crise pode também dar oportunidades à China, nomeadamente desenvolver o seu consumo interno, e participar na refundação da regulação financeira internacional.
Thomas Vendries
Tradução de Luísa Moreira
[1] Notemos que esta previsão deve ser vista com cuidado : as PME de Hong Kong, que esperam o apoio das autoridades centrais, têm todo o interesse de denegrir a situação.
Comentários
É a economia! Estúpido!
É a economia! Estúpido!
Finalmente o sonho desmesurado de dominação, e a implementação de uma ditadura Chinesa com suporte da corrupta esquerda americana chega a seu final e se revela ao mundo suas tramoias.
A dobradinha dos malfeitores liberais pornográficos americanos com os assassinos psicopatas chineses sofre punição econômica severa. A manipulação econômica, a fraude estatística e a imposição de temas neoliberais através do circo mediático mundial estão sendo confrontados com a realidade da superprodução industrial que nunca será consumida, obras faraônicas que nunca serão usadas e de centenas e milhares de cidades fantasmas chineses.
A ideia de que se poderia enganar a todos o tempo todo acabou. Pode-se sim enganar alguns, algum tempo, mas não todos o tempo todo. Talvez, o alienado povo americano, submetido à propaganda massiva de temas bizarros, possa por algum tempo se esquecer que perdeu o salário de US$ 40 a hora em Detroit e agora ganha apenas US$ 7 nos Mcdonalds da vida. Mas em algum momento acordará como está acontecendo com o povo brasileiro, farto dessa elite brasileira tosca da periferia americanizada que fala português com pesado sotaque americano.
Esse está sendo um amargo despertar tanto para os brasileiros quanto para os chineses que finalmente se dão conta que não são ou nunca serão a Inglaterra do século 19. Não vivemos mais em um mundo onde apenas alguns podem se industrializar, condenando países como o Brasil a eterno produtor de commodities. Os tempos são outros, agora o Brasil tem uma economia de 200 milhões de pessoas e os títeres fazendeiros de soja não podem com suas exportações alavancar o desenvolvimento de uma classe média com produtos agrícolas.
Mas, diga-se de passagem, esses títeres, dessa tosca elite brasileira de periferia, não são muita coisa, não! Depois de viajar 150.000 quilômetros através do Brasil inteiro e, principalmente, por essas regiões produtoras do agronegócio em Mato Grosso e Goiás pude verificar in loco sua pequinês.
O fato de serem os maiores produtores de soja não implica que ditem preços ou condições no mercado exportador de soja. Isso é feito pela Bunge, Cargill e Louis Dreyfus. Os outros são sócios menores, sujeitos às condições que essas multinacionais ditam como regras na comercialização do agronegócio mundial. Isso implica na definição de preços, rotas de exportação e portos para escoamento do produto aqui no Brasil, na Argentina e na América Latina.
Esse discurso exaltado sobre as condições da logística brasileira que eles costumam fazer na televisão é uma piada, para não dizer patético. Não só porque eles mal entendem as questões principais de transportes do Brasil, na América latina e no Mundo, mas com também, não têm qualquer influência de como e onde a safra que eles produzem será escoada ou comercializada. Está em dúvida? Vá ao site da Alice Web (Ministério da Indústria e Comércio) que contém dados do comércio exterior brasileiro e verifique quem são os donos das cargas embarcadas (exportadores) da soja e do agronegócio brasileiro.
Para essa elite tosca de fazendeiros de soja cabe apenas colocar a produção na porteira da fazenda para ser recolhida pela Bunge, Cargill e Dreyfus. Assim, para ganharem mais eles têm que aumentar sua produtividade, ganhando uma foto de bom comportamento que são espalhados pelas estradas da região onde moram por ter comprado o Kit soja de qualquer multinacional do ramo de sementes e defensivos agrícolas. Outra alternativa, é comprar mais terras e, assim, aumentar a produção. Suas influências sobre o mercado do agronegócio brasileiro ou mundial é nenhuma! Eles morrem de medo que a Cargill não venha buscar a safra que fica nas portas das fazendas na época da colheita. Exibir vistosos maquinários, tais como, colheitadeiras e tratores é apenas a ponta reluzente de um tremendo fracasso de não compreenderem ou influenciarem o mercado do agronegócio, mas de serem subalternos aos caprichos estrangeiros nesse setor. Patéticos!
O que acontece da porteira para fora ou dos silos da Bunge em diante na cadeira logística da exportação e comercialização internacional da soja eles são totalmente ignorantes, essa questão é para chineses e americanos.
É triste ver que a elite brasileira é tosca e fracassada por que justamente não tem ambições de liberdade ou atuem com desenvoltura como senhores de suas próprias terras. É triste, mas são capachos, não passam de moleques de recado desse obscuro mentor das esquerdas que os usam para desindustrializar o Brasil e submetê-lo a tirania de chineses que sofre desse obcecado complexo de superioridade, achando que são a nova versão do imperialismo britânico do século 19 no século 21.
No entanto, a realidade econômica não perdoa fraudes e mentiras. Assim, eles (os malfeitores sino-americanos) colapsam diante de um mercado que verifica (tardiamente) que eles não podem entregar o que prometeram.
É a economia! Estúpido!
2 de setembro 2015
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