Continuamos a caminhar, João

porAndré Beja

Coube-me a tarefa de assessorar o João no seu primeiro debate parlamentar, uma interpelação ao governo sobre política de saúde, poucos depois da sua chegada a S. Bento.

11 de outubro 2018 - 17:43
PARTILHAR

Da corrida contra o tempo daqueles dias de março de 2006 guardo memória da forma tranquila e bem-disposta com que encarou o batismo de fogo.

Já nos conhecíamos há algum tempo mas foi ali, prestes a entrar em terreno movediço e na perspetiva do desconforto daqueles holofotes, que a sua resiliência, o olfato para as coisas da política, o seu rasgo de ironia e humor, a afetividade e delicadeza, a generosidade e coragem perante a adversidade se tornaram cristalinas para mim.

Uma imagem que ficou e cresceu. Em encontros casuais, em conversas mais sérias à volta da mesa ou palmilhando as ruas de Lisboa, numa ou noutra iniciativa pública, quando a sua rouquidão começava a preocupar, no relato de histórias de bastidor de 35 anos de militância no PCP, quando, silencioso, andava a tecer as últimas propostas que deixou ao país, na euforia das grandes noites da Luz, nos dias em que o Bloco esteve nos píncaros ou quando o nosso partido passou pelas maiores dificuldades… Foi sempre assim.

E será sempre assim. Depois da dor e do espanto da despedida, é mais forte a memória da alegria, do amor à liberdade, da tranquilidade que punha em todas as coisas. Deixemos pois que o seu exemplo de ternura e empenho, próprio de quem, sem nunca perder o norte, quer fazer pontes e encontrar saídas, nos anime a caminhada.

Julho/Outubro de 2018

Termos relacionados: João Semedo (1951-2018)