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Comuna de Paris, os 72 dias que mudaram o mundo
Apesar da brevidade da experiência, 150 anos depois, a Comuna de Paris continua a ser uma fonte de inspiração, de debate, de polémica. Caso para dizer, como a velha canção de então, que ela não morreu, apesar de ter sido esmagada brutalmente na sua época.
Neste dossier, olhamos para a sua cronologia para seguir, passo a passo, antecedentes, incidências e sequelas daquele que foi o primeiro momento de autogoverno operário.
Marcello Musto sintetiza-nos os seus momentos decisivos e as propostas políticas e sociais que procurou implementar em nome da justiça social, pensando-a como tendo feito viver uma alternativa de sociedade, sinónimo da própria ideia de revolução.
Eric Toussaint prefere salientar um aspeto concreto, decisivo para entender o seu destino: a sua relação com o Banco de França e com a dívida. Avaliando como um erro não ter tomado conta daquela instituição conclui que um governo popular não pode ficar paralisado diante do mundo financeiro e deve tomar medidas radicais.
Seguimos também, com Michael Löwy outros debates políticos e estratégicos que suscitou, como a pensaram Marx, Trotsky e Lenine mas também como permanece “de uma espantosa atualidade” para as novas gerações.
O mesmo defende Kristin Ross que estudou o seu imaginário político. Para além de encontrar ecos dela em movimentos que vão desde as acampadas de Madrid ao Occupy Wall Street, esta autora pensa que a Comuna antecipou visões contemporâneas sobre arte e ambiente, ao promover a “beleza pública” enquanto direito a viver num ambiente agradável e ao valorizar a natureza para além das regras do mercado.
Também de arte nos fala Pedro Rodrigues, mais concretamente de música, numa viagem pelas canções da Comuna que nos permite compreender aspetos diferentes dos acontecimentos, entender a ressonância e a sua originalidade histórica da Comuna.
Por sua vez, a historiadora Mathilde Larrère destaca o papel das mulheres no movimento insurrecional. Como participaram desde o seu início mas têm sido invisibilizadas. Elas, que na altura foram alvo das maiores calúnias por parte dos adversários da Comuna e que até no seio do movimento operário da época tiveram de enfrentar a hostilidade de muitos grupos.
E é também no feminino que damos também voz a algumas das vozes da Comuna. Seguimos os quadros desgarrados das barricadas que nos trazem as memórias da lendária Louise Michel. E divulgamos o panfleto escrito em nome dos operários de Paris pela communard André Léo dirigido aos camponeses franceses.
Plural na sua constituição, juntando neojacobinos, republicanos radicais e socialistas de várias matizes, a ela dedicaram-se também de corpo e alma os membros da Primeira Internacional franceses e os dois enviados de Londres. Yves Lenoir conta-nos a história da AIT em França nesses tempos e sublinha a importância dos internacionalistas para as medidas sociais da Comuna.
E os ecos do que ia acontecendo em Paris chegaram na altura até Portugal, inspirando uma certa elite intelectual jovem, por um lado, e despertando a ira da imprensa monárquica, conservadora e clerical por outro, explica Tiago Rego Ramalho.
Estes ecos da Comuna prolongam-se até à atualidade. Ainda hoje, a batalha pela memória se faz sentir em França. Em ano de aniversário redondo, os 150 anos reavivaram polémicas antigas como as que andam à volta da Basílica do Sacré-Coeur, construída para expiar os “ pecados dos federados”. E, com a Câmara de Paris, nas mãos de uma coligação liderada pelo PS a decidir assinalar o evento, criou-se uma nova polémica sobre as comemorações. Ao mesmo tempo que se discutia se os novos movimentos sociais como os coletes amarelos se podem considerar como seus herdeiros.
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