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A cronologia da Comuna de Paris

Data a data, uma compilação dos principais acontecimentos desde a guerra franco-prussiana, à vitória da Comuna até ao seu rescaldo.
Barricada no cruzamento das avenidas Voltaire e Richard-Lenoir. Bibliotca histórica da Cidade de Paris/Wikimedia Commons.
Barricada no cruzamento das avenidas Voltaire e Richard-Lenoir. Biblioteca histórica da Cidade de Paris/Wikimedia Commons.

1870: Guerra, cerco de Paris e começo do movimento revolucionário:

- 19 de julho: Declaração de guerra da França à Prússia.

- 2 de setembro: Derrota em Sedan. Capitulação do exército de Mac Mahon em Sedan. Napoleão III é feito prisioneiro.
- 4 de setembro: o Palácio Bourbon é invadido por manifestantes. Proclamação da República na Câmara de Paris. Formação de um governo de Defesa Nacional presidido pelo general Trochu.
- 5 de setembro: Formação do Comité Central dos vinte arrondissements saído dos comités de vigilância aí formados.
- 15 de setembro: O primeiro cartaz vermelho, assinado pelos membros do comité central dos vinte arrondissements, reclama a guerra até às últimas consequências e o levantamento em massa nos departamentos. Falhanço das negociações Bismarck-Jules Favre em Ferrières.
- 19/20 de setembro: Cerco de Paris por 180.000 tropas prussianas.
- 28 de setembro: Capitulação de Estrasburgo.

- 7 de outubro: Fuga de Paris do ministro do Interior, León Gambetta, num balão. Alcança Tours a partir de onde tenta organizar um exército para socorrer a capital.
- 27 de outubro: O marechal Bazaine capitula em Metz.
- 28/30 de outubro: derrota francesa na primeira batalha de Bourget.

- 31 de outubro: Jornada insurrecional em Paris. Gustave Flourens e as suas tropas tomam a Câmara Municipal que perdem ao fim da tarde.

- 1 de novembro: Vários insurgentes são presos, apesar das promessas de que não o seriam.

- 3 de novembro: Um plebiscito em Paris confirma os poderes do governo de Defesa Nacional.

- 5/7 de novembro: Eleições autárquicas para os arrondissement.

- 2/3 de dezembro: Orléans é retomada pelos alemães.
- 3 de dezembro: Derrota francesa na batalha de Champigny.
- 21/22 de dezembro: Derrota francesa na segunda batalha de Bourget.

1871: O fim da guerra e a Comuna

- 5 de janeiro: Início do bombardeamento de Paris pelos prussianos.
- 6 de janeiro: Segundo cartaz vermelho do Comité Central dos vinte arrondissements apela à guerra sem quartel e à formação da Comuna.
- 3/17 de janeiro: Derrotas dos exércitos de Gambetta no Norte, no Loire e no Leste.
- 18 de janeiro: Guilherme II, rei da Prússia, é proclamado imperador da Alemanha em Versalhes.
- 19 de janeiro: Derrota francesa na segunda batalha de Buzenval. Derrota do Exército do Norte em Saint-Quentin.
- 21 de janeiro: Membros da Guarda Nacional libertam Flourens e outros que estavam detidos em Mazas na sequência do 31 de outubro de 1870.
- 22 de janeiro: Derrota de uma tentativa de revolta junto à Câmara Municipal de Paris. O general Vinay dirige a repressão. As tropas disparam contra os manifestantes causando cinco mortos.
- 28 de janeiro: O armistício é assinado.
- 29 de janeiro: Derrota do Exército do Leste.

- 8 de fevereiro: Eleição da Assembleia Nacional: 36 dos 43 deputados do então departamento de La Seine (que incluía Paris e uma parte de Hauts-de-Seine, de la Seine-Saint-Denis et du Val-de-Marne) são republicanos hostis à capitulação.
- 15 de fevereiro: Constituição provisória da Federação da Guarda Nacional.
- 17 de fevereiro: Em Bordéus, onde se reúne a Assembleia Nacional, Adolphe Thiers é designado chefe do poder executivo.
- 24/26 de fevereiro: Manifestações de membros da Guarda Nacional na Bastilha.

- 26 de fevereiro: Assinatura em Versalhes de um pacto de paz que prevê a perda da Alsácia-Lorena.

- 1 de março: O pacto de paz é ratificado na Assembleia Nacional em Bordéus com 546 votos a favor, 107 contra.
- 1/3 de março: Os alemães entram em Paris e ocupam os Campos Elísios.
- 3 de março: O general d’Aurelle de Paladines – acusado pelos republicanos de ser responsável da derrota do Iº Exército do Loire – é nomeado comandante da Guarda Nacional.
- 10 de março: Revogação da moratória do pagamento de rendas. O soldo dos Guardas Nacionais é suprimido. A Assembleia decide estabelecer-se em Versalhes.
- 11 de março: O general Vinoy, comandante das tropas de Paris interdia vários jornais republicanos.
- 10/15 de março: Constituição do Comité Central da Guarda Nacional.
- 17 de março: O Conselho de Ministros presidido por Thiers decide apropriar-se dos canhões que estão em Montmartre e prender os principais líderes revolucionários.
- 18 de março: Início da revolta da Comuna. A apropriação dos canhões falha. A tropa confraterniza com os insurgentes. Os generais Lecomte e Clément Thomas são fuzilados. As autoridades evacuam Paris e o Comité Central da Guarda Nacional instala-se na Câmara Municipal.
- 19 de março: Proclamação da Federação da Guarda Nacional: o Comité Central da Guarda Nacional anuncia eleições para a Comuna.
- 19/24 de março: Falhanço das negociações entre os presidentes dos arrondissement e os deputados de Paris, por um lado, e o Comité Central da Guarde Nacional, por outro, para evitar a guerra civil. Os presidentes dos arrondissement são recebidos com vaias na Assembleia Nacional.
- 22 de março/4 de abril: Comunas noutras zonas de França: em Lyon (22-25 de março), em Marselha (23 de março a 4 avril), em Narbonne (24 de março), em Toulouse (24-27 de março), em Saint-Étienne (24-28 de março), em Creusot (26 de março).
- 26 de março: Eleições na Comuna de Paris.
- 27 de março: Instalação da Comuna de Paris.
- 28 de março: Proclamação, na Câmara Municipal, da Comuna de Paris.
- 29 de março: A Comuna nomeia dez comissões. Abolição do recrutamento obrigatório e dos exércitos permanentes. Regresso à situação anterior dos pagamentos de rendas e da suspensão de venda de objetos penhorados.

- 2 de abril: Separação da Igreja e do Estado. Ofensiva surpresa dos Versalheses em Courbevoie.
- 3/4 de abril: Falhanço da tentativa de contra-ofensiva dos federados em Rueil, Bougival e Châtillon. Flourens e Duval são feitos prisioneiros e fuzilados sem julgamento.
- 6 de abril: Em resposta à execução, a Comuna vota o decreto do reféns. Mac Mahon é nomeado comandante-chefe do exército de Versalhes.
- 11 de abril: Constituição da União das Mulheres para a Defesa de Paris e para os Cuidados aos Feridos.

- 12 de abril: Decreto sobre as dívidas: todos os processos são suspensos.
- 16 de abril: Decreto sobre a requisição de oficinas abandonadas.
- 17 de abril: Moratória sobre os créditos.
- 19 de abril: Voto da Declaração ao povo francês.
- 24 de abril: Requisição das habitações abandonadas.
- 27 de abril: Decreto que interdita o sistema de multas e retenções de salário por parte dos patrões.
- 28 de abril: Publicação do Apelo ao povo do campo. Proibição do trabalho noturno nas padarias. Formação de uma comissão para organizar o ensino laico, primário e profissional.
- 30 de abril: Demissão de Cluseret, delegado da Guerra, substituído pelo coronel Louis Rossel.

- 1º de maio: Criação do Comité de Salvação Pública.
- 7 de maio: Devolução gratuita dos objetos penhorados no Montepio e de valor inferior a 20 francos.
- 9 de maio: Tomada do forte de Issy pelos Versalheses.
- 10 de maio: Demissão de Rossel, substituído no dia seguinte por Delescluze.
- 15 de maio: Apelo da Comuna às grandes cidades de França. Secessão da minoria da Comuna que recusa as derivas autoritárias do Comité de Salvação Pública.
- 16 de maio: Demolição da Coluna Vendôme que celebra Napoleão e a vitória na batalha de Austerlitz.
- 19 de maio: Decreto de laicização do ensino.
- 21 de maio: As tropas de Versalhes entram em Paris pela porta de Saint-Cloud. Delescluze lança um apelo à la Resistência.
- 21/28 de maio: Semana Sangrenta: milhares de communards são executados sem julgamento. Massacres e incêndios. Os reféns são executados. Últimas barricadas no leste de Paris.
- 29 de maio: Rendição do forte de Vincennes que estava nas mãos de communards mas que não tinha participado na guerra civil. Vários oficiais são fuzilados.

- Junho: Julgamentos em “Conselho de Guerra”.

- 28 de novembro: Execução de Rossel, de Ferré e do sargento Bourgeois no campo de Satory.

1872: O rescaldo da Comuna

- 14 de março: Dissolução geral das Guardas Nacionais. Lei que interdita a filiação à Internacional.

- 3 de maio: Partida dos primeiros deportados para a Nova Caledónia.

- 30 de janeiro: Votação da emenda Wallon na Assembleia Nacional reforça o caráter republicano do Estado francês. Nas eleições de 1876, os republicanos conseguirão obter uma sólida maioria.

1879 et 1880: Amnistia e primeira comemoração da Comuna

- 3 de março de 1879: Voto de uma lei de amnistia parcial.

- 23 de maio de 1880: Primeira comemoração da Comuna junto ao muro dos Federados.

- 11 de julho de 1880: Vote de uma lei de amnistia total.


Cronologia elaborada pelos Amigos e Amigas da Comuna de Paris a partir da obra de Claude Latta: “A Comuna de 1871 – O acontecimento, os homens e a memória”.

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Neste dossier:

Comuna de Paris, os 72 dias que mudaram o mundo

Os 150 anos da Comuna de Paris são o pretexto para analisar a primeira experiência de autogoverno operário, os debates que suscitou, as esperanças que alimentou e a forma como continua a ser uma inspiração. Dossier organizado por Carlos Carujo.

A chamada Geração de 70 foi influenciada pela Comuna de Paris.

A Receção da Comuna de Paris de 1871 em Portugal

A insurreição parisiense teve enorme impacto numa certa elite intelectual jovem que se afirmaria nas letras e na política. Do outro lado, a imprensa monárquica, conservadora e clerical abominou-a, vulgarizando as figuras como um bando de revoltosos que queriam acabar com a ordem. Por Tiago Rego Ramalho.

Ilustração sobre a resistência à apropriação dos canhões de Montmartre por Thiers, o momento que despoletou a revolta que originou a Comuna. Foto de Wikimedia Commons.

A alternativa possível da Comuna de Paris

Paris demonstrou que era necessário perseguir o objetivo de construir uma sociedade radicalmente diferente da capitalista. Ainda que “o tempo das cerejas” nunca tenha chegado para os seus protagonistas, a Comuna encarnou a ideia abstrata e a transformação concreta ao mesmo tempo. Por Marcello Musto.

Barricada no cruzamento das avenidas Voltaire e Richard-Lenoir. Biblioteca histórica da Cidade de Paris/Wikimedia Commons.

A cronologia da Comuna de Paris

Data a data, uma compilação dos principais acontecimentos desde a guerra franco-prussiana, à vitória da Comuna até ao seu rescaldo.

Banco de França. Imagem da instituição.

A Comuna de Paris, a banca e a dívida

Um governo popular não pode ficar paralisado diante do mundo financeiro, deve tomar medidas radicais em relação ao banco central, bancos privados e dívidas. Se não o fizer, está condenado ao fracasso. Por Eric Toussaint.

Ilustração sobre a Comuna de Paris. Fonte: Site da Gauche Anticapitaliste.

A Comuna de Paris e os debates que suscitou

Marx, Trotsky, Lenine foram alguns dos que pensaram sobre a Comuna de Paris. Mas esta primeira tentativa de emancipação social dos oprimidos permanece de uma espantosa atualidade e merece alimentar a reflexão das novas gerações. Por Michael Löwy.

Pormenor da capa de Communal Luxury: The Political Imaginary of the Paris Commune de  Kristin Ross.

Comuna de Paris: rebelde, polémica e atual

No seu livro Communal Luxury: The Political Imaginary of the Paris Commune, Kristin Ross sugere que esta revolta antecipou visões contemporâneas sobre Arte e Ecologia e que as diferenças entre marxistas e anarquistas eram menores que se pensa.

Ilustração de foto de Eugene Pottier, membro da Comuna e autor de várias músicas sobre ela.

«Ela não morreu»: as canções e a Comuna de Paris

Uma pequena viagem pelas canções da Comuna de Paris, para ler e para ouvir, permite compreender aspetos diferentes dos acontecimentos, entender a ressonância e a originalidade histórica da Comuna, a sua coragem e a sua atualidade. Por Pedro Rodrigues.

Mulheres na barricada da Place Blanche na Semana Sangrenta. Litografia do Museu de Carnavalet/Imagem Wikimedia Commons.

Mulheres na Comuna: “eram mais monstruosas porque sendo mulheres transgrediam tudo”

Estiveram no despoletar do movimento e até ao final nas últimas barricadas mas têm sido invisibilizadas. Os seus nomes esquecidos e os seus contributos menorizados. E no seio do movimento operário da época enfrentavam hostilidade de muitos grupos. Entrevista à historiadora Mathilde Larrère.

Louise Michel.

Memórias da Comuna

Figura lendária da Comuna de Paris, Louise Michel traz-nos, neste excerto, quadros desgarrados das barricadas: de insensatez, de crueldade, de cobardia. Mas também e sobretudo da coragem dos “federados”.

La paye des moissonneurs, Léon-Augustin Lhermitte, 1882.

A Comuna fala aos camponeses: Irmão, enganam-te!

A Comuna não foi só Paris mas todas as outras experiências comunais foram rapidamente derrotadas. Os operários da capital não pararam de tentar contactar com o resto do país. Este texto, tornado panfleto, que apelava à solidariedade dos camponeses, é disso exemplo.

Congresso de Genebra da AIT.

A Comuna e a Primeira Internacional

Antes da Comuna, os líderes franceses da AIT eram perseguidos mas as secções da organização contavam com milhares de membros. Durante a insurreição, os seus membros vão desempenhar um papel importante na obra social realizada pela Comuna. Por Yves Lenoir.

Muro dos Federados. Foto: Rama/Wikimedia Commons.

150 anos depois, a batalha em França é pela memória da Comuna

As comemorações dos 150 anos foram polémicas reavivando a batalha pela memória. Monumentos como o Sacré-Coeur, construído para expiar os “ pecados dos federados” também não a deixam esquecer. E movimentos sociais como os coletes amarelos levantam questões sobre se serão herdeiros da Comuna.