Colapso financeiro ameaça economia global

23 de dezembro 2008 - 0:00
PARTILHAR

Num relatório divulgado em Outubro pelo Banco de Inglaterra, o valor das perdas sofridas pelos bancos, seguradoras e fundos de investimento é equivalente a 5% do valor Produto Interno Bruto mundial: 2,8 biliões de dólares, com mais de metade a pertencer aos bancos norte-americanos.



A crise do subprime, motivada pela incapacidade de muitas famílias de pagarem os empréstimos contraídos para a compra de casa própria, já anunciava o colapso num sector financeiro dependente da especulação com produtos complexos que, como se veio a saber mais tarde, quer os compradores quem mesmo os vendedores desconheciam a sua composição. Os detalhes sobre a ganância dos administradores dos maiores bancos, que camuflavam as contas e o risco destas operações, e sobre a incompetência da vigilância sobre o sistema financeiro, no caso da supervisão e das auditorias obrigatórias, mostraram ao mundo como o capitalismo se transformou num autêntico casino.



Os líderes políticos mundiais correram em apoio do sistema financeiro, aprovando planos de injecção de capital em montantes nunca vistos. Mais de 700 mil milhões de dólares foram aprovados no Senado norte-americano para limpar os activos dos bancos e atirar fora o "lixo tóxico", produtos financeiros agora sem qualquer valor. Faliram grandes bancos como o Lehman Brothers ou o Washington Mutual, enquanto outros, como o Bear Sterns, Merryl Lynch foram absorvidos por bancos ainda maiores, como o JP Morgan. Já em Novembro, o secretário do Tesouro Henry Paulson afirmou que o dinheiro afinal não seria usado para comprar "activos tóxicos", mas sim acções de empresas em dificuldades, destinando uma fatia dos 700 mil milhões ao auxílio a várias construtoras automóveis, como a Ford ou a General Motors.



Ao todo, e de acordo com o citado relatório do Banco de Inglaterra, os governos gastaram mais de 1,1 bilião de dólares em ajudas ao sistema financeiro. E pela primeira vez em muitos anos, a palavra "nacionalização" voltou ao léxico do debate sobre as escolhas económicas. Nos Estados Unidos foi nacionalizada a maior seguradora do mundo, a AIG. Em Inglaterra, teve igual sorte o banco Bradford & Bingley, oito meses depois do Northern Rock, com o Estado a comprar boa parte das acções do Royal Bank of Scotland e a generalidade dos países europeus interveio com milhões em ajudas à banca. O caso mais grave aconteceu na Islândia que em poucos dias entrou em bancarrota, nacionalizando os três maiores bancos e recorrendo ao auxílio internacional para evitar o colapso da economia.



Outra das consequências da crise foi a mudança de discurso por parte dos mais fervorosos defensores das privatizações, da "mão invisível do mercado", da desregulamentação e desmantelamento dos serviços públicos. A grande maioria converteu-se em poucos meses em acérrimos defensores da regulação e até de medidas de intervenção estatal que bem poderiam ter sido enunciadas em qualquer edição do Fórum Social Mundial. "Eu enganei-me ao presumir que os interesses próprios das organizações, em especial os bancos e outras, faziam com que fossem elas as mais capazes de proteger os seus accionistas e os capitais próprios das suas empresas", admitiu Greenspan, um dos mais fervorosos defensores da desregulamentação dos mercados durante os 18 anos do seu mandato à frente do banco central dos EUA.



Nos meses que se seguiram às primeiras falências dos gigantes da banca dos EUA, esta crise provocou a queda generalizada nas bolsas mundiais, que recuaram vários anos nos seus índices de referência. A expectativa da recessão e quebra no consumo também deu origem a uma forte queda do preço do petróleo.

Termos relacionados: