Francisco Louçã

Francisco Louçã

Professor universitário. Ativista do Bloco de Esquerda.

Durante o último fim de semana, o Governo dedicou três desmentidos - em quatro comunicados - ao Bloco de Esquerda. Tanto frenesim pode parecer estranho, e é mesmo. O Ministério da Saúde fez dois comunicados, o da Educação um e o do Ambiente outro. O Secretário de Estado do Ambiente foi despachado para a RTP, para uma resposta que pretendia acusar-me de "mentir". Os outros comunicados afinavam pelo mesmo diapasão.

Não sei se haverá prova mais evidente da irresponsabilidade das políticas de mercado do que esta ignorância acerca das suas vítimas: o aumento do endividamento e da pobreza e o aumento do desemprego - com a redução das prestações sociais - são apresentados nos jornais económicos ou nos discursos ministeriais como dois factos sem qualquer relação.

Vasco Pulido Valente ficou irritado porque respondi à sua crónica no Público. VPV não gosta de ser contradito. Espalhou por isso a sua irritação em letra de forma, o que já é dizer pouco.

Vasco Pulido Valente voltou (PÚBLICO, 12 de Agosto) a um dos seus temas recorrentes: mostrar que o "bloco" é uma doença e que o seu contágio é pernicioso. Não é novidade. VPV aborrece-se com o Bloco, e quando chega o Verão isso afecta-o mais ainda. VPV não gosta da roupa dos deputados do Bloco. VPV abomina as ideias dos fundadores do Bloco. VPV acha-me "fradesco" e declara que já "ninguém" suporta a minha voz. VPV acha o Bloco "gordo, careca, velho, respeitável e oco" e portanto, à beira do seu fim, que será a integração no governo do PS.

O professor Marcelo Rebelo de Sousa é uma das únicas pessoas neste país que é ao mesmo tempo uma instituição. Acarinhamos os seus gestos, a sua intriga, a sua maledicência, as suas insinuações, como os seus raciocínios e informações. Habituámo-nos a ele, é tudo.

Na sequência dos resultados eleitorais em Lisboa, tanto o PSD como o CDS mergulharam numa crise vertiginosa. Era de esperar. O PSD tem o pior resultado de sempre, depois de ter governado a Câmara durante 6 anos, de ter escolhido Carmona para presidente e de se ter desentendido com ele. E, no PSD, o desgaste da direcção é muito acentuado e todas as oposições preferem a substituição de Marques Mendes. O CDS não elege, pela primeira vez na sua história, e percebe-se que teria tido mais hipóteses com a vereadora que abandonou o partido, Maria José Nogueira Pinto. Paulo Portas quis testar a sua liderança e perdeu. Era portanto de prever que os dois partidos de direita entrassem em convulsão.

É crónico e não é de hoje: em Portugal fazem-se muitas piadas, tanto com questões sérias e dramáticas como, por maioria de razão, com o que tem piada. E é sempre assim, os governos não acham graça. No entanto, é difícil encontrar um governo que, como o actual, deteste tanto as piadas que provoca.

A última reunião do Conselho de Ministros tomou uma decisão histórica: abrir o processo de privatização da empresa Estradas de Portugal. A razão é simples: pacto de estabilidade e crescimento. Não é uma ideia nova, nem é boa - pelo contrário, é um escândalo que demonstra por onde caminha a política de privatizações.

A história conta-se em poucas palavras. Uma criança de quatro anos, filha de pais russos, mas nascida em Portugal, foi acolhida por uma família portuguesa. Aprendeu a falar português como língua materna e só conhece os seus pais de acolhimento. Mas o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras quer expulsá-la.

23.30 (dia 29). Piquete de greve no Metro, Marquês de Pombal. Umas boas dezenas de trabalhadores, homens e mulheres, estão no piquete. A greve começa à meia-noite, e a empresa tenta forçar o funcionamento das linhas de metro entre a meia-noite e a uma, para depois retomarem às seis da manhã. O primeiro embate faz-se portanto no primeiro minuto da greve. Com o piquete estão alguns trabalhadores que tinham ido para trabalhar, porque temiam a represália e não são sindicalizados - mas aceitam fazer greve e ficam com os seus colegas. Há vários sindicatos representados, com algumas diferenças de opinião, mas que chegaram a um acordo: não se cumprem os serviços mínimos.