No entanto, bem vistas as coisas, as suas derrotas são mais por incapacidade própria do que por força do PS. Com António Costa, o PS conseguiu mais um vereador e mais 2% do que nas eleições anteriores, quando a campanha de Carrilho se desagregou. Com seis eleitos, está demasiado longe de uma maioria absoluta. Mais: o PS tem uma votação comparável à dos dois candidatos PSD, Carmona e Negrão, somados. Isto não quer dizer que o PSD poderia ter ganho, porque a aritmética sabe pouco de política - pelo contrário, o PSD perderia sempre com Negrão, mas com uma lista unificada poderia pelo menos ter um candidato mais forte e ficaria colado ao vencedor.
Assim sendo, foi por derrocada interna que os dois partidos de direita perderam as eleições. As suas lideranças não têm credibilidade. E não têm credibilidade porque não têm política alternativa à do Governo Sócrates. De facto, quando os lugares-tenentes de Paulo Portas se apressam a justificá-lo e a encenar o seu silêncio com o argumento de que é preciso reflectir sobre as condições da política de oposição no regime actual, a verdade da sua vergonha é que a direita não consegue distinguir-se do envolvimento social das elites dominantes pela política do governo. O sucesso de Sócrates com essa elite pulveriza os esforços das direitas.
Por isso mesmo, os resultados à esquerda são interessantes. Helena Roseta começou com sondagens de mais de 20% e terminou com menos de metade, mas ainda assim com uma votação muito assinalável e que representa tanto algumas linhas de contestação à política urbana em Lisboa como sobretudo um voto de desconfiança em relação ao PS. A CDU e o Bloco perdem um pouco para Roseta, mais a CDU do que o Bloco, mas mantêm o grosso da sua votação, e a CDU consegue ainda eleger o seu segundo vereador, mesmo que por uma curta margem de votos. No total, estas três listas quase igualam a votação do PS, malgrado as suas diferenças.
A lição destes resultados é que a crise das direitas tem um sentido profundo. Esgota o seu espaço político, porque hoje têm pouco espaço social. E, por isso, o mais interessante da política futura é saber se a alternativa à esquerda consegue responder a esta crise social e ao vazio da política. Ora, as esquerdas estão a passar e vão passar por grandes alterações e por grandes mudanças.
Mudanças no movimento sindical, que precisa de ser mais aberto e socialmente envolvente. Mudanças na definição dos contornos dos projectos estratégicos, nomeadamente na resposta ao Tratado Europeu que reconduz o liberalismo e introduz a flexigurança. Mudanças na acção social, para que a esquerda socialista ganhe mais representação popular, e seja protagonista de uma política de acção.