Ora, é precisamente a crise do emprego que agrava a crise social que o endividamento já demonstra. Nos últimos seis anos, mais de 50 mil famílias deixaram de pagar as suas prestações ao senhorio, que são os bancos. Esse número vai-se agora agravar com o anunciado aumento contínuo das taxas de juro.
O mercado pune assim por duas vezes os mais fracos. Por um lado, a contenção salarial implica manter níveis muito baixos de rendimentos, ou mesmo a perda ao longo dos anos, como acontece com os funcionários públicos. A contenção é ainda o argumento para diminuir a cobertura do subsídio de desemprego e para reduzir as futuras pensões de reforma, obrigando ainda os trabalhadores a prolongarem a sua carreira contributiva. Mas, por outro lado, o mercado pune ainda os trabalhadores porque lhes impõe o aumento do desemprego e custos sociais maiores, com a subida dos juros para a compra de habitação.
O programa que o Bloco de Esquerda apresentou esta semana responde directamente a esta crise. Prova que é possível e necessário mobilizar recursos públicos para apoiar as famílias mais atingidas, em particular as que foram confrontadas com o desemprego. As três medidas determinam a criação de um sistema de juro bonificado para famílias atingidas pelo desemprego e para famílias que estão a comprar habitação social, e determinam ainda o aumento das bolsas da acção social escolar nesses casos.
O governo actua precisamente no sentido inverso. Veja-se o exemplo dos empréstimos para os estudantes. A solução Sócrates é simples: os estudantes endividam-se e, se por exemplo pedirem 25 mil euros, pagarão dez anos depois de terminarem o curso cerca de 37 mil, quase 150%. Acabam o curso e ficam logo dez anos endividados, tenham ou não emprego. Quem beneficia? Os bancos.
É tempo de devolver às vítimas deste sistema financeiro o poder de responder.
