Alguma imprensa manifestou espanto e procurou os socratólogos, especialistas em interpretação das manobras governamentais. Parece-me que perdem tempo, porque o caso é simples. O governo não gosta de ser contrariado, não admite ser desmentido pelos factos, assusta-se quando é apanhado em negócios. E foi simplesmente isso que aconteceu.
Aliás, os três desmentidos confirmam por inteiro as críticas e acusações que o Bloco apresentou.
O primeiro desmentido é da Saúde. E confirma exactamente a minha acusação, acrescentando mesmo algo mais grave: pelo comunicado do ministério, ficamos a saber que o coordenador nacional dos serviços cardio-vasculares não só é mesmo o responsável pela instalação de um serviço cardio vascular na nova unidade dos Hospitais Privados de Portugal, como ficamos ainda a saber que ele terá sido o único a achar duvidosa a acumulação, a pedir instruções ao ministério - que o incentivou a continuar. Como o próprio explicava à Antena Um, é hoje o responsável por contratar médicos e comprar equipamentos para esse hospital privado, ao mesmo tempo que, segundo o acto de nomeação, "lidera a estratégia do ministério da saúde" para as questões cardio-vasculares.
O segundo desmentido é da Educação. E confirma que o director-geral da Nestlé é mesmo o director executivo de um programa de aulas extra-curriculares para crianças dos 6 aos 11 anos, sobre publicidade. O governo afirma agora que "director executivo" quer dizer simplesmente que financia a operação. Esclareça-se que a empresa que dará as aulas, que é formada por uma parceria Nestlé-Danone-Kellogs e outros, pretende abranger 100% da população escolar dentro de menos de dez anos.
O terceiro desmentido é do Ambiente. Dizia o ministério que a pedreira da Secil na Arrábida só poderá crescer em profundidade - duplicar a volumetria, de facto. Esse era precisamente o facto que o Bloco denunciou e que o governo confirmou. Ontem mesmo foi dada a ordem para que o ICN aceitasse o negócio e está feito.
Portanto, nos três casos, os desmentidos do governo confirmaram os factos e as acusações do Bloco. E não respondem por isso à acusação mais grave: o governo governa para interesses, usando o que é público e devia ser de todos como um benefício para alguns. Por isso é que Sócrates deu instruções aos seus ministros para bombardearem o Bloco com desmentidos e mentidos.
