Bruno Maia

Bruno Maia

Médico neurologista, ativista pela legalização da cannabis e da morte assistida

O Orçamento de Estado apresentado pelo PS, que lhe valeu elogios de muitos sectores de direita por “ser o mais à esquerda de sempre” – Marques Mendes dixit, merece ser analisado mais profundamente. Vamos à saúde.

A Ministra quer começar a exclusividade por aqueles a quem já a propôs, a retirou e agora quer propor novamente...! O regime de exclusividade que agora pulula nos Orçamentos do Estado já existiu no passado mas foi abandonado... precisamente num Governo do PS em 2009!

Nas últimas décadas, a empresarialização dos hospitais convocou um movimento intenso de outsourcing de serviços. Mais ainda: a empresarialização multiplicou o recurso ao trabalho temporário dos próprios profissionais de saúde.

Só um centro de vacinação foi entregue a um privado. Cortesia de Rui Moreira, com a anuência (pelo menos passiva) do governo. A multinacional suíça é dirigida em Portugal por Luís Menezes, ex-deputado pelo PSD.

Em conjunto, estas 9 pessoas conseguiram ver a sua fortuna aumentada em 19,3 mil milhões de dólares. Seriam apenas números, iguais a tantos outros que nos demonstram a sempre crescente desigualdade no mundo, não fosse a tragédia que se vive em alguns países mais pobres com a pandemia.

Defender a manutenção das patentes das vacinas da Covid-19 está, atualmente, fora de qualquer lógica racional (para além do fundamentalismo liberal). Os argumentos são inexpugnáveis e inultrapassáveis. A realidade é auto-evidente.

Os médicos estão a mudar, pelas suas gerações mais novas. E essa é a tragédia da elite conservadora que tem dominado as suas estruturas dirigentes: têm os dias contados!

A ideologia salazarista da “saúde entregue aos privados” era sustentada, nas palavras do próprio Salazar, na ineficácia da gestão pública e na superioridade da gestão privada. Foi necessária a revolução de Abril para transformar o papel do Estado na oferta de cuidados de saúde.

Remdesivir, o medicamento contra a covid-19 de que todo o mundo falava no início desta pandemia, é produzido pela Gilead. Quando a empresa percebeu o potencial de lucro que poderia vir a ter com este medicamento pediu ao regulador dos EUA o “estatuto de medicamento órfão”.

Em 1996, a Pfizer enviou uma equipa para Kano, na Nigéria, onde estava a ocorrer um surto de meningite. A empresa queria testar um antibiótico novo, o Trovan, e viu o surto como uma oportunidade. Deste ensaio resultou a morte de 11 crianças e mais terão ficado com paralisia cerebral.